Tarot e Carnaval: a revolução dos sentidos
Há uma alquimia comum entre quem embaralha cartas do Tarot sob a luz de uma vela e quem dança até o amanhecer no Carnaval
Por Zoe de Camaris
Há uma alquimia comum entre quem embaralha cartas do Tarot sob a luz de uma vela e quem dança até o amanhecer atrás de um trio elétrico no Carnaval. Ambos são navegadores do caos – artistas que sabem que a verdade mais profunda raramente se mostra de capa preta e postura séria.
Às vezes, ela vem vestida de purpurina, entre risos e tambores, ou escondida nas dobras de um arcano que você jurou ter entendido na última consulta.
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Carnavalização
O Carnaval é o avesso do mundo engomado. Nas ruas, o gari vira rei, o tímido se transforma em diva, e o chefe que grita no escritório desfila como palhaço de nariz vermelho.
Mikhail Bakhtin, filósofo russo com faro para a folia, chamava isso de “carnavalização”: um tempo sagrado onde as máscaras não mentem, mas revelam o que o cotidiano esconde.
Enquanto isso, na mesa do Tarot, o consulente descobre que A Torre – aquela carta que derruba castelos de certezas – não é tragédia, mas convite para dançar nos escombros. Tudo vira jogo, até o que dói.
Victor Turner, antropólogo que estudou ritos africanos como quem decifra passos de samba, falava de “liminaridade”: momentos em que a vida vira um portal e tudo pode ser reinventado.
É o que acontece quando as cartas são embaralhadas – gesto rápido que desarruma o destino como um vento forte desmancha um castelo de areia. Ou quando o primeiro surdo ecoa na avenida e a multidão vira um só corpo. Em ambos os casos, o caos não é acidente: é linguagem.
Nas lâminas do tarot, arquétipos usam máscaras mais elaboradas que qualquer fantasia de bloco.
- O Mago, de cetro erguido, poderia ser o malandro que comanda a bateria, transformando ritmo em êxtase.
- A Força, domando o leão com mãos nuas, lembra a passista que equilibra uma pluma gigante no meio do caos.
- E O Sol, radiante e dourado, é a própria encarnação do Carnaval – festa que ilumina até as sombras que carregamos no bolso.
Gratidão e inquietação
Mas qual é o sentido de tanto barulho, tanto símbolo, tanta inversão? Talvez seja o mesmo de um poema de Drummond ou de um solo de cavaquinho: lembrar que a vida não cabe em planilhas.
O Carnaval suspende o relógio; o tarô embaralha o futuro. Ambos sussurram que somos mais complexos (e mais livres!) do que imaginamos.
Que A Estrela no baralho não é destino fixo, mas um passo de frevo sob o céu noturno. Que a mesma energia que faz um corpo suar no bloco é a que pulsa nas constelações do mapa astral.
No fim da folia, quando as últimas serpentinas caem e as cartas voltam à caixa, resta um silêncio que não é vazio. É o mesmo que fica depois de um grande amor ou de um verso perfeito: uma mistura de gratidão e inquietação.
Porque o Carnaval, como o tarot, não oferece respostas – oferece perguntas melhores. E, no meio da bagunça, entre confetes e arcanos, descobrimos que viver é isso aqui: aprender a rir das certezas, dançar com os mistérios, e, vez ou outra, deixar que o caos nos guie até a próxima esquina.
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Há 38 anos fortalecendo a arte do Tarot, Zoe é escritora, formada em Letras e com especialização em História Social da Linguagem. Presta consultoria de mitologia e análise simbólica em obras de ficção literária e cinematográfica. Leituras presenciais em Curitiba e consultas on-line podem ser agendadas pelo endereço zoedecamaris@gmail.com.
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