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Concilie interesses ao sair com os amigos

Saiba lidar com gostos diferentes dos seus e divirta-se com a turma

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É importante lembrar, antes de mais nada, que a amizade é uma forma de relacionamento. E como todo relacionamento sempre conterá em si afinidades e divergências em maior ou menor intensidade e quantidade.

Certamente, relacionar-se com seres humanos não é tarefa fácil para muita gente. Há até mesmo quem diga preferir animais ou plantas, pois dão menos trabalho. Ok! Amo os animais e a relação com eles, sou absolutamente a favor da boa relação com bichos, mas precisamos entender que são qualidades de relação absolutamente diferentes, linguagens diferentes.

Para se relacionar com as divergências dentro de um relacionamento com outra pessoa, independente da qualidade da relação, é preciso muitas qualidades. Dentre elas, a maturidade e um certo conhecimento de si mesmo são a porta de entrada para compreender as nuances do contato com o outro.

Vou ilustrar com um exemplo fictício de Ricardo e Julio, que são amigos desde a infância, estudaram juntos e sempre conversaram bastante sobre tudo. A amizade foi construída ao longo de suas vidas e eles tornaram-se verdadeiros irmãos. Pois bem, Julio gosta de pagode, conhece muita gente, é comunicativo, gosta de dançar e conversar. Ricardo é mais reservado, prefere rock progressivo, gosta de ler e beber whisky. Ele tem alguns outros amigos de convivência, mas abre-se mais com Julio sobre sua vida pessoal. Ambos gostam de futebol e de esportes radicais em contato com a natureza.

Como podemos perceber, são dois perfis de pessoas totalmente diferentes, mas com algumas coisas em comum. Quais seriam as habilidades necessárias a esses dois amigos, para se manterem unidos por tanto tempo, sendo tão diferentes?

Vejamos abaixo algumas características que permitem um melhor relacionamento com as pessoas que nos rodeiam.

Negociação

A arte da negociação permite que qualquer divergência seja atenuada, amenizada. Porém, também envolve a flexibilidade e a disponibilidade ao diálogo entre todos os envolvidos para que haja a um consenso. Por exemplo: dois amigos com gostos tão diferentes, como Ricardo e Julio, devem ter o entendimento de que nem uma coisa (a balada) e nem outra (ficar em casa) poderão acontecer nessa relação de amizade. Dentro deste entendimento, é importante pensar o quanto ambos estão dispostos a ceder em nome da amizade.

Já que música não é um ponto convergente, então esses pontos é que devem ser buscados para que se possa negociar. Ricardo e Julio poderiam jogar sinuca, ir a um restaurante, assistir a um jogo de futebol, viajar juntos e praticar esportes radicais. Então, a negociação gira em torno do que é possível e agradável para ambos.

Concessão

Conceder tem por sinônimo ofertar, presentear. É simplesmente abrir mão de um gosto em favor do gosto do outro. Por que Ricardo ou Julio fariam isso? Por pura generosidade, por vontade, por compreender que a amizade está acima do gosto. É a companhia, é a possibilidade de estar com a pessoa – e lembremos que conceder não gera incômodo, acontece por prazer.

Julio pode não gostar tanto de rock, mas ao perceber que Ricardo se dispôs a sair, pode presenteá-lo com sua presença em um show de rock e vice-versa. É uma concessão mútua. Ricardo abre mão e sai de casa, e Julio ouve rock.

Consideração

Considerar é levar em conta a existência e a singularidade do outro, é conscientemente escolher algo que se comprometa também com o gosto do outro. Novamente isso não implica em um aborrecimento ou mal estar. Julio considera o esforço feito pelo amigo de sair, e não se importa em levar em conta o gosto musical de Ricardo, já que poder estar com o amigo já lhe é suficiente. Ricardo, por sua vez, pode considerar a atitude do amigo e desejar assistir parte do show – e não o show todo.

Esses são apenas exemplos de uma gama infinita de possibilidades e nuances das relações, do quanto internamente estamos disponíveis ao outro. Do quanto desejamos ceder e aceitar, considerar e negociar com os amigos.

Abertura ao novo

Estar aberto a testar algo diferente, que fuja da rotina, também pode ser uma atitude sábia e muito saudável. Propor criativamente outras opções gera entusiasmo, demonstra nosso esforço e a importância da presença do outro em nossa vida. Permite aprendizado e conhecimento, além de estreitar laços.

Ricardo e Julio podem propor a si mesmos novas atividades, como se exercitar, jogar baralho, vídeo game ou qualquer outra coisa que seja nova e criativa. Nem sempre fazermos o que desejamos é condição humana. O tempo todo estamos negociando e abrindo concessões, inclusive internamente, com nós mesmos. Entendemos, então, que se relacionar está além de nosso umbigo, demanda mais sabedoria com nossas próprias escolhas em relação aos outros e do porquê as fazemos.

Flexibilizar o que é rígido em nós amplia nossa disponibilidade ao que vem do outro. Aquilo que a princípio diverge de nosso querer, pode também nos ajudar a aprimorar nossa visão de nós mesmos e de nossas relações com os outros. É preciso um acordo entre respeitar-se e respeitar o outro. Isso significa buscar um ponto de satisfação, ainda que com uma solução inusitada.

Aceitar as pessoas como elas estão (a palavra é “estão” mesmo, pois todos são passíveis de mudança) e como nos parecem, permite leveza. Não há a necessidade de grandes julgamentos e temos a oportunidade de ser generosos sem esperar algo em troca disso. O amor e o valor que atribuímos em uma amizade é o que realmente está em jogo. Isso indica amadurecimento e habilidade social para se relacionar de uma maneira mais verdadeira com as pessoas.

Thaís Khoury

Thaís Khoury

É psicóloga clínica e utiliza a interpretação dos sonhos, a calatonia e a expressão criativa em seus atendimentos. Também é vegana e fundadora do Veganíssimo, empresa que produz alimentos 100% vegetais.

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