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Comunicação Não Violenta: o que é e como praticar

Aprenda como criar conexões com outras pessoas, entendendo as necessidades delas - e as suas

Atualizado em

A Comunicação Não Violenta é uma abordagem para se relacionar de uma maneira mais autêntica e ”desarmada“. Isso significa que podemos iniciar conversas transformando nossas intenções iniciais para criarmos conexão com o outro, ou seja, “desligando” o modo de ataque ou defesa que aprendemos a utilizar ao longo da vida e permitindo que nossas vulnerabilidades sejam mostradas.

Isso pode ser muito desafiador, mas desse modo, permitimos que o outro nos entenda e também mostre o que está acontecendo dentro dele, uma vez que ambos somos vulneráveis, em vez de somente nos atacarmos, e a discussão acabar por aí. Por isso, com essa abordagem, é possível criar um espaço para conexão que nos permite enxergar tanto as nossas necessidades não atendidas, quanto as da outra pessoa. 

Todo esse processo acontece através da empatia, que é uma ferramenta poderosa que nos ajuda a nos colocarmos no lugar uns dos outros e, assim, gerarmos compreensão. Outra característica importante dessa ferramenta é que ela não serve só para conexão interpessoal, mas também individual e sistêmica.

Comunicação não violenta não é sinônimo de passividade

Muitas pessoas, ao demonstrarem interesse por uma maneira de se comunicar com os outros sem violência (talvez pelo nome que essa prática tem), logo declaram que não conseguiriam usá-la, porque não dá para ”engolir sapo“. Só que é justamente para evitar isso que a Comunicação Não Violenta também serve: para expressarmos o que estamos sentindo e sermos honestos com nós mesmos e com os outros quanto a isso.

Quando a Comunicação não Violenta pode ser usada?

Em todas as conversas, discussões, reuniões, até em brigas e nas mais diversas situações. Isso porque, quando nos comunicamos, expressamos comportamentos na nossa fala que denunciam as nossas necessidades, que são comum a todos nós, seja quando demonstramos raiva, frustração ou a nossa alegria e satisfação e muitos outros sentimentos.

A grande questão é que quase sempre perdemos tempo discutindo o comportamento, que sempre varia de pessoa para pessoa, e acontece por motivações diversas, mas quase nunca discutimos o que está por trás dos comportamentos: as necessidades.

São justamente as necessidades que são comuns a todos nós e o que de fato, nos conecta. Isso significa que, em vez de julgarmos uma pessoa do porquê ela fez isso ou falou aquilo, podemos tentar identificar quais são as necessidades delas que não estão sendo atendidas e comunicar isso.

A identificação do que a pessoa está precisando é geralmente a fagulha que gera a conexão, e daí podemos deixar o comportamento de lado e começarmos a entender o que existe de mais profundo nas pessoas com quem nos relacionamos. Existe uma frase do Marshall que fala muito bem sobre tudo isso, e que serve como norte para quando formos iniciar nossas conversas:

“Por trás de todo comportamento existe uma necessidade.” – Marshall Rosenberg

Esse pensamento nos permite enxergar além do comportamento e assim, identificar o que de fato está gerando conflito, caminhando para uma discussão mais saudável, sem ataques, julgamentos e rotulações, que são barreiras para a conexão.

Quais são as dificuldades em utilizar a Comunicação Não Violenta?

  • Permitir-se “baixar a guarda” nas conversas para se conectar com o outro;
  • Ter a conexão como intenção inicial quando for se comunicar;
  • Identificar as necessidades não atendidas no outro e em mim mesmo;
  • Compreender que se comunicar de uma maneira totalmente diferente do que estamos acostumados é um processo e não simplesmente um conceito que se aprende rapidamente.

Como praticar a Comunicação Não Violenta?

Existem algumas atitudes podem ser tomadas por quem quer começar a se conectar melhor com os outros e consigo mesmo. Essas ações têm tudo a ver com um processo de tomada de consciência interna (do que está acontecendo dentro de mim) e externa (o que está acontecendo com o outro) e depois disso, tentarmos resolver o que tiver que ser resolvido dos nossos conflitos. Nesse processo, podemos seguir alguns passos que nos ajudam a ter conversas mais saudáveis:

1. Observação: fazer observações sobre as ações ou falas da pessoa que estão nos incomodando ou gerando conflito, em uma discussão, por exemplo. É importante que essas observações sejam baseadas em fatos, e não em nossas interpretações acerca do que a pessoa quis dizer com suas atitudes, mas sim, o que de fato ela fez ou falou.

