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Terapia de casal ou individual: qual é a melhor para problemas de relacionamento

Atualizado em

Alguns já estão chamando a pandemia de 2020 de “a pandemia do divórcio“. Advogados especializados na função afirmam que houve um aumento de 177% nos divórcios nos últimos meses, se comparado ao mesmo período do ano passado.

As causas são variadas, mas certamente a convivência maior e obrigatória que o isolamento social exigiu estabeleceu locou uma lente de aumento em muitos problemas que já existiam na relação, e não eram vistos.

Então, surge uma questão: terapia de casal seria a solução para tantos casais que vêm desistindo de continuarem compartilhando suas histórias? Ou será que é melhor buscar ajuda individual?

O que é a terapia de casal

Trata-se basicamente do processo terapêutico no qual duas pessoas que compartilham uma história decidem buscar ajuda quando percebem algum problema que, a priori, é relacional, ou seja, diz respeito à forma como o casal se relaciona.

Em tese, há uma dinâmica adoecida percebida pelos dois e que os levam a buscar um profissional da área da Psicologia para ajudar a ampliar o olhar de ambos sobre as questões nas quais estão muito envolvidos para lidarem sozinhos.

Mas, na prática, nem sempre é isso que ocorre.

Tipos de terapia de casal

No campo da Psicologia, há diversas abordagens e isto deve ser considerado na decisão pela terapia de casal.

Existe a terapia psicanalítica, a cognitiva, a humanista e a sistêmica. Cada uma percebe o indivíduo a partir de um ponto de vista, e isto dará as nuances de como a terapia será direcionada.

É importante entender as diferenças para escolher qual se encaixa mais no perfil de vocês e que trará os melhores resultados.

Visão sistêmica

Na perspectiva sistêmica, que eu particularmente trabalho, o indivíduo é considerado dentro de um contexto, um sistema no qual está inserido.

Assim, o casal pode ir sozinho para a terapia, mas, inevitavelmente, traz com ele padrões familiares e lealdades inconscientes adquiridas nas suas respectivas famílias de origem.

Cada indivíduo traz uma bagagem para o casamento e o peso dela pode influenciar na relação do casal.

Paolo Menghi, no livro O casal em crise, traduz um pouco desta dinâmica da seguinte forma:

Uma criança procura um pai e uma mãe, mas não os encontra. Quando adulta, quer descobri-los e uma mulher ou em um marido, mas, antes mesmo de começar, já fica brava, porque sabe que não vai encontrar mulheres ou homens perfeitos.

Espera um fracasso, mas pretende um sucesso. Pede algo que não espera obter, exigindo amor de quem não tem como satisfazê-la. Essa batalha pode durar a vida inteira, mas, às vezes, a criança acorda e faz chorar a máscara do velho.

Assim, não é possível desconsiderar onde dói para cada um em sua história de origem. Se isso não for percebido no processo terapêutico, a chance de um ficar culpando o outro pelas suas dores e problemas é imensa.

A ideia é que não existem vítimas e algozes, mas duas pessoas adultas que, através de seus processos inconscientes, fizeram acordos sobre a forma como iriam se relacionar.

Fazer terapia de casal ou individual?

O problema é que, como o casal estabelece esses acordos ocultos, racionalmente, ambos ficam sentindo-se vítimas do outro ou da situação, e não se responsabilizam pelo(s) problema(s) da relação.

E é exatamente por este motivo que nem sempre a terapia de casal é a solução.

Às vezes, os processos individuais tomam um lugar maior e devem ser avaliados individualmente.

Quando apenas um do casal se incomoda e insiste em fazer a terapia de casal, ela se torna pouco produtiva. Justamente porque, se o acordo oculto está sendo respeitado, então o sentimento é que, no fundo, tudo deve ser como é.

A contribuição da Constelação Familiar

Constelação Familiar entra como aliada da terapia sistêmica em alguns casos. Nesta perspectiva, a harmonia no ambiente familiar depende de alguns fatores chamados “Ordens do Amor”, traduzidas pelas leis da ordem, equilíbrio e do pertencimento.

Quando alguma delas está sendo negligenciada, costumam nascer os conflitos nos relacionamentos.

Um relacionamento a dois é baseado no equilíbrio das trocas, e ambos precisam saber dar e receber. Se há desequilíbrio nisso, o casal certamente sente os efeitos.

Além disso, emaranhados de cada um em seu sistema de origem causam a indisponibilidade inconsciente para a relação atual.

Assim, mesmo que pareçam estar presentes e atuando na relação, seja brigando ou se omitindo, no fundo, no inconsciente, estão voltados para outras questões do passado.

Arregace as mangas!

O importante para um casal é que cada um perceba em si o quanto está consciente da situação e se realmente está olhando para o outro.

Se ambos têm a percepção que questões da família de origem interferem de alguma forma na relação, podem cada um fazer a terapia individual com o olhar sistêmico.

Se ainda for difícil para o casal perceber como mudar a relação e realmente olhar para o outro, a psicoterapia de casal entra para auxiliar neste processo.

Lembrando que este é apenas um caminho entre várias possibilidades. É importante avaliar qual faz mais sentido para cada um e para o casal.

Assim, se há um problema, arregace as mangas e busque a solução mesmo que o outro não esteja disposto. Às vezes, quando um faz um movimento de mudança, o outro se movimenta internamente mesmo sem estar conscientemente presente no processo.

Maria Cristina

Maria Cristina

É psicóloga sistêmica. Atua com traumas pela abordagem Somatic Experience® além de abordar outras questões de relações interpessoais, autoestima e postura diante da vida. Atende online e presencialmente na cidade de Belo Horizonte.

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