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Quais são as suas feridas?

Marcas adquiridas ao longo da vida revelam aprendizados

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Quem nunca se machucou e teve uma ferida que deixou alguma cicatriz? Mesmo pequenos machucados podem deixar alguma marca na pele. E ainda temos aquela marca que nós mesmos colocamos, como as tatuagens. Estas são para uma vida inteira, mas ao menos somos nós que escolhemos quando a colocamos. Mas as cicatrizes mais difíceis de serem curadas são aquelas que não são visíveis, ou seja, as marcas que adquirimos ao longo da vida.

Quando crianças, às vezes somos feridos emocionalmente pelos adultos. Pais ou cuidadores podem deixar marcas que caminham conosco durante um longo tempo, mesmo que eles tenham tentado fazer o seu melhor. E quando nos tornamos adultos algumas cicatrizes podem doer, mesmo tendo sido aparentemente curadas. Geralmente quando isso ocorre esquecemos provisoriamente daquela antiga marca. Não associamos a dor do presente com a dor do passado. São aqueles dias que a tristeza chega de repente e sem razão aparente. Alguns querem logo se livrar da dor com algum remédio. Outros tentam ignorá-la e pensar em coisas boas. Mas não tem jeito, se não compreendemos de onde vem aquela dor, ela poderá aparecer com frequência em nossas vidas.

A história das suas cicatrizes

Então nos deparamos com um grande dilema. Afinal, compreender a dor não significa eliminá-la. Acreditamos que basta localizar a origem do problema e tudo estará resolvido, mas nem sempre é assim. Como a cicatriz do machucado que não pode sair de nossa pele, aquela marca sempre irá nos lembrar do momento que a adquirimos. Da mesma forma a tatuagem, que fazemos em um momento de nossa vida e posteriormente pode não fazer mais sentido. Ela poderá até ser removida, mas também deixará sua marca.

Podemos pensar como é triste nossa existência, pois as marcas sempre existirão, e nada do que façamos poderá fazê-las desaparecer em definitivo. Mas essa é uma atitude derrotista. Afinal, são estas mesmas cicatrizes que nos ensinaram a ser quem somos. Elas nos trouxeram um aprendizado que deve ser constante e não estático. Assim, ao vivenciarmos uma determinada situação, aprendemos uma lição naquele momento. E posteriormente as lembranças continuam nos ensinando algo mais sobre nós mesmos. Mesmo que as feridas sejam muito profundas, elas não podem nos estagnar. Podemos sentir a tristeza que vem com a marca, mas não deixar que ela vire uma lamentação para a vida inteira.

Mesmo que as feridas sejam muito profundas, elas não podem nos estagnar. Podemos sentir a tristeza que vem com a marca, mas não deixar que ela vire uma lamentação para a vida inteira.

Aprendendo com o mito de Quíron

Uma das versões do mito de Quíron* conta que ele era um centauro – metade homem, metade cavalo – que se dedicava a curar os outros. Um dia foi atingido pela flecha de Hércules, que havia sido banhada no sangue de Hidra (e sendo, portanto, venenosa), e causou em Quíron uma ferida incurável. Assim, o curador ferido era capaz de encontrar cura para os outros, menos para si.

Isso significa que todos temos um pouco de Quíron em alguma área de nossa vida. E geralmente será nela que precisaremos de mais força para superar as dificuldades, apesar de termos essa capacidade de superação. Só precisamos aceitar que temos esta ferida e que ela caminhará conosco. Acolher a tristeza quando preciso, mas não deixar que ela defina quem somos. E isto não nos torna mais fracos, mas sim mais maduros e preparados para os obstáculos que possam surgir no caminho.

*Segundo a astróloga Vanessa Tuleski, na Astrologia Quíron é um grande asteroide descoberto em 1977, também considerado um planetoide para alguns astrólogos.

Maria Cristina

Maria Cristina

É psicóloga sistêmica. Atua com traumas pela abordagem Somatic Experience® além de abordar outras questões de relações interpessoais, autoestima e postura diante da vida. Atende online e presencialmente na cidade de Belo Horizonte.

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