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Em busca da consciência meditativa

Entenda como aproveitar a Meditação para se conhecer melhor

Atualizado em

Hoje em dia há um esforço constante para alcançar coisas que nos parecem distantes ou que aparentam não fazer parte de nossa realidade. Qualquer movimento de busca que fazemos para algo que não está dentro de nós poderá ser infrutífero. A água segue sua própria natureza, sem conflito com a realidade da superfície que ela percorre. As pedras suportam frio, chuva e sol quente por séculos – e nada perturba sua natureza. Os animais vivem suas vidas satisfazendo seus instintos, sem lamentações descabidas. Por que os seres humanos carregam tanto conflito em sua curta existência? Não faz sentido.

Na verdade, carregamos conflitos por não entendermos nossa própria realidade, por vivermos uma realidade artificial e efêmera. O conflito não existe, mas permitimos que ele se aloje em nossa consciência e assim passe a existir e a sobrepujar tudo que brilha como realidade.

A busca por paz, por exemplo, nos afasta da verdadeira paz que reside dentro de nós. E o mesmo ocorre com a Meditação. O dimensionamento que é dado à consciência pode abarcar ou anular sua própria natureza. Por agirmos sem consciência da ação e dos fatores que desencadearão resultados, perdemos a dinâmica de nossa natureza; perdemos o sublime que há na vida e passamos a refletir apenas o que a mente projeta. Passamos a acreditar nas nuvens, tempestades e sombras que afogam o essencial da vida.

Meditar não é impedir ou disfarçar a existência de tais barreiras, mas tornar-se consciente delas e compreendê-las como parte do que somos. Estar consciente é o passo mais importante que deve ser dado ao iniciarmos esse caminho. Meditação não é um jogo mental simbólico onde criamos paisagens ou sentimentos, mas sim a consciência plena da realidade de nossa existência.

Aproxime-se da Meditação

A existência não se limita aos apelos do corpo e dos sentidos, não se limita ao transitório estado mental que molda os sentimentos e as emoções. A existência envolve os detalhes do que somos e do que estamos sendo – um longo percurso que nos mostra a evolução gradual pela qual estamos passando. A cada dia nos aproximamos mais do que sempre esteve perto, dentro de nosso ser, mas que não dávamos conta de sua presença. Meditação é voltar a consciência para este fato, para esta realidade que se descortina e se revela. E isso é possível quando estamos conscientes do que compõe nossa existência completa.

A mente sente, pensa e deseja indiscriminadamente. A consciência observa e se transforma no processo de autoconhecimento: Meditação. Ficar parado por alguns minutos apenas observando a respiração e os batimentos cardíacos pode não dizer muita coisa para a mente, mas pode revelar dimensões desconhecidas da consciência.

Ficar parado por alguns minutos apenas observando a respiração e os batimentos cardíacos pode não dizer muita coisa para a mente, mas pode revelar dimensões desconhecidas da consciência.

A mente irá vagar em busca de sentido para o que ela capta, mas a consciência será apenas presença observadora de algo que sempre esteve ali, diante de sua simplicidade existencial, e que não foi possível ser notada pela complexa atividade instável da mente. A existência se revela no silêncio observador da consciência.

A mente se identifica e se envolve com o que surge em seu horizonte sensitivo – e cai presa da realidade que ela mesma moldou. A consciência se mantém indiferente ao que não é dela, em um estado de neutralidade observadora. A mente quer interagir; a consciência está apenas para ser e existir. Nada pode afetar a consciência, mas a mente se afeta por tudo que está ao seu redor e que fere sua fragilidade instável.

As invenções mentais não são permanentes. A Meditação ocorre além destas designações que estacionam a mente. A Meditação se efetua no campo da consciência. A mente pensa, mas a Meditação está além do pensamento, está no alcance infinito da consciência – a Meditação não é um fenômeno mental: é um processo da consciência.

