Pesquisar
Loading...

Mindfulness no tratamento da dor crônica

Meditação ameniza sofrimento causado por fibromialgia, dor lombar e pélvica, artrite e mais

Atualizado em

Ninguém quer cair em uma condição na qual acorda de manhã e sente dor pelo corpo. Ou que não consegue dormir à noite porque o corpo está doendo. As pessoas que sofrem de dor crônica facial, nas costas, na cabeça, ou em outra área do corpo, geralmente lidam e “lutam” com ela por meses ou anos a fio.

Normalmente, o portador de dor crônica testa os limites da medicina, porque vai ao hospital esperando que tenha uma pílula especial, um tratamento, ou, nos piores casos, uma cirurgia mágica que faça a dor desaparecer. E, basicamente, chega um momento que essa pessoa descobre os limites da medicina. Afinal, muitas vezes as medicações para aliviar a dor causam mais danos ainda ao organismo, em longo prazo.

O QUE É COMPORTAMENTO DOLOROSO?

Em 1982, Dr. John D. Loeser, um dos maiores estudiosos da dor no mundo, apresentou um modelo conceitual da experiência da dor que é tido como uma referência até hoje. O modelo enfatiza quatro componentes: nocicepção, dor, sofrimento e comportamento doloroso.

1 – Nocicepção

nós possuímos receptores por todo nosso corpo, que são especialmente designados para detectar estímulos nocivos. Nocicepção envolve a detecção de lesão do tecido por estes receptores e a transmissão da informação da dor para o Sistema Nervoso Central.

2 – Dor

acontece quando o cérebro recebe um sinal nociceptivo. Porém, em alguns casos, mesmo sem haver a nocicepção pode haver dor. Isto acontece, por exemplo, quando há alguma disfunção no Sistema Nervoso Central.

3 – Sofrimento

estado que reflete uma ameaça à integridade física ou psicológica do indivíduo. O sofrimento pode ser gerado a partir de condições diversas, como dor, medo, ansiedade ou estresse.

4 – Comportamento doloroso:

refere-se como cada pessoa se comporta em relação à dor. São exemplos de comportamento doloroso:

  • Expressões faciais: caretas, arqueamento das sobrancelhas
  • Atividade motora: fricção ou proteção da área dolorosa
  • Atividades autonômicas: palidez, rubor, sudorese
  • Expressões vocais paralinguísticas: choro, gemido, grito, suspiro
  • Expressões vocais linguísticas: apelos, exclamações, queixas, solicitações
  • Alterações posturais

Segundo a Drª Bruna Giarola, médica parceria da Equipe da Parceria Humana Mindfulness, a pergunta fundamental em qualquer avaliação da dor é: “qual é o papel desempenhado por cada um dos quatro elementos no surgimento e na manutenção da queixa de dor do paciente?”.

Nesses casos, a dor se torna o principal foco da atenção do paciente em todos os momentos e ele acaba atribuindo-a às dificuldades em sua vida. Apesar de a maioria dos portadores de dor crônica apresentar lesão orgânica capaz de causar dor, a percepção desta sensação está frequentemente aumentada e distorcida pela presença de medo, ansiedade, atenção focalizada, conceito errôneo e origem desconhecida da dor, podendo culminar no que chamamos de “comportamento doloroso”.

Mindfulness ajuda a descobrir natureza da dor

A boa notícia é que a prática de Mindfulness pode ajudar esses pacientes a lidar com a dor de forma diferente, fortalecendo-os emocionalmente no processo. Mas, como?

O primeiro programa estruturado de Mindfulness foi desenvolvido para o tratamento de dor crônica por Jon Kabat Zinn (1982), pesquisador da Universidade de Massachusetss. Ao longo das décadas subsequentes, programas baseados em Mindfulness foram utilizados para tratar uma variedade de síndromes dolorosas, incluindo fibromialgia, dor lombar crônica, dor pélvica crônica e artrite. Os resultados somam uma redução significativa na intensidade da dor e sintomas relacionados.

