Pesquisar
Loading...

Aprenda exercício para tomar decisões conscientes

Técnica chamada Constelação Sistêmica usa corpo para ajudar a se livrar das incertezas

Atualizado em

Estava prestes a viajar quando uma cliente me procurou às pressas, com um problema urgente. Em quatro dias teria que tomar uma decisão com grandes repercussões em sua vida e em seu casamento nos próximos anos. Estava diante de duas ofertas concretas de trabalho:

  • Na primeira precisaria mudar de país, o que desejava havia tempos
  • Na segunda teria que morar em outro estado e viver numa cidade sem muitos atrativos

Havia ainda uma terceira opção, “as outras possibilidades”, visto que ela já tinha sido chamada para outras entrevistas de emprego, mas ainda sem uma outra oferta concreta.

Com os pensamentos a mil por hora, estava paralisada pela incerteza e pelo medo do que viria pela frente.

Quando estamos diante de uma situação assim, é como se estivéssemos simultaneamente em vários lugares e, ao mesmo tempo, em nenhum, ou seja, ficamos completamente enfraquecidos pela divisão causada pelo dilema. Sim, as indecisões retiram nossa energia vital! Aí fica difícil ter alguma clareza para tomar uma decisão ponderada.

A indecisão nada mais é do que um conflito entre partes discordantes de nós.

Essas partes são uma espécie de subdivisão do nosso ego, a imagem construída de nós mesmos. Temos um eu-criança, um eu-caprichoso, perfeccionista, orgulhoso etc. São os nossos “idiotas internos”. Em alguns casos esses “eus” se apoiam mutuamente e, às vezes, eles se colocam em xeque.

O primeiro passo é identificar qual parte do nosso “eu” está em conflito – sim, apenas uma parte está sofrendo com aquela determinada questão, pois, para o nosso “eu inteiro”, não há problema e nem divisão. Depois, é interessante perguntar a si mesmo: o que esta parte deseja? O que rejeita? No que está apegada?

Normalmente ficamos estagnados diante de um dilema, pois o processo de escolha resulta em renunciar a todas as outras possibilidades, despedir-se de algo ou de alguém. E frequentemente não estamos prontos para essa despedida e para lidar com suas consequências.

Para conseguir tomar uma decisão lúcida e consciente, é preciso, antes de tudo, cessar o conflito interno. A chave é buscar se esvaziar, por alguns instantes, de qualquer intenção e julgamento.

Isso você consegue por meio do centramento, da Meditação, que nos libera para aquilo que está à nossa frente, o essencial. Cessando o turbilhão mental, podemos voltar a atenção para o nosso corpo, que traz respostas fiéis e imediatas ao que move nossa alma profunda – de forma mais rápida e objetiva que qualquer pensamento racional. Isso exige de nós uma atitude de entrega.

Constelação Sistêmica: a resposta vem do seu corpo

Voltando ao caso daquela cliente: propus a ela se colocar em cada uma das situações analisadas, aplicando a técnica da Constelação Sistêmica para mostrar, de forma vivencial, quais eram as forças inconscientes que a moviam ou que a impediam de tomar uma decisão naquele momento.

Neste tipo de técnica, usamos representantes – podem ser pessoas, objetos, pequenos bonecos e até cavalos – que atuam no lugar dos que estão envolvidos na situação apresentada.

Na Constelação desta cliente foram usadas pessoas para simbolizar os “personagens” reais e as situações.

Escolhi um representante para ela, um para cada uma das ofertas de emprego, um para “as outras possibilidades” e outro representante para seu marido, que também exercia forte influência sobre sua decisão. Funciona como se fosse uma encenação teatral.

Como os representantes agem na Constelação?

Os representantes de uma Constelação Sistêmica agem da mesma forma que as pessoas e as situações representadas, mesmo sem conhecer a questão do cliente. Esse movimento acontece pelo que chamamos de “ressonância morfogenética” – um estado de consciência alcançado por meio de uma Meditação ativa, conduzida pelo facilitador durante a sessão.

Essa postura é fundamental para que os representantes estejam entregues à experiência, totalmente a serviço do sistema do outro. Isso explica a atuação “misteriosa” dos representantes em uma Constelação.

