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Porque os pais devem permitir que os filhos sofram

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“Mas você tem tudo!”, “Eu fiz tudo para você se sentir feliz!”, “Como assim você não é feliz?”.

Estas são frases que surgem frequentemente em relacionamentos de famílias que acreditam que você não pode ter momentos ruins, frustrações ou motivos para não sorrir.

Viver de sorrisos forçados, dizendo que está tudo sempre muito bem gera uma tortura, não facilita em nada a vida de ninguém, muito menos de quem comete essas ações.

A pessoa se sente no papel de ter de agradar os outros e ser falsa consigo mesma, interpretando o papel da felicidade perfeita, que nem mesmo existe.

Isso gera um ambiente de cobrança por demonstrações de felicidade insustentável, que faz com que a pessoa que a recebe se sinta muito mal consigo mesma.

Famílias que querem preencher todas as faltas

Será mesmo que é possível preencher todas as faltas que uma pessoa tem? Será que ficar buscando preencher este espaço em alguém vai lhe proporcionar felicidade?

Atualmente, com o aumento intenso do tempo dedicado ao trabalho, os pais acreditam que é preciso substituir a presença física com objetos. Assim, acabam dando muito mais presentes do que se costumava dar em datas comemorativas nas gerações anteriores.

Basta prestarmos atenção na quantidade de brinquedos da infância atual. Será que isso não cria mudanças na maneira de ser da criança que recebe tanta coisa no lugar do afeto, da atenção e da presença?

Provavelmente, sim. A criança aprende a apontar para o que quer e, em muitos casos, não recebe um “não” como resposta.

E vai crescendo em torno de um mundo incompatível com a realidade, em que ela quer algo e cria um vínculo com o objeto, como  o único caminho possível de manter uma relação entre ela e essa coisa desejada.

O pior é que isso se estende para tudo na sua vida: seus relacionamentos, sua alimentação, suas notas, enfim, a maneira como esse indivíduo vai se perceber na sociedade.

Construímos, assim, o que chamamos de criança mimada, o que, na verdade, é uma criança superprotegida das possíveis perdas naturais da vida, frustrações comuns a todo ser, o que se distancia muito da maneira como ela aprendeu a viver em família.

Infelizmente, em muitos casos, viram adultos que nem mesmo descobrem a origem de seu sofrimento, porque não se permitem falar de seus fracassos e, com isso, não conseguem sair dessa repetição angustiante que faz parte de seu cotidiano.

Quando a pessoa se dá conta dessa situação muito angustiante, a busca pela análise pode interferir positivamente em sua rotina e levar a uma mudança saudável sobre sua autoestima, em particular, sua saúde emocional e a forma como se relaciona com seus desejos.

Quanto mais jovem, maior pode ser o sofrimento

Muitas pessoas sofrem com o contraste entre a sua realidade familiar e a realidade externa. Como válvula de escape, algumas buscam amizades com quem se sentem mais confortáveis para sofrer, não para viver uma amizade saudável.

Outras desenvolvem vícios para se entorpecer ao sair do mal-estar familiar.  Há quem, ainda, não consegue prosseguir com sua vida emocional e financeira, porque só se sente seguro no seu ambiente familiar.

Com os jovens, o desespero pode ser tão grande quando se deparam com suas escolhas, que pensamentos de autodestruição e até mesmo de suicídio são comuns.

Isso porque eles não aprenderam a lidar com suas frustrações na infância e pensam que não podem demonstrá-las para sua família. Por isso, é tão importante que os pais ensinem seus filhos que o insucesso é algo saudável, fortalecedor da autoestima e nos ensina sobre os limites naturais da existência.

Como resolver a situação

Para quem passa por isso em casa como filho de uma família neste molde, é importante a busca por entender seus processos emocionais, o que se repete e os entraves de sua vida.

Já os pais que identificarem uma superproteção aos filhos devem mudar sua conduta para melhorar a saúde emocional de todos os envolvidos, em particular das crianças e dos adolescentes.

É muito importante a busca por psicanalistas que lidem com as experiências familiares para resolver toda a questão que envolve o (não) sofrimento. Se for o seu caso, posso te ajudar.

Bruna Rafaele

Bruna Rafaele

Psicanalista, especialista em Saúde Mental. Faz atendimentos presenciais no Rio de Janeiro e consultas online no Personare.

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