A mente é um aglomerado de conceitos que molda a maneira de ver e interagir com o mundo, dentro de uma realidade que ela conceituou como verdade. A consciência é a essência que existe antes e depois dos conceitos – tanto reais quanto falsos. A mente é imagética e cáustica; a consciência é silêncio, amplitude. A imagem verbal limita a capacidade de perceber e existir, ao passo que a existência inclui os conceitos, mas está além deles. A existência é a consciência observadora que se apresenta consciente em todos os campos da realidade sensível.

A mente aprende com a consciência

A mente não tem inteligência, ela apenas atua mecanicamente, moldada pelos padrões condicionados que imprimimos nela e, assim, repete os mesmos modelos, por muito tempo. A mudança somente ocorre quando se toma consciência de que não estamos agindo como deveríamos, como é o correto. Mas, quem define o certo e o errado? Há algum modelo que podemos usar sabendo que é diferente de um modelo que não devemos ter? De certa forma, a Meditação nos dá o modelo correto, à medida que o silêncio interior se intensifica a ponto de termos consciência clara e transparente do que nos faz bem e do que nos traz o mal. É a experiência da vida que poderá mostrar isto. É a Meditação que dará consciência do valioso que há na vida – aquilo que devemos cultivar e intensificar pelo simples fato de sabermos por realização que é bom para nós mesmos e para os outros.

Por isto, a Meditação não é uma restrição, um corte, uma renúncia pura e simples. Meditação é soma, acréscimo e descobrimento interior. Meditação é tomar consciência do que somos realmente. É tomar consciência do que não somos também.

Meditação é soma, acréscimo e descobrimento interior. Meditação é tomar consciência do que somos realmente. É tomar consciência do que não somos também.

Um despojamento do que é irrisório, do que é efêmero e supérfluo, do que há de real e verdadeiro em nossas vidas. Meditação é se autodescobrir a cada instante, a cada dia, a cada mudança. Meditação é estar presente e entregue a todos os movimentos que ocorrem internamente e a todos os impulsos que damos para fora de nós, para o mundo e para a realidade que acreditamos – por isto nos lançamos. Meditar é acreditar na possibilidade de transformação a partir do singular que habita cada subjetividade, de cada ser.

Seja cada vez mais o que você é

A Meditação não está separada do que somos – ela é o que somos. É ser consciente do que se é. Meditação é um movimento reflexivo do que somos, do que estamos deixando de ser e do que viremos a ser, consciente. Muitas vezes a Meditação não é uma técnica, mas a essência da técnica que desabilita qualquer necessidade de técnica: não temos que aprender a viver – todo ser vivo simplesmente vive. Alguns com mais habilidade, outros com menos intuição. Mas todos sabem viver dentro da realidade que lhes cabe. Não há técnica para se viver, não há mistério ou segredos para ser o que se é – simplesmente deve-se ser e viver. Assim é a Meditação: não é rotina, mas constante estado de presença, sem repetição. Uma pessoa que olha todos os dias o despontar do sol na alvorada e não nota a diferença que existe em cada amanhecer, na verdade nunca viu verdadeiramente o nascer do sol. Alguém que não note a variedade complexa que envolve cada movimento da respiração, não está pronto para viver – está atado aos padrões da mente repetitiva. A Meditação é uma quebra destes paradigmas.

Por isto, a Meditação é um processo que nos revela a liberdade inerente. Enquanto a mente repete os padrões para nos prender, a consciência nos dá as lacunas onde a mente falha, pois não pode preencher todos os espaços – tudo é preenchido pela consciência. A mente não prenche, apenas repete; e repete até mesmo a sensação de uma suposta liberdade, mas é a repetição de um estado vivido de liberdade, não é a verdadeira liberdade, é a sombra de uma experiência de liberdade vivida no passado ou prometida para um futuro. Consciência meditativa é liberdade agora, presente e eterna. Se não for isto, não é Meditação. Pode ser qualquer outra coisa, algum outro nível de experiência psicológica, mas não Meditação.

Meditação é a entrega plena ao momento que se vive, que existe em sua plenitude.

Jayadvaita Das

Jayadvaita Das

Especializou-se em pranayamas, Meditação e Filosofia Vedanta. Escritor, educador e ensaísta. Ministra estudos, cursos, workshops e vivências relacionadas ao Yoga e Espiritualidade.

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