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Já escreveu em seu diário hoje?

Faça do hábito de escrever um exercício de autoconhecimento

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Que tal começar a escrever um diário? Algumas pessoas veem esse hábito como um comportamento que remete à adolescência. O cadeado que o trancava vinha como um símbolo da necessária construção de fronteiras que vivemos nessa fase da vida. Por tal visão, chegando à fase adulta as pessoas evitam tal hábito por achá-lo infantil, bobo, próprio só para guardar segredos. Mas, na verdade, o exercício de registrar sentimentos, fatos, pensamentos só para si mesmo é um caminho belíssimo de autoconhecimento e crescimento pessoal. Todos nós precisamos de espaço para entrar em contato com as nossas emoções e o diário pode ser uma importante via de acesso.

Apesar de ser uma atividade mais reconhecida no mundo feminino, escrever sobre seus sentimentos pode ser um exercício e tanto também para os homens. Por que não?

Divido com vocês uma experiência pessoal: eu tenho meu próprio diário! No meu caso, optei por não comprar aqueles diários prontos. Escolhi o papel que eu desejava, o material para a capa, que depois iria decorar ao meu modo, e decidi encadernar. Como queria um caderno pequeno pedi que fizessem o corte das folhas ao meio. Mas o atendente me informou que eles não faziam o serviço de corte. Ele disse que me emprestaria a guilhotina para que eu mesma cortasse (fiquei me perguntando: se não fazem o serviço de corte por que têm uma guilhotina?!). Aceitei, fui cortando aos poucos, pegando pequenos montes, encaixando na guilhotina, medindo à minha maneira… Minhas folhas ficaram totalmente tortas, como era de se esperar! Tive que aparar arestas, cortei, lixei e, ainda assim, ali estavam as marcas da imperfeição. Em princípio fiquei decepcionada, mas depois veio a reflexão: que ótima maneira de me encontrar com minhas arestas internas!

Escrevendo no diário temos a experiência de expor os sentimentos aos próprios olhos, ver as palavras dando forma ao que se encontra confuso dentro de nós. Ele forma um todo, reunindo os textos em uma só narrativa de nossa alma. O que antes era só alguns fragmentos desconexos, vai ganhando um sentido. Ali você entra em contato com suas incongruências, suas interrogações, pode se deparar com seu modo típico de encarar as situações. A hesitação e a coragem dançam diante de seus olhos. Sem nenhum ensaio, a trama da vida se mostra para nós. As palavras surgem como setas nos mostrando o caminho. A alma deixa-se mostrar quando lhe damos espaço.

O desabafo permite que o calor emocional aos poucos passe e consigamos enxergar o que está além. O diário é um companheiro nessa jornada, ele é o registro do que carregamos aqui dentro. Nessa tarefa temos a possibilidade de ver por outro ângulo, ler e reler a nossa história, ressignificar. Cada ato pode trazer muitas reflexões, além do registro que fica de tudo isso. Estar diante da folha em branco, o modo como encerramos ou retomamos a escrita, como nos sentimos enquanto nos vemos escrever… Tudo que surge ao longo do processo também é meio para nos conhecermos. Ali você pode encontrar espaço para traçar planos, organizar ideias, distrair-se, colocar para fora o que incomoda. Você é quem decide conforme o momento.

Procure pelo “Querido diário”, reserve esse tempo e esse espaço para seus registros pessoais. Só você, a caneta, o papel, os sentimentos e as palavras. Uma forma simples e, ao mesmo tempo, profunda de se escutar e de se encontrar.

Juliana Garcia

Juliana Garcia

Psicóloga graduada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), pós-graduada em Psicodrama pelo Instituto Mineiro de Psicodrama Jacob Levy Moreno, pós-graduanda em Análise Junguiana e Arteterapia. Trabalha temas ligados ao universo inconsciente dos sonhos, autenticidade, coragem e transições de vida. Especializada na condução de grupos de estudos do livro “Mulheres que correm com os lobos”.

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