De onde vem a culpa na maternidade e como lidar com a questão?
Confira um exercício simples que utiliza afirmações para liberação da culpa na maternidade
Por Alice Duarte
Se depois da maternidade não conseguimos ter os mesmos níveis de desempenho e dedicação no trabalho, na casa e no relacionamento; se explodimos com nossos filhos e gritamos; se estamos sem disposição para dar a atenção que eles precisam; e se ainda por cima estamos buscando formas de educar melhor, com mais respeito, conexão e vínculo…
Aí dificilmente a gente escapa daquela visitante incômoda, que chega sem aviso, senta no meio da sala e não quer saber de ir embora: a danada da culpa na maternidade.
- “Sou um fracasso como mãe”
- “Tenho que dar conta de tudo sozinha”
- “Não deveria estar descansando”
São pensamentos comuns e autocobranças que incomodam e muito.
Como nasce a culpa na maternidade
Fazemos muitas coisas para fugir desta emoção desagradável que é a culpa: vamos assumindo mais e mais tarefas, ficamos ainda mais sobrecarregadas e já não conseguimos colocar os devidos limites para os outros e para gente mesma.
Então, ficamos mais irritadas, explodimos com facilidade e sentimos mais culpa na maternidade. É uma bola de neve. Quanto mais culpadas nos sentimos, mais nos autodepreciamos. Começamos a achar que não merecemos tempo de lazer, de descanso, de autocuidado. É aí que mora o perigo: quando a gente se abandona.
A culpa é um sentimento que aparece quando nossas ações ou pensamentos não correspondem às expectativas que temos de nós mesmos. Por trás dela está a autocobrança excessiva, muitas vezes ligada à crença de que “não sou boa o suficiente”.
Cobrança vem de fora
É preciso olhar mais atentamente para as crenças que estão por trás dessa cobrança. E então se perguntar:
- Quem, dentro de mim, está me cobrando ou me criticando?
- Essa voz é minha ou são as vozes introjetadas da minha mãe, do meu pai, da minha sogra, da vizinha, daquela educadora parental popular do Instagram?
Estereótipo da mãe perfeita
A mãe perfeita do imaginário coletivo pertence ao modelo cultural e estrutural da nossa sociedade, que coloca um peso injusto sobre as mulheres-mães, vistas como seres abnegados, que amam incondicionalmente, que são doadoras universais e que não podem errar, pois são quase sacralizadas.
E é muito comum mulheres que se tornam mães tomarem um choque de realidade ao se depararem com a dificuldade e o peso que é maternar.
“Por que ninguém me disse que era assim?”, se perguntam. Porque esse estereótipo é tão forte que as mães não se permitem reclamar e sequer dizer que sofrem, quando muito, que “padecem no paraíso”.
Resquícios da infância
Frequentemente, essas mulheres-mães foram muito cobradas, criticadas e castigadas quando crianças, a ponto de ter pavor de cometer erros. Podem ter crescido com o script de ter que atender às necessidades dos outros o tempo todo, em detrimento das próprias.
E, quando mulher adulta e mãe não consegue descansar, porque carrega a crença de que “Mãe boa não tem tempo para si”, “Mãe nunca sai de cena”, “Ser mãe é se doar o tempo todo”.
A culpa faz essas mães se sentirem ainda mais sobrecarregadas, e isso as impede de agir.
“O sentimento de culpa é um substituto da ação. Quem se sente culpado não faz nada. Permanece passivo, diz Bert Hellinger”, criador da Constelação Familiar.
É preciso então aceitar a nossa vulnerabilidade, ser a melhor mãe que podemos ser a cada momento, respeitando nossas limitações, sabendo colocar limites, pedir e receber ajuda. Entender que erros e acertos fazem parte da mesma jornada. A jornada da experiência e da aprendizagem.
Como se livrar da culpa na maternidade
EXERCÍCIO
- Sente-se, feche os olhos, respire profunda e lentamente algumas vezes e comece a repetir em voz alta a primeira afirmação.
- Vá diminuindo o volume da sua voz a cada repetição.
- Depois, deixe a frase ecoar algumas vezes mentalmente.
- Em seguida, silencie os pensamentos por alguns segundos.
- Então passe para a próxima afirmação, seguindo as mesmas instruções.
Afirmações para liberação da culpa na maternidade
- Eu sou mais que suficiente
- A cada dia eu confio mais na minha intuição
- Estou aprendendo a reconhecer e respeitar os meus limites
- Eu confio que estou fazendo o meu melhor em cada situação
- Eu aprendo com meus erros e acertos. Eles são margens opostas do mesmo caminho de evolução
- As lições dos erros eu tomo com gratidão. Sem culpa, raiva, vergonha ou arrependimentos
- Eu assumo as consequências dos meus erros e decido repará-los.
Alice Duarte é facilitadora de Constelação Sistêmica Familiar e Organizacional, com treinamentos internacionais com o alemães Bert e Sophie Hellinger, e os espanhóis Joan Garriga e Brigitte Champetier de Ribes. Desde 2015 facilita processos de autoconhecimento, cura emocional e solução de conflitos nos relacionamentos. É jornalista, mantém um site autoral com artigos em português e é criadora do programa online Por Uma Vida Sem Amarras. Vive em Curitiba, onde trabalha com grupos terapêuticos, workshops, cursos e atendimentos individuais (presenciais e online) de Constelação Familiar e Consultoria Sistêmica Empresarial. Aqui no Personare escreve sobre autoconhecimento e relações humanas.
Saiba mais sobre mim- Contato: contato@aliceduarte.com
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