O juiz que mora em você: como a autocrítica pode impedir a vida de fluir
Autocrítica em excesso trava a vida: entenda por que julgamos, o que isso nos custa e como colocar o “juiz interior” no modo soneca.
Por Celia Lima
A autocrítica faz parte do nosso dia a dia e, em doses equilibradas, ajuda na autocorreção. Mas quando passa do ponto, esse “juiz interior” endurece o olhar sobre si e sobre o mundo — e a vida deixa de fluir como poderia.
Por que julgamos tanto?
Todos nós julgamos. Das situações mais simples às que destoam do que entendemos como “normal”, é quase automático emitir um juízo quando nos deparamos com algo que consideramos estranho ao nosso modo de vida.
Ponto-chave: julgar é humano; exagerar no julgamento endurece a vida.
Exemplos de julgamentos automáticos:
Veja quantas situações promovem julgamentos sem a menor reflexão:
- uma roupa diferente, seja “ousada” ou “recatada”
- um estilo musical — “vulgar” ou “careta”
- a escolha da dieta
- a orientação sexual
- a religião — “castradora” ou “permissiva”
- o jeito de andar — “elegante” ou “desengonçado”
Poderíamos listar milhares de exemplos em que o julgamento está sempre presente, seja por gosto pessoal, estilo de vida ou até time do coração. A autocrítica costuma andar junto desses rótulos.
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O que se esconde por trás do julgamento?
Quando somos excessivamente críticos conosco, tendemos a ser com os outros também.
- Quantos de nós está insatisfeito com sua aparência física?
- Ou com a dificuldade de apreciar a inocência de bichos e crianças?
- Os que se acham pouco inteligentes, sérios demais, muito preocupados, e vivem alardeando seus “defeitos”?
Esse olhar rígido sobre si dispara como uma flecha sobre os demais, ora para amenizar o que não gostam em si, ora para continuar se desqualificando:
Exemplos que aparecem no dia a dia:
- “Olha lá como aquela mulher é horrível, nariguda! Como aquele sujeito é baixinho!” ou “Ah, já fez um monte de plástica, se eu pudesse também ficaria bonita“
- “Credo, ela trata os bichos como se fosse gente! Ele mima demais os filhos!” Ou… Acho tão legal essa dedicação com os animais. Não tenho jeito com crianças como ele tem.”
- “Aquele ali não está nem aí com a vida, não tem responsabilidade, só sabe dar risada!” Ou “Que maravilha poder rir o tempo todo, quisera eu…“
Ou mesmo os que se acreditam muito especiais:
- Sou super organizada
- Meu trabalho é perfeito
- Sempre fui um bom filho
- Nunca deixo de me cuidar
- Minha alimentação é equilibrada
- Meus filhos nunca deram trabalho
… recolhendo muitas justificativas para criticar (julgar) os outros por não terem as mesmas “qualidades”.
Há muitos motivos por trás dos julgamentos, e eles são praticamente inevitáveis — mesmo quando achamos que estamos apenas emitindo uma opinião. O ponto de atenção: quando julgar impede ou atrapalha a vida de seguir, já não é só opinião: é um padrão que pede cuidado.
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Quando a crítica atua como barreira para a alma avançar?
Quando a pessoa exagera na autocrítica, pode se perder da própria essência. A sede por perfeição faz enxergar apenas o suposto negativo.
O resultado é um fardo pesado, repleto de frustrações por não se sentir suficiente em diversas áreas da vida.
A autocrítica excessiva também contamina as relações: aumenta o rigor com o outro, reforça comparações e alimenta a ideia de que nada está bom.
O que perdemos ao julgar os outros
Por causa desse juiz rigoroso interno, muitas vezes deixamos de nos aproximar de alguém que:
- não tem um aspecto físico considerado “agradável”;
- tem uma voz aguda;
- se veste de um jeito “estranho”;
- frequenta um bar “brega”;
- às vezes fala “errado”;
- tem um sotaque que eu “não gosto”.
Perceba quantas barreiras se criam para evitar contato. Quando ousamos deixar o julgamento de lado e nos aproximamos, podemos descobrir pessoas maravilhosas:
- aquela voz “enjoada” pode ensinar muito;
- o jeito “errado” de falar pode revelar sensibilidade;
- a aparência que causa estranhamento pode esconder uma amizade incrível.
Tudo isso acontece quando conseguimos acalmar o juiz interior e deixar a vida fluir, acolhendo as surpresas que o espírito crítico e os preconceitos estavam impedindo de acontecer.
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Como colocar o “juiz interior” no modo soneca
Sem mudar o tom reflexivo do convite original, aqui estão passos simples para experimentar no dia a dia:
- Perceba o gatilho. Note quando a autocrítica aparece (em você ou sobre alguém). Nomeie: “isso é um julgamento”.
- Adie o rótulo. Em vez de carimbar “certo/errado” na hora, crie uma pausa: “não sei tudo sobre isso ainda”.
- Troque crítica por curiosidade. Pergunte-se: “o que posso aprender aqui?”
- Compare com gentileza. Se a comparação vier, faça com realismo e autocompaixão, não com dureza.
- Procure a nuance. Evite absolutos. Quase nada é “sempre” ou “nunca”.
- Acolha imperfeições. Lembre: imperfeições são humanas e frequentes — não exceções.
- Volte ao essencial. O que realmente importa nessa situação/ relação? Deixe isso guiar seu próximo passo.
É um exercício diário e consciente. Prestar atenção nos pensamentos e perceber o que se perde ao buscar tanto rigor pode ser uma jornada rica de aprendizado e humildade.
Vamos experimentar colocar o juiz no modo soneca e nos aproximar do que de fato importa?
FAQ sobre autocrítica
Autocrítica é sempre ruim?
Não. Autocrítica saudável ajuda a ajustar rotas. O problema é o excesso, que gera perfeccionismo, frustração e afastamento.
Como diferenciar opinião de julgamento rígido?
Opinião descreve preferências; julgamento rígido rotula pessoas/atos como “errados” sem contexto, fecha possibilidades e interrompe a convivência.
O que fazer quando percebo que estou julgando alguém?
Reconheça o pensamento, adie o rótulo e faça uma pergunta curiosa (“o que não sei sobre essa pessoa?”). Depois, escolha uma ação mais gentil.
Autocrítica e perfeccionismo são a mesma coisa?
Não exatamente, mas costumam caminhar juntas. Perfeccionismo mira um ideal inalcançável; a autocrítica excessiva cobra que você (e os outros) atinjam esse ideal o tempo todo.
Psicoterapeuta holística com abordagem junguiana há mais de 30 anos e estudiosa de Psicologia da Saúde e Hospitalar. Utiliza os florais, entre outras ferramentas, como método de apoio ao processo terapêutico, como vivências xamânicas, buscando um pilar metafísico para uma compreensão mais ampla da vida, da saúde física e emocional.
Saiba mais sobre mim- Contato: celiacalima@gmail.com