2. Sentimentos: Depois de observar o que causou o conflito, podemos nos voltar para nós mesmos, percebendo e identificando os sentimentos que estão sendo aflorados dentro de nós a partir das atitudes da pessoa. Estamos sentindo raiva? Frustração? Medo? Preocupação? Alívio?

Nesse momento é bem importante utilizarmos palavras que sejam, de fato, sentimentos e não julgamentos. Por exemplo, quando digo que estou me sentindo “ignorada” isso não é de fato um sentimento, pois a palavra descreve a ação de uma terceira pessoa “você está me ignorando”. A ideia aqui é que você se pergunte: “se estou com a sensação de que estou sendo ignorada, o que eu de fato sinto?”.

Esse exercício é importante não porque você quer se enganar ou retirar a responsabilidade do outro pelas ações dele, mas sim porque você quer aumentar suas chances de ser escutada quando for falar sobre algo. Se você disser “estou me sentindo triste com o que aconteceu” em vez de “estou me sentindo ignorada por você” suas chances de ser escutada são maiores.

3. Necessidades: Após nomear esses sentimentos, podemos então identificar as necessidades que são apontadas por eles. Se estamos nos sentindo frustrados, qual foi a necessidade que não foi atendida e que gerou essa frustração?

Comunique suas necessidades se responsabilizando por elas, por exemplo, em vez de dizer “estou irritada porque vocês não lavam a louça” você pode entender quais necessidades suas não estão sendo atendidas e comunicá-las “estou irritada porque eu estou cansada e gostaria de chegar em casa e encontrá-la limpa.

Cooperação é algo importante para convivermos bem e gostaria de conversar sobre os acordos que vão nos ajudar a conviver melhor aqui em casa”

4. Pedido: Depois de entendermos melhor o que precisamos, podemos fazer ao outro um pedido claro para nossas necessidades sejam atendidas. Na conversa, todas essas questões podem ser trazidas à tona, para que fique claro o que está se passando entre nós e o outro. Isto é, podemos comunicar a ele as nossas observações, a partir do que ele fez ou falou, depois explicar o que sentimos a partir dessas atitudes, bem como do que precisamos e não está sendo suprido e então, fazermos um pedido claro do que queremos.

Muitas vezes isso pode ser difícil pois não sabemos o que queremos ou até mesmo temos receio de receber um “não” como resposta. A Comunicação Não Violenta é um convite para termos conversas corajosas. é claro que é muito mais gostoso quando as pessoas adivinhem o que estamos precisando mas é injusto esperar isso delas sempre.

Para que um vínculo de confiança se estabeleça precisamos comunicar nossas necessidades e pedidos de maneira que as outras pessoas tenham clareza sobre como poderiam enriquecer nossas vidas.

Origem da Comunicação não violenta

Quem sistematizou a CNV foi o psicólogo americano Marshall Rosenberg, na década de 1960. Ele foi fundador do The Center for Nonviolent Communication. Além de elaborar a Comunicação Não Violenta, ele a disseminou em cerca de 60 países e foi autor de vários livros sobre o tema.

Um desses livros, que é muito indicado para quem quer aprender a como trabalhar os conflitos interpessoais de maneira mais saudável e compassiva é o Nonviolent Communication: A Language of Life (em português: Comunicação Não Violenta. Técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais). Marshall morreu em 2015, deixando suas ricas contribuições para as relações humanas.

Como aprender a Comunicação não Violenta?

Você pode aprender melhor com dicas práticas acessando o mini curso gratuito sobre Comunicação Não Violenta.

O livro do Marshall Rosenberg pode ser encontrado em livrarias virtuais.

Carolina Nalon

Carolina Nalon

Mediadora de Conflitos. Especialista em Comunicação Não Violenta. Fundadora do Instituto Tiê.

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