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Você vive se sentindo culpado? Saber origem da culpa evita autopunição

Aprenda a lidar com esse sentimento e resgate sua autoestima. Às vezes é preciso ajuda para se libertar

Atualizado em

Um dos grandes obstáculos para ter uma autoestima saudável é o sentimento de culpa, que pode causar angústia e impedir o avanço em direção aos seus objetivos. Sentir culpa é natural, mas geralmente há uma força inconsciente por trás.

As culpas imaginárias e transgeracionais (transmitidas através de gerações da família) são as mais perigosas pois podem prejudicar aos poucos nossa autoestima e causar sentimentos de angústia e tristezas intensas. É necessário compreender esse sentimento e entender como ele surgiu, para buscar soluções e maneiras positivas de lidar com ele.

De onde vem o sentimento da culpa?

É necessário prestar atenção quando a culpa vem à tona e fazer algumas perguntas:

  1. Algo foi feito efetivamente para gerar este sentimento?
  2. Um fato ocorreu e alguém foi prejudicado? Ou é o seu próprio julgamento que lhe condena?
  3. Há um motivo para a culpa ou é simplesmente um sentimento com o qual você convive na maior parte do tempo?

Como resolver o sentimento da culpa

A culpa mais fácil de resolver é a concreta, que surge a partir de algum ato cometido. Neste caso, mesmo que seja doloroso, é uma oportunidade de aprender e melhorar a autoestima. Para isso é preciso ter integridade e reconhecer o erro cometido. Caso alguém tenha sido prejudicado, faça algo para reparar ou minimizar os danos. Procure entender os motivos que te levaram a agir desta maneira, aceite e reconheça a sua responsabilidade. Então se comprometa a estar mais consciente daquele comportamento e não permitir que se repita.

Essas atitudes aumentam a autoestima, pois nos responsabilizamos pelos erros e aprendemos com ele. Em contrapartida, não reconhecer e ficar apenas no papel de culpada (o)s, tende a  paralisar você e impedir que a mudança e o crescimento ocorram. Ficar constantemente se desculpando sem rever as atitudes prejudica tanto a autoestima, quanto sua evolução pessoal.

O que fazer quando não souber identificar a origem da culpa

As culpas que são presentes de uma maneira constante em nossas vidas podem ser derivadas de crimes imaginários, aquilo que acreditamos ter cometido em algum momento.  Elas estão presentes no inconsciente e com isso fica mais difícil de identificar sua origem, já que qualquer fato cotidiano pode ativá-las. Contudo, se procurarmos ir mais fundo no processo de autoconhecimento, podemos achar o estopim deste sentimento que representa uma autopunição.

Segundo os doutores Lewis Engel e Tom Ferguson autores do livro “Seis Crimes Imaginários”, existem algumas formas de culpas ocultas que podem gerar algum processo de autopunição ou autossabotagem. Abaixo, explico melhor sobre os crimes imaginários abordados por eles:

Crime de suplantar

Ocorre quando alguém se sente culpado inconscientemente por ir além da sua família, ou seja, é bem sucedido em alguma área que os pais e/ou irmãos não foram.

Crime de sobrecarregar

Ocorre quando alguém pode carregar sentimentos que foram um peso para a família, devido a alguma doença, deficiência, ou até maneira de ser. Estas pessoas podem ter ouvido de maneira constante quando crianças que só davam trabalho e causavam transtornos.

Crime de roubar amor

Gera culpa inconsciente naqueles que foram mais destacados que seus irmãos ou mais valorizados por um dos pais. Estas pessoas podem sentir que receberam mais atenção e cuidados, por qualquer razão, e com isso os outros tiveram menos afeto. Aqui podemos incluir o crime do sobrevivente. Se um pai ou irmão morre, podemos sentir culpa por estarmos vivos ou sentir que fomos responsáveis pela sua morte (muito comum em adultos que perderam pais ou irmãos quando eram crianças).

Crime de abandono

Pode surgir quando saímos da casa dos pais ou mudamos de país para viver uma vida mais independente. Se os pais ficam tristes e infelizes com a ausência, a culpa pode se instalar de forma inconsciente.

Crime da maldade básica

Diz respeito a inúmeras mensagens negativas ou negligência que foram vivenciadas na infância que futuramente faz o adulto acreditar que é mal apenas por existir.

O crime de deslealdade

Cometido quando criticamos duramente os pais, desrespeitarmos regras familiares ou rejeitamos algo importante para a família como a religião, profissão ou estilo de vida. De certa forma todos os outros crimes também dizem respeito a uma lealdade familiar invisível.

A culpa oculta gerada por cada um destes crimes pode nos prejudicar em diversas áreas da vida, gerando algum tipo de autopunição que prejudica nosso sucesso, intimidade, prazer, espiritualidade ou vida social. A autossabotagem que se repete muitas vezes em determinada área pode estar relacionada a essa punição que nos infringimos por algum crime imaginário.

Reconhecer nossa atitude aqui e agora para ir além

Calma! Se chegou até aqui e se identificou com todos os crimes, não se desespere nem se culpe mais ainda, há solução!

Liberar as culpas que não nos pertencem é o grande desafio. O melhor a fazer é reconhecer e se responsabilizar pelos erros cometidos.

Antes de qualquer coisa, se pergunte se não está se apegando a culpa. Você pode se perguntar: porque alguém faria isso? Se simplesmente nos denominamos culpados por tudo, isso gera passividade e imprime a impressão de que não precisamos fazer nada para ir além. Você envia a mensagem: “Não espere nada de mim”, e assim não se desafia a ser diferente. Esta postura prejudica nossa autoestima que tende a ser baixa a medida que vamos acumulando culpas e mais culpas em nossa conta interna. 

O melhor a fazer é reconhecer e se responsabilizar pelos erros cometidos. Talvez seja possível reparação, ou não. O mais importante é o desejo de ir além. Liberar as culpas que não nos pertencem é o grande desafio.

Precisamos aprender a dialogar com nosso inconsciente. Nós temos a sabedoria interna que pode nos absolver de todos estes crimes. Faz parte do processo de autoconhecimento, que deve ser constante. Um bom exercício para fazer é escrever. Ter um diário e começar a registrar seus sentimentos. Com isso, você começa a se apropriar e a reconhecer cada situação do passado que pode lhe assombrar.

Outro exercício é  fazer duas listas, uma de objetivos, o que deseja para cada área de sua vida, e outra de obstáculos, o que acha que te impede de conseguir tudo isso que listou. Nesta segunda lista devem aparecer as crenças que te limitam, que provocam autopunição e lhe impedem de avançar. É muito importante não negar nada, por pior que pareça.

O primeiro passo para que seja possível mudar algo é reconhecer e aceitar que existe. A medida que você aceita e até concorda com a culpa tal como é, pode assumir uma postura de adulto e está pronto para lidar com ela e suas consequências. Contudo, se a culpa for muito oculta talvez seja necessária a ajuda de um profissional para lhe ajudar a cavar mais fundo.

Maria Cristina

Maria Cristina

É psicóloga sistêmica. Atua com traumas pela abordagem Somatic Experience® além de abordar outras questões de relações interpessoais, autoestima e postura diante da vida. Atende online e presencialmente na cidade de Belo Horizonte.

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