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Defesas emocionais geram situações que você mais teme

Psicoterapia corporal sugere como evitar repetições negativas na sua vida

Atualizado em

Você já parou para refletir sobre as repetições negativas em sua vida e o que pode estar por trás delas? Já observou a maneira como você se coloca no mundo? Já pensou sobre a possibilidade de estar, a toda hora, se defendendo de um possível sofrimento passado e, assim, lançando mão de inúmeras formas de agir e reagir condicionadas e frequentemente iguais? Eu convido você a pensar um pouco sobre isso agora.

Durante toda a nossa vida vivemos situações boas e ruins e vamos aprendendo a nos comportar diante do mundo a partir delas. Ao vivermos uma situação emocionalmente difícil, muitas vezes não conseguimos elaborar internamente o acontecimento de maneira saudável. Quando isso acontece, criamos defesas para evitar entrar em contato com tal emoção e vivenciá-la novamente em outras circunstâncias. De tal forma, vamos formando um grande conjunto de mecanismos de defesas, maneiras já condicionadas e padronizadas de nos comportar e reagir. Lançamos mão desses escudos de proteção no trato diário, nas relações e em toda situação que nos ameace entrar em contato com tais emoções e sofrer.

Comportamento defensivo diminui sua capacidade de lidar com as situações

Essas defesas provocam uma certa estabilidade, um certo equilíbrio emocional. Contudo, sua padronização diminui a criatividade e nos deixa menos flexíveis para lidar com as situações. Quando a proteção é enrijecida, nos mantemos em defesa de algo que não está mais presente. Reagimos ao passado, sem atualizar nossas dores e agir com base apenas no que existe aqui e agora.

Isso funciona como uma armadilha. Ao nos colocarmos de maneira tão defensiva, criamos situações e relações que repetem o padrão anterior, gerando justamente aquilo que tentamos evitar.

Ao nos colocarmos de maneira tão defensiva, criamos situações e relações que repetem o padrão anterior, gerando justamente aquilo que tentamos evitar.

A forma como o sujeito se coloca no mundo muitas vezes acaba contribuindo para fazer acontecer a situação da qual ele estava se defendendo. Nossa visão de mundo afeta nossas atitudes e nossas atitudes potencializam os acontecimentos que queríamos evitar. Um exemplo disso seria uma pessoa que não quer ser atacada e, para isso, se coloca de maneira agressiva com o outro. Ela se defende antes mesmo que possa acontecer aquilo que quer evitar (o ataque). Esta maneira agressiva de se defender acaba por atrair o ataque que tanto teme. Afinal, nós atraímos exatamente aquilo em que acreditamos. Ao acreditar que sempre será rejeitado, por exemplo, você, a partir desta crença, se comporta de tal forma que acaba atraindo situações em que se sente preterido.

O corpo fala: o que diz o seu?

Da mesma maneira que criamos defesas inconscientes que se refletem em comportamentos e reações padronizadas, estas mesmas proteções também são refletidas no corpo. Segundo a teoria da Psicoterapia Corporal, proposta por Wilhelm Reich, as funções corporais e psicoemocionais são completamente interligadas. Somos uma unidade mente-corpo.

Para nos defendermos de uma vivência emocionalmente intensa que não pode ser bem elaborada, formamos bloqueios de energia vital em determinado local do corpo correspondente àquela emoção. Seria como jogar a poeira para debaixo do tapete. Para não olhar aquilo que lhe incomoda, você esconde e vai acumulando ali embaixo. Da mesma forma, bloqueamos a circulação de energia em determinada região para evitar o contato com aquela emoção específica. Com isso, criamos enrijecimentos e disfunções corporais, como tensão ou flacidez muscular, e todos os inúmeros tipos de doenças e sintomas.

Por exemplo, a tristeza busca expressão pelo choro. Ao chorar, acontecem alterações respiratórias, expressões sonoras e faciais e movimentos musculares. Quando o contato com o sentimento de tristeza é bloqueado, o choro precisará ser reprimido, contendo sua expressão corporal característica. Com isso, há uma contenção muscular e respiratória que tende a se tornar crônica. O mesmo acontece com outros impulsos e emoções, como medo, raiva e desejos sexuais. Para não entrar em contato com o sentimento e a vivência dolorosa que não pode ser bem elaborada, inconscientemente contemos e reprimimos os impulsos corporais associados à emoção e, dessa forma, inúmeras alterações corporais se manifestam.

Para não entrar em contato com o sentimento e a vivência dolorosa que não pode ser bem elaborada, inconscientemente contemos e reprimimos os impulsos corporais associados à emoção e, dessa forma, inúmeras alterações corporais se manifestam.

Sendo assim, nos enrijecemos para não sentir e acabamos não vivendo a vida em sua totalidade e com toda sua potencialidade, pois estamos a todo momento nos defendendo de dores passadas. O processo terapêutico busca exatamente trazer consciência para estes aspectos em negação e, a partir disso, uma compreensão e elaboração de tais circunstâncias e emoções reprimidas. Vamos podendo observar como estes registros do passado interferem na nossa vida presente e como o inconsciente rege uma parte tão grande de nosso cotidiano. A partir dessa compreensão e do processo de autoconhecimento e dissolução dessas camadas de defesa, vamos, então, nos abrindo para outras possibilidades e uma vida mais próspera, saudável e feliz.

A psicoterapia corporal busca, por meio não só do verbal, mas também do trabalho com o corpo, dissolver essas camadas de dor e defesa e trazer consciência e contato, para o que está em negação ser transformado e purificado. E vamos, então, percebendo as repetições negativas em nossas vidas e olhando mais profundamente para o que, por trás delas, as rege. E ao chegarmos ao ponto original de cada questão, vamos, passo a passo, dando espaço para que este ponto se atualize e ressignifique dentro de nós. De tal forma, aos poucos, vamos transformando os registros de dor do passado e abrindo espaço para novas possibilidades de felicidade no presente.

Luisa Restelli

Luisa Restelli

Psicóloga, Psicoterapeuta Corporal e Consteladora Familiar Sistêmica. Realiza atendimentos individuais e de casal no RJ e online e ministra grupos terapêuticos e palestras.

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