Essas forças que movem os representantes vêm do campo mórfico (também chamado de campo de informação) do cliente – que nada mais é do que um campo invisível no qual ficam armazenados comportamentos, emoções, crenças e fatos ocorridos ao longo da história de vida do cliente e dos membros do seu sistema.

Na prática, ocorreu da seguinte forma: a pessoa que representava a cliente se colocou fisicamente entre as outras quatro, que representavam a “proposta de trabalho A”, a “proposta de trabalho B”, as “outras possibilidade de trabalho” e o marido.

Nesta dinâmica, as pessoas – ou os animais – que participam da representação são movidas por uma força externa, refletindo aquilo que realmente atua por trás de determinada questão analisada. Depois da pessoa que representava a cliente experimentar cada posição, ficou claro que a alma dela não se interessava pelas “outras possibilidades”.

Logo, sua representante colocou-se no meio, entre a primeira e a segunda proposta concreta de emprego. O representante do marido, que inicialmente olhava para a oferta no exterior, logo voltou-se para a esposa, esperando que ela tomasse uma decisão.

Foi curioso ver que sua representante estava sendo fortemente guiada para a segunda opção de trabalho, aquela dentro do próprio país, mas recusava-se a olhar para isso: seu corpo e seu olhar estavam voltados para a proposta no exterior (que, a seus olhos, parecia mais sedutora, mas não trazia segurança, já que o contrato era de um ano e poderia não ser renovado).

Com a evolução do trabalho, identificou-se que por trás de sua resistência em olhar para a segunda opção, existia um sentimento de orgulho. Afinal, ela havia se inscrito para outras vagas disputadas em instituições de renome e criado muita expectativa sobre isso, e aquela oferta não tinha o mesmo prestígio das demais.

Quando reconheceu isso, pôde vencer as resistências internas e finalmente olhar para aquele emprego, agora com mais humildade. Com esse movimento, brotou uma sensação de leveza. Já não havia mais conflito e ela, mais consciente, tomou sua decisão.

Quais sentimentos conflitantes estão impedindo sua tomada de decisão? Para descobrir essa resposta, responda as perguntas abaixo:

  • Que parte dentro de mim está sofrendo? Qual delas têm esse conflito?
  • O que cada um desses “eus” querem? Como cada um deles age?
  • Do que eu não quero abrir mão, me despedir?
  • O que eu rejeito, não quero ver?

Exercício para sair do conflito interno e encontrar sua resposta

Silencie a mente (pode ser meditando, fazendo uma caminhada ou contemplando a natureza) e observe o seu corpo – ouça aqui uma Meditação guiada.

Se você ainda não desenvolveu sua consciência corporal, é possível treinar sua percepção com essa técnica.

Durante cinco minutos, logo antes de dormir e logo após acordar, preste atenção na sua respiração e em todas as sensações físicas que forem surgindo no seu corpo (calor, frio, dor, tensão, formigamento, suor, arrepio, pontadas, etc). Repita diariamente.

Você pode escrever em pedaços de papel as opções que tem para escolher, em relação a um dilema. Embaralhe os papéis e vire-os no chão, com a parte escrita para baixo, de modo que você não saiba o que cada um representa.

E, estando bem centrado, vazio de intenções e de pensamentos, olhe para cada um e perceba o que acontece no seu corpo.

Para onde ele se move? Você pode experimentar se colocar sobre cada um desses papéis para ver quais sensações físicas e emoções aparecem. Perceba em qual deles você se sentiu melhor, mais forte, seguro e estável. E, então, vire o papel para saber a resposta.

Alice Duarte

Alice Duarte

Alice Duarte é facilitadora de Constelação Sistêmica Familiar e Organizacional, com treinamentos internacionais com o alemães Bert e Sophie Hellinger, e os espanhóis Joan Garriga e Brigitte Champetier de Ribes. Desde 2015 facilita processos de autoconhecimento, cura emocional e solução de conflitos nos relacionamentos. É jornalista, mantém um site autoral com artigos em português e é criadora do programa online Por Uma Vida Sem Amarras. Vive em Curitiba, onde trabalha com grupos terapêuticos, workshops, cursos e atendimentos individuais (presenciais e online) de Constelação Familiar e Consultoria Sistêmica Empresarial. Aqui no Personare escreve sobre autoconhecimento e relações humanas.

Saiba mais sobre mim