Entrevista com Alexey Dodsworth
Autor de "Os Seis Caminhos do Amor" fala sobre felicidade e esperança
Por Personare
No livro Os Seis Caminhos do Amor, Alexey Dodsworth explica que uma condição fundamental para alcançar a felicidade é deixar de confundir esperança com desejo. Entenda melhor nesse bate-papo com o autor e confira a versão em vídeo logo abaixo.
Muitos de nós sentimos pressões (externas e internas) por estar sempre “por cima”, alegres, embora saibamos que a