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Mentiras que você conta em busca de aceitação

Reflita sobre o que você esconde atrás de máscaras sociais

Atualizado em

O carnaval já passou, mas continuamos usando máscaras em nosso dia a dia para esconder quem somos e nos adaptar ao que achamos que esperam de nós. Ao longo de nossa vida criamos máscaras e maneiras de nos comportar para demonstrar o que gostaríamos de ser. Na busca por aceitação, criamos mentiras a respeito de nós para evitar expor uma verdade mais profunda e dolorida. Você sabe qual a sua máscara? O que ela tenta proteger? De que forma ela atua e como reflete em sua vida?

Carregamos em nossa trajetória muitas cicatrizes, feridas, traumas e experiências, desde a barriga da nossa mãe. Essas marcas vão se associando a contínuas experiências de vida que reforçam ou não as crenças que criamos a respeito do mundo e de nós mesmos. Ao longo da vida, vamos construindo defesas, padrões de comportamento e bloqueios emocionais relacionados a essas experiências. Muitas vezes, a origem desses registros de dor ficam inconscientes e evitamos entrar em contato com eles para não sentir novamente o sofrimento. Porém, inevitavelmente, revivemos e reproduzimos estas situações e sentimento, pois tudo aquilo que ainda não conseguimos integrar em nós permanece ativo, mesmo que não percebamos.

Mecanismo de controle e defesa

Quando mentimos para nós, consequentemente mentimos para o outro e acabamos entrando em armadilhas e círculos viciosos. A mentira, seja consigo ou com o outro, se torna um mecanismo de controle e defesa. Tentamos nos manter no controle das situações e de nós mesmos para não entrar em contato com as dores e as crenças que carregamos internamente e buscando evitar vivenciar situações parecidas novamente.

Muitas vezes, acreditamos ser essas máscaras que criamos e não percebemos que elas não fazem parte de nós, estão apenas à serviço de encobrir dores e aspectos de nossa personalidade. Um exemplo: alguém se sentiu rejeitado quando criança e criou a crença de não ser merecedor de amor. Uma das possíveis máscaras que podem ter sido criadas é a do bonzinho que quer sempre agradar o outro para ser aceito e incluído. A pessoa sente raiva, mas a sua máscara não a permite expor com honestidade e maturidade esse sentimento. Muitas vezes, se torna até difícil acessar o sentimento, percebendo e admitindo para si mesma que sente raiva.

Num outro extremo, a máscara do brigão pode querer intimidar as outras pessoas para esconder uma sensação de fragilidade e um medo de ser atacado e se machucar. Outro exemplo é a máscara do poderoso, que sabe tudo e diminui o outro, podendo querer esconder em seu íntimo uma profunda insegurança. Esses são só alguns simples exemplos de uma gama enorme de possibilidades de máscaras que cada um constrói diante de sua própria experiência de vida e feridas abertas.

Como olhar para você além da máscara

No processo de autoconhecimento, a honestidade vem com a capacidade de olhar para si além da máscara e perceber o que lhe faz precisar dela e como lidar com as situações de maneira mais saudável e flexível. Por exemplo, se uma situação lhe deixa com raiva e você pode assumir pra si mesmo que a sente, já é um ponto de partida para saber como lidar com ela.

a honestidade vem com a capacidade de olhar para si além da máscara e perceber o que lhe faz precisar dela

Por que e para que você mente?

Proponho um exercício que pode ajudar a iniciar esse desvendamento das mentiras e máscaras utilizadas no dia a dia: faça uma lista diária das suas mentiras, desde aquelas bem pequenas que você conta para ter uma boa imagem aos olhos dos outros, ou para agradar alguém, até aquelas maiores. Esta é uma lista que só você vai ler, então use toda a sua honestidade. Liste tanto mentiras verbalizadas quanto mentiras em seu comportamento. Esse é um exercício para que você comece a tomar consciência de suas mentiras para, em um segundo passo, poder começar a compreender por que e para que você mente. Reflita:

  • O que tais mentiras defendem e protegem dentro de você?
  • De que forma essas mentiras atuam?
  • O que está por trás delas?

Aos poucos, você vai também tomando consciência de seus pontos de dor e sentimentos mal elaborados. Somente compreendendo onde estamos e o que se passa dentro de nós podemos fazer algo com isso. Assim, vamos abrindo espaço interno para alcançar maior bem estar e para construir relações e experiências mais saudáveis.

Luisa Restelli

Luisa Restelli

Psicóloga, Psicoterapeuta Corporal e Consteladora Familiar Sistêmica. Realiza atendimentos individuais e de casal no RJ e online e ministra grupos terapêuticos e palestras.

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