Nas palavras de Jon Kobat-Zinn:

“A orientação da Meditação não trata de resolver a dor ou de torná-la melhor, e sim de olhar profundamente dentro da natureza dela – usando-a de certas formas que poderiam nos permitir crescer. Nesse crescimento, as coisas mudarão, e temos o potencial de fazer escolhas que nos levarão na direção de maior sabedoria e compaixão, incluindo autocompaixão e, portanto, na direção da libertação do sofrimento”.

3 passos para aceitar sua dor

No trabalho que realizamos, ensinamos alunos com este diagnóstico a lidarem com a dor crônica. Nós os convidamos a, de fato, aceitarem sua dor, por meio de 3 passos que você também pode seguir:

1 – Pare de usar a palavra “dor” excessivamente

Para isso, é necessário que tenha consciência do quanto a utiliza. Experimente substitui-la por “desconforto” toda vez que estiver sentindo algum tipo de dor crônica. Isso inibe ruminações mentais, que desencadeiam mais emoções negativas, potencializando dores emocionais.

2 – Faça perguntas relacionadas a sua dor e entre na sensação que ela causa

  •  Como ela é no corpo?
  •  Que tipo de sensações causa? São puxadas, queimações, rasgadas, ou elas esmagam?

São estas descrições que ajudam o aluno/paciente a ter conhecimento do que chamamos de “descrição nociceptiva da dor”.

3 – Como são os elementos somáticos no corpo?

Aí que surgem todos os pensamentos sobre a dor. Tais como: “isso vai arruinar a minha vida!”. Estes pensamentos não são a dor, mas estão contribuindo para seu sofrimento. Quais você está alimentando?

Em suma, é importante fazer uma diferenciação entre as sensações e o pacote total de sofrimento. E também diferenciar a dor física de pensamentos e emoções difíceis que rondam em torno dela.

Uma vez que o aluno/paciente aprende a acolher e aceitar a dor com autocompaixão, ele desacopla as sensações somáticas desencadeadas por pensamentos e emoções. O fato é que as sensações desagradáveis relacionadas à dor física permanecem, mas reconhecer estas sensações é o que, de fato, vai liberar o sofrimento.

Quanto mais amigável é a relação com as dores e todas as dificuldades que acontecem no nosso corpo, mais aprendemos a conviver com elas com uma maior qualidade de vida.

Exercício em áudio para amenizar dor crônica

Para um tratamento completo da dor crônica são necessárias práticas meditativas de atenção plena (Mindfulness), que são orientadas através do Programa de 8 semanas de Mindfulness. As práticas ajudam na percepção sensorial da dor, na (des)identificação de emoções difíceis, além de trabalharem a inteireza do corpo.

No entanto, é possível colocar em prática o exercício em áudio, abaixo, para começar a identificar algumas melhoras. Indico que sente-se em lugar confortável, no qual não seja interrompido. Depois, basta ligar o áudio e entregar-se ao Mindfulness guiado. O ideal seria experienciar este exercício 6 vezes na semana, 1 ou 2 vezes ao dia, no momento mais adequado da sua rotina. Se for portador de dor crônica, independe se estiver sentindo dor no momento do exercício. E lembre-se: as melhoras dependem do processo individual de cada pessoa.

Importante: o Mindfulness não é um substituto para o tratamento médico clínico, mas uma prática auxiliar eficaz para a melhoria da qualidade de vida do paciente.

Fernanda Miguez

Fernanda Miguez

É astróloga formada pela Sociedade de Astrologia do Rio de Janeiro (SARJ) e idealizadora do Projeto Astrologia da Consciência. Trabalhou por 10 anos na equipe da astróloga Maria Eugênia de Castro e como colaboradora em 13 livros na área. Engenheira pela UERJ, atualmente é acadêmica de Psicologia. Tem formações na área de autoconhecimento, atua como trainer de Mindfulness pelo MTi (Mindfulness Trainnings International) e é professora de Cultivo do Equilíbrio Emocional pelo Albert Einstein - SP.

Saiba mais sobre mim