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Depoimento: a felicidade é uma habilidade?

Especialista lista 4 passos para ter mais bem-estar e equilíbrio

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A primeira vez que tentei meditar foi muito frustrante. Sentei, cruzei as pernas, tentei manter a coluna ereta e esvaziar a mente. Em poucos minutos minhas pernas formigavam, minhas costas doíam e minha mente estava ainda mais cheia de preocupações do que antes. Concluí que meditar era realmente muito difícil, que só pessoas que já eram realmente muito evoluídas conseguiriam.

Lendo um livro, anos depois, fiquei surpreso e bastante curioso com uma frase de Richard Davidson, um neurocientista renomado, que dizia: “Nós não costumamos pensar na felicidade como uma habilidade, mas tudo que sabemos sobre o cérebro sugere que a felicidade não é diferente de aprender a tocar violino ou aprender um esporte complexo. Se você praticar, você vai melhorar”.

A minha primeira reação foi querer saber “como”. E movido por esse interesse fui buscar mais informações.

No encontro do ano 2000, Dalai Lama pediu que as ideias discutidas pudessem ser colocadas em prática e levadas ao grande público. Cientistas e mestres em Meditação se reuniram e criaram um programa que combina técnicas de Meditação em um contexto não religioso com modernas ferramentas da psicologia, no intuito de desenvolver a felicidade genuína – um bem-estar profundo que depende menos de condições externas para florescer. Este programa recebeu o nome “Cultivating Emotional Balance” – CEB – (Cultivando Equilíbrio Emocional).Descobri que esse neurocientista faz parte de uma instituição chamada Mind & Life, que tem como missão o entendimento científico da mente visando a diminuição do sofrimento e a promoção do desenvolvimento humano. A instituição surgiu com a intenção de promover uma série de encontros interculturais, nos quais Dalai Lama e cientistas ocidentais teriam longas conversas durante alguns dias. Esses encontros acontecem a cada dois anos desde 1987.

Em 2014, depois de quase uma década praticando Meditação, 15 anos fazendo terapia e alguns outros cursos na área, fui para a Escócia fazer o treinamento de cinco semanas a fim de me tornar instrutor do CEB. Pode parecer esquisito que alguém com uma experiência inicial tão frustrante na meditação venha a se tornar instrutor de um programa que tem a mesma como uma de suas bases.

A verdade é que por diversas vezes o caminho foi confuso. Importamos uma prática que amadureceu em outra cultura, as traduções muitas vezes vêm do tibetano (ou de outra língua) para o inglês e só depois do inglês para o português. Diversos conceitos e terminologias são definidos de formas diferentes por vários autores e, pelo menos para mim, colocar tudo isso junto com conceitos religiosos não ajudava no entendimento. Por isso, foi tão essencial conhecer esses cientistas que dialogavam diretamente com pessoas como Dalai Lama, mas que falavam a nossa língua e viviam na nossa cultura. Assim, pude esclarecer diversos mal-entendidos e aos poucos fui sendo cativado pela prática.

Se pudesse encontrar o meu “eu” do começo desse artigo diria para ele que nada pode ser mais frustrante do que tentar sentar numa postura desconfortável e não pensar em nada, e que Meditação não precisa ser frustrante. Diria também que, assim como o nosso corpo necessita de exercícios físicos para desfrutar de uma boa saúde, a nossa mente também pode se beneficiar de “exercícios mentais” para uma melhor saúde mental. E que assim como saúde física é quase sinônimo de bem-estar físico, saúde mental tem tudo a ver com bem-estar mental.

Da maneira como aprendi no CEB, esse bem-estar mental é baseado no cultivo de quatro esferas de equilíbrio que podemos praticar e estudar de forma separada, mas que possuem imensa sinergia entre elas. São elas:

  1. Equilíbrio Conativo – Consiste em discriminar intenções e desejos que estejam alinhados com o cultivo do nosso bem-estar e do bem-estar do próximo. Desejos acontecem conosco e precisamos de uma consciência presente e de técnicas para cultivar desejos condizentes com nosso bem-estar.
  2. Equilíbrio da Atenção – Poucas coisas têm uma relação tão direta com o nosso bem-estar quanto a nossa atenção. Nossa realidade é composta por aquelas coisas que prestamos atenção. Praticar este equilíbrio é “afinar o instrumento” da nossa atenção para que possamos focar no que realmente importa e adquirir maior liberdade interna em relação a hábitos mentais que já não contribuem com o nosso bem-estar.
  3. Equilíbrio Cognitivo – Na prática do Equilíbrio Cognitivo nós buscamos afinar a nossa percepção com a realidade como ela realmente é. Aplicando o discernimento a avaliações automáticas que fazemos e que limitam nossa visão da realidade e nosso crescimento pessoal. Possibilitando que consigamos ver a nós mesmos, pessoas e situações de forma mais clara possível e não apenas a nossa versão da realidade.
  4. Equilíbrio Emocional – O Equilíbrio Emocional é de certa forma o resultado do cultivo dos outros três equilíbrios. Aqui também investigamos o papel das emoções na nossa vida e relações e sua influência no nosso bem-estar.
Duda Nascimento

Duda Nascimento

É instrutor internacional do curso Cultivating Emotional Balance, dentre outros cursos de Meditação, psicologia e desenvolvimento pessoal, e colaborador da Sati Education - eduardo.arnascimento@gmail.com

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