Se amamos, por que brigamos?
Quais sentimentos estão em jogo na discórdia e na hora das pazes
Por Bruna Rafaele
Acontece com frequência: um relacionamento que estava em harmonia passa por um turbilhão de sentimentos que acaba desencadeando um desentendimento. Quem nunca passou por essa situação?
As brigas podem estar associadas à TPM, problemas externos e mágoas do passado ainda não digeridas, além da falta de perdão e de aceitação do outro tal como ele realmente é.
Certamente há assuntos que devem ser dialogados entre o casal para que haja melhoria no bem-estar dos envolvidos.
Também vale ponderar o que cada um considera aceitável na relação, assumindo uma postura de comprometimento com o parceiro. Essas atitudes podem minimizar as explosões de críticas e de rancor que as pessoas acabam assumindo na hora de “acertar os ponteiros” da relação.
Em muitos casos, os casais nem mesmo brigam por motivos relevantes para melhorar o relacionamento. Geralmente, quem explode é aquele que assume uma postura de “esponja” na relação e somatiza pequenos acontecimentos ao longo de um período.
O resultado quase sempre é o mesmo: brigas por motivos banais.
Não podemos esquecer de observar que esse tipo de atitude sempre vem com uma carga emocional de saturação, de raiva e demonstra imaturidade para lidar com problemas afetivos.
Além disso, brigas desnecessárias demonstram que a pessoa não consegue ter lucidez entre o que ocorre no momento presente e o que houve no passado. Você já agiu assim? Geralmente as mulheres resgatam, no momento da briga, situações ocorridas há muito tempo.
Apesar desse tipo de atitude acontecer mais frequentemente no universo feminino, muitos homens também agem dessa maneira.
Mencionar antigas mágoas na hora do desentendimento pode lhe deixar preso ao passado e impedir de vivenciar o momento atual em paz. Não aceitar o que passou e remoer estes sentimentos dentro de si faz mal a si mesmo e gera um clima ruim no relacionamento.
A raiva que surge na hora da briga, assim como uma possível sensação de inferioridade, é recorrente de pontos fracos na autoestima das pessoas envolvidas.
Vale lembrar que a carência atrelada a muitas cobranças sobre o parceiro podem ser cruciais para desencadear brigas.
Como achar o entendimento no meio do caos?
O ideal é entender o que está acontecendo em nosso interior, mesmo sendo difícil ter esse discernimento quando estamos explodindo de raiva. Primeiramente, é importante que você não deixe o estresse tomar conta e aborde o assunto que lhe incomoda com maturidade e calma.
Além disso, para ajudar nesse processo, é importante que o parceiro aprenda a “ler” o outro e perceba quando não é um bom momento para discutir assuntos relacionados ao casal.
Nessas circunstâncias, procure buscar a calma e mude o foco do assunto sutilmente, sem mencionar que o outro parece nervoso, já que isso também pode gerar um desentendimento.
Para que prevaleça o clima de harmonia, é necessário que as duas pessoas avaliem o teor de suas palavras, antes de pronunciá-las. Quando agimos movidos pela raiva, mágoa ou sentimentos que trazem angústia e mal-estar, podemos gerar uma comunicação ofensiva, o que pode dificultar ainda mais o entendimento.
Fazendo as pazes
Geralmente quem não sabe lidar com suas emoções e não controla suas reações, explode no momento da discussão e sente uma culpa enorme por ter dito palavras pesadas demais ao outro.
Apesar da consciência pesada, nem sempre essa pessoa pede desculpas por ter agido de uma maneira impensada e, às vezes, cheia de agressividade.
Mas quem disse que pedir desculpas só pode ser feito através de palavras? Podemos fazer isso de várias maneiras diferentes, mas o importante é não passar por cima dos sentimentos de mágoa e de ressentimento que foram gerados no outro.
Aceitar que o outro tem seus limites, tem suas fragilidades e nem sempre vai perdoar no momento em que você quiser se redimir é indispensável ser entendido e aceito.
Quem sabe reverter o clima pesado por um ato de ternura não pode ser um passo rumo ao entendimento entre o casal?
É importante entendermos que discussões em torno de qualquer assunto podem ser feitas de maneira tranquila, quando sabemos dosar o que vem de dentro de nós com o que vem do outro, sem que haja desequilíbrio.
Por que não descobrir maneiras de trabalhar a sua angústia, raiva e outros sentimentos que lhe acompanham? Estar de bem consigo mesmo e consciente do que se passa dentro de você podem ser atitudes que tornam mais simples contornar momentos de desentendimento.
Psicanalista, especialista em Saúde Mental. Faz atendimentos presenciais no Rio de Janeiro e consultas online no Personare.
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