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Astrologia: Importância da figura paterna na primeira infância

Relações entre Sol, Lua e Saturno revelam vínculos entre pais e filhos

Atualizado em

Hoje em dia os pais são retratados nas propagandas de televisão como aqueles homens parceiros, amigos dos filhos, que brincam, participam, riem e crescem juntos. Mas essa é uma representação recente da figura paterna.

Nem sempre foi assim. Ao longo de quase todo o século XX, a figura paterna esteve associada à provisão financeira, estrutura, limite, rigor.

O pai era aquele que não era questionado, que era obedecido, que saía pela manhã para trabalhar e voltava à noite, quando a casa e os filhos haviam sido cuidados durante todo o dia pela mãe.

A mãe cuidava, o pai estabelecia limites. Quem nunca ouviu (e temeu) a frase: “Se você não me obedecer, vou contar pro seu pai!”?

De alguma maneira, o pai sempre esteve também associado direta ou indiretamente a poder: ao nos dar um sobrenome, ele determina que papel teremos no mundo e, consequentemente, que poder teremos ou não sobre ele, que posição social ocuparemos.

No passado, isso determinava se éramos senhores feudais ou escravos, aristocratas ou plebeus. E hoje não é muito diferente: há sobrenomes que por si só abrem muitas portas, e outros que fecham.

Com o sobrenome do pai vinha – e vem – uma serie de adjetivos e condições de vida que precisam ser respeitadas por aquele que o recebe, por aquele que nasce sob aquele “destino”.

E aqui encontramos outro significado para a figura paterna, relacionada à hereditariedade, aos laços de consanguinidade: o destino. Segundo o pai que temos, também temos predeterminados na esfera social e política o nosso destino.

Figura paterna e Astrologia

Todas as palavras tão ampla e largamente associadas à figura paterna ao longo de décadas – autoridade, futuro, destino, reputação, lugar social, segurança, estrutura, provisão, rigorosidade, lei – são também palavras associadas na Astrologia a Saturno e Capricórnio, e se relacionam de imediato com os significados representados pela Casa 10 no Mapa Astral.

Foi só no final do Século XX, início do Século XXI que nos encontramos com uma representação social mais amigável, generosa, participativa, equitativa para a figura paterna.

Uma figura, em termos astrológicos, mais… Jupiteriana.

Se nos referimos à roda astrológica, encontramos uma relação estreita com as leituras da Casa 4 e seu regente natural, a Lua (Câncer), e a Casa 10 e seu regente natural, Saturno (Capricórnio).

As casas 4 e 10 estão posicionadas no zodíaco de maneira diametralmente opostas, a 180 graus de distância uma da outra. Consequentemente, também o estão os signos Câncer e Capricórnio, relacionados por analogia as casas 4 e 10.

Seus planetas regentes, Lua e Saturno, se encontram em exílio no signo regido pelo outro (a Lua se exila em Capricórnio e Saturno se exila em Câncer – e também em Leão).

Quando olhamos os significados de ambas as casas, encontramos que a casa 4 e a Lua se referem à nossa primeira infância, à nossa mãe (a que tivemos e a que seremos), à nutrição (como fomos alimentados, de que nos alimentamos e como alimentaremos), ao passado, às emoções, ao lado feminino de cada um de nós.

Por outro lado, Saturno e a casa 10 simbolizam figuras de autoridade, profissão, chefes, responsabilidade (as que recebemos da vida e como nos responsabilizamos pelas coisas), estrutura, recursos, provisão, imagem pública, reputação, carreira.

Assim como a maneira como fomos nutridos em nossa infância determinará o quanto seremos bons nutrindo os demais, também o tipo de autoridade que tivemos de nosso pai nos primeiros anos de nossa vida determinará como nos relacionaremos com as figuras de autoridade e responsabilidades no futuro.

Segundo a teoria da psicanálise lacaniana, o vínculo do filho com a mãe (Lua) é um vínculo forte e importante para a construção da personalidade individual, mas é um vínculo que pode impedir o crescimento do indivíduo se não for cortado no momento certo da maturação individual.

A relação mãe x filho, segundo Freud (base de Lacan) é uma relação quase visceral: o filho acredita até determinada idade que a mãe é uma extensão do seu próprio corpo, e é só com o amadurecimento físico e das funções cognitivas que vai entendendo que ela é um ser diferente a ele.

Na medida em que aumenta a sua consciência desse fato incontestável, aumenta também seu sentimento de posse em relação a sua progenitora, entre outras coisas, por medo de que lhe falte sua fonte de segurança: sem a mãe sua própria existência está ameaçada.

Aqui seria, segundo Lacan, quando entra em cena a tão necessária figura do pai, autoridade externa a essa relação visceral (Saturno, casa 10) que vem cortar esse vínculo (Lua, casa 4) para que tenha lugar um outro tipo de relação mãe x filho.

A simples existência do pai na relação familiar mostra ao filho que aquela mulher não é sua, e mostra à mãe que aquele ser não lhe pertence.

“Separando” o filho da mãe, permite que o filho possa crescer fortalecido e sair ao mundo em busca de uma mulher que “seja como” mamãe, mas que não seja ela, que seja outra.

Lacan elabora um pouco mais e diz que ao ser autor desse corte, que se dá a nível inconsciente para todas as partes, o pai está garantindo ainda à mãe um lugar de mulher, de esposa, sem deixá-la circunscrita exclusivamente à função materna.

Os efeitos e ensinamentos da Primeira infância

Poderíamos dizer, então, que o eixo 4-10 (pai – mãe / vida social – vida privada) do mapa fundam a nossa existência como seres humanos, ou seja, sustentam o eixo 1-7 (eu – o outro).

Será a partir do que recebermos e vivermos em nossa casa 4 que seremos mais ou menos capazes de construir uma casa 10 bem sucedida, bem estruturada.

Será de acordo com o que recebermos física e emocionalmente em nosso primeiro lar, em nossa primeira infância, que seremos mais ou menos capazes no que respeita à vida social e profissional.

Tão determinante como tudo isso possa ser na personalidade do ser humano, as relações no mapa entre Sol, Lua e Saturno ajudarão a identificar claramente que tipos de relações com o pai e com a mãe a pessoa vivenciou em sua primeira infância, e como isso afetou sua personalidade.

Em função da disparidade entre suas energias, Saturno não funciona bem em nenhum aspecto com o Sol ou com a Lua.

Os aspectos poderão ser mais maleáveis e fáceis de administrar se forem harmônicos (trígonos ou sextis), mas, ainda assim, não serão afins, o que sempre gerará algum desconforto na manifestação da energia.

Saturno em trígono com a Lua, por exemplo, gerará a mesma resposta automática de auto-proteção emocional que gera uma oposição entre os mesmos corpos celestes.

A diferença é que no trígono a pessoa age assim porque acredita que sentimento é coisa séria e que para pisar neste terreno é preciso intimidade e confiança com o outro, enquanto que na oposição o dono do aspecto assim o faz porque entende que demonstrar o que sente é sinal de fragilidade, e que diante do mundo é preciso ser forte.

Provavelmente, em ambos os aspectos, haverá em algum nível a percepção de um vazio emocional, de solidão e de falta.

Entretanto, em aspectos harmônicos, o nativo tentará compensá-la por si próprio, ao passo que em aspectos tensos, é provável que essa falta seja cobrada do outro, gerando conflitos nas relações.

A mãe de ambos os indivíduos será contida na demonstração de afeto aos filhos, estruturada e rigorosa, porém, o indivíduo que possui o trígono a perceberá como séria, forte e confiável, e o indivíduo que possui a oposição a verá como fria, ausente e muito exigente.

As características apresentadas por ambas as mães não mudarão muito: a diferença está em como cada indivíduo percebe a maneira dela de se relacionar com os próprios sentimentos, e como transportam isso para suas próprias vidas.

Um Saturno bem posicionado no mapa por signo e/ou por casa, sem aspectos tensos com os luminares (Sol ou Lua) garante uma boa relação com as autoridades na vida adulta, e costuma favorecer uma atitude responsável em relação às diversas áreas da vida do nativo.

Um Saturno na Casa 4, por exemplo, costuma ser encontrado no mapa de pessoas a quem faltou esse sentimento de aconchego e contenção no lar de origem, e que ao crescer, saiu em busca de formar o próprio clã.

Nesta casa, Saturno costuma indicar uma dificuldade na relação com os pais e com a família na primeira infância, situação que provavelmente se reverterá com a chegada da maturidade emocional e com a formação da própria família.

Quando em aspectos tensos com o Sol, ou em seus signos de queda / exílio (Câncer, Aries ou Leão), Saturno se manifestará, muitas vezes, como uma dificuldade para aceitar autoridade, dificuldade para se impor ou como uma dificuldade para avaliar qual a responsabilidade que nos corresponde nas diferentes situações da vida (Saturno / Sol).

Mulheres com aspectos natais tensos entre Saturno e Sol, por exemplo, provavelmente tiveram na infância uma figura paterna de pouca relevância no contexto das responsabilidades e atividades da família, o que resulta em uma atitude diante da própria vida que pode chegar a desvalorização da capacidade masculina de administrar e resolver problemas.

São mulheres que tem dificuldades em dividir responsabilidades e em confiá-las ao parceiro.

Elas podem acumular títulos universitários e auto-suficiência, mas costumam inconscientemente desmasculinizar o homem ao seu lado.

Diante de tudo isso, cabe a pergunta: o que funciona melhor na formação da personalidade individual? Um pai permissivo, generoso, participativo ou um pai educativo, rigoroso, restrito e justo? A verdade é que ambos são necessários para a criação de um ser humano em equilíbrio.

Se pensarmos que na roda zodiacal Júpiter (regente de Sagitário e da Casa 9) vem antes de Saturno (regente de Capricórnio e da Casa 10), poderíamos inferir que antes de ter Saturno (ou seja, rigor, responsabilidade, estrutura) deveríamos ter Júpiter (generosidade, flexibilidade, maleabilidade).

Por outro lado, é só estando de posse de limites, princípios e valores internos bem estruturados que seremos capazes de flexibiliza-los, sem cair em excessos de permissividade ou de rigor.

Assim, proponho a que pensemos em Saturno como algo que ocorre antes de Júpiter: quando estamos, no curso de nosso desenvolvimento, vivendo nossa casa 4, antes de passarmos a Casa 5 (namoros, criações e prazeres), recebemos um corte proferido desde “os céus” (casa 10) direto sobre a gente, em nossa casa 4 e na relação com nossas mães.

Recebemos esse corte que define, determina e nos libera para outra etapa. Sem esse corte, ficaríamos estancados naquela idade psicológica, naquela relação, sem sermos capazes de avançar para a etapa seguinte. Sem essa “quebra” na nossa primeira infância, todo o seguinte não seria possível.

E só é possível ser generoso sem ser anárquico quando ha um conhecimento de base, de princípios e valores morais, de leis, que nos permitam relaxar sem incorrer na perda de controle.

Portanto, com um bom Saturno de base, sejamos todo o Júpiter que queiramos ser.

Marcia Fervienza

Marcia Fervienza

Astróloga e terapeuta há mais de 20 anos. Associa sua experiência com aconselhamentos analíticos ao trabalho com Astrologia para facilitar o autoconhecimento, o empoderamento e a transformação pessoal.

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