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Constelação familiar e traição: entenda as dinâmicas envolvidas

Conhecimento das dinâmicas mais comuns e das leis sistêmicas pode evitar sofrimentos entre os casais e até mesmo trazer alívio e reparação para a relação

Atualizado em

A traição assombra a maioria dos casais. O medo dela ou a ânsia de cometê-la podem estar relacionadas com lealdades inconscientes para com a família de origem e outras causas sistêmicas estudadas na Constelação Familiar.

O conhecimento das dinâmicas mais comuns e das leis sistêmicas pode evitar sofrimentos entre os casais e até mesmo trazer alívio e reparação para a relação.

Na Visão Sistêmica é importante abrir mão das crenças

Primeiramente é importante ressaltar que a partir da visão sistêmica precisamos nos isentar do julgamento. Esta é a armadilha mais comum e que mais separa os casais após uma traição.

A moralidade do que se percebe como certo e errado diz respeito a valores e crenças aprendidas na cultura e na própria família de origem, mas também é pretexto para que se criem papéis de vítimas e inocentes que em uma relação de casal quase sempre é prejudicial.

Ao ampliar o olhar sobre as relações podemos perceber que muitos comportamentos são formas distorcidas de lealdade ao sistema familiar e dar lugar aos excluídos de um sistema.

Leis sistêmicas: pertencimento, ordem e equilíbrio

Para compreender este processo é preciso lembrar que na ótica das constelações familiares há três leis sistêmicas que nos conduzem e que se infringidas trazem efeitos pesados nas vidas e relações. São elas: lei do pertencimento, lei da ordem e lei do equilíbrio.

A lei do pertencimento diz que ninguém do sistema ou que pertence pode ser excluído; a lei da ordem ressalta que os que vieram antes têm prioridade e são maiores dos que chegam depois no sistema; e a lei do equilíbrio é a lei das trocas, do dar e receber,  nas relações sociais e afetivas.

Todas elas atuam o tempo todo e apesar da lei do equilíbrio ser a dos relacionamentos, todas podem influenciar em processos de infidelidade.

Dinâmicas da traição: o que está por trás da infidelidade

Segundo o psicólogo e constelador Joan Garriga autor do livro “O amor que nos faz bem – quando um e um somam mais que dois”,  existem algumas dinâmicas ocultas que podem contribuir para a infidelidade conjugal. Vamos a elas:

Primeira dinâmica: problemas sexuais no casal

Se em uma relação afetiva um dos dois não está disponível sexualmente (e neste caso podem ter outras inúmeras dinâmicas sistêmicas envolvidas), este que possui a dificuldade e evita o sexo sente-se liberado quando o outro tem um amante.

É como se inconscientemente a pessoa desejasse a presença de uma terceira pessoa para isentá-la de lidar com seu problema sexual. Assim, ela mantém o status quo do relacionamento como tal, e o amante faz que a relação permaneça como está.

E o traído ainda pode ter o benefício (inconsciente) de ser a vítima da infidelidade e ficar como aquele que está com a razão. Na lei de equilíbrio a pessoa traída fica por cima (e não por baixo como costuma pensar) e sai como inocente.

Segunda dinâmica: a crise já estava oculta

Nesta dinâmica a terceira pessoa que entra na relação a dois, age como estopim para disparar uma crise e abrir a porta para uma separação que estava sendo tramada nas profundezas do relacionamento durante certo tempo, sem que nenhum dos dois fosse capaz de abordá-la até a chegada do amante.

Neste caso a terceira pessoa, vem favorecer uma crise anunciada e o desejo de separação pode ser apenas de um ou de ambos. É importante perceber se a vontade de separar-se faz parte daquela relação, ou similar a quarta dinâmica, pode estar ocorrendo alguma lealdade oculta à família de origem que estimule o desejo de separação.

Terceira dinâmica – Lei do equilíbrio negativa: “com você eu machuco meu parceiro”

A terceira dinâmica está diretamente relacionada à lei do equilíbrio. Para que ela ocorra de maneira saudável, as trocas devem ser positivas. Quando um parceiro dá algo para a relação, o outro dá de volta um pouco mais.

O que recebeu mais deseja compensar e dar ainda mais, e assim o amor cresce. Contudo, nesta dinâmica são as compensações negativas e vingativas não amorosas que prevalecem. Assim, um dos dois, ou os dois, compensa o desequilíbrio que sente na relação (mágoas, dores, humilhações) exercendo seu direito de ter intimidade e sexualidade com outras pessoas.

Aquele que é infiel por alguma razão se sente por baixo, e sabendo a dor que causará machuca seu parceiro tendo uma relação com um terceiro.

Quarta dinâmica: lealdade às famílias de origem

Refere-se a uma lealdade inconsciente ou a repetição do jeito como as coisas foram feitas na família de origem e no sistema. Algumas leis podem atuar neste caso.

Se na família de origem houve casos de infidelidade e a pessoa sabendo dos fatos julga moralmente o que ocorreu antes, pode passar pela mesma situação pois está indo contra a lei da ordem.

Quem julga sente-se superior e maior daqueles que vieram antes, e a consciência do sistema pede uma reparação. Assim atua a frase “eu também” “ou faço como vocês”. Mesmo que o adulto não saiba da infidelidade dos pais ou avós, mas se ocultamente ocorreu, também pode atuar da mesma forma.

No caso de estar oculta, a lei infringida seria a do pertencimento, pois desta forma seria um segredo ou algo excluído.

Joan Garriga ainda cita quando o filho ou a filha competiram fortemente com o progenitor do mesmo sexo pelo amor do outro. A frase “três é mais estimulante” pode atuar causando a infidelidade na relação adulta.

Quinta dinâmica: alguém que cumpre uma função

O psicólogo cita que há outros casos diversos que podem ocorrer e que fazem parte da singularidade de cada história. Assim, a terceira pessoa pode cumprir uma função na história de amor e dor das pessoas e dos casais, representando alguém ou servindo a algo para a relação.

Além disso, algo comum, não citado por Garriga, é quando o homem é aliado à mãe excluindo o pai. Esta dinâmica pode ocorrer por alguns fatores, mas o resultado é o que chamamos nas constelações de “filhinho da mamãe”.

Pelo fato do homem estar “casado” com a mãe, pode não estar disponível para as mulheres e ao mesmo tempo estar com várias ao mesmo tempo. No caso da mulher será a relação estreita com o pai que fará ela estar indisponível para uma relação.

Estas são as mais comuns, mas não as únicas. Afinal cada um tem sua história e algo diferente pode atuar nas relações. Por isso é importante buscar um processo de autoconhecimento na visão sistêmica para compreender melhor os processos de repetição e lealdades inconscientes.

Em todos os casos mencionados a solução se encontra naquele que se propõe a olhar para o problema. Não podemos desejar a mudança do outro nem culpá-lo pela nossa infelicidade. Pode ser cômodo adotar o papel de vítima, mas isto não traz leveza nem solução.

O ideal é cada um olhar para o que atua em si, e como cada um contribuiu para a entrada de um terceiro. Assim é possível crescer com a autorresponsabilidade e também que juntos cresçam na relação de casal.

Maria Cristina

Maria Cristina

É psicóloga sistêmica. Atua com traumas pela abordagem Somatic Experience® além de abordar outras questões de relações interpessoais, autoestima e postura diante da vida. Atende online e presencialmente na cidade de Belo Horizonte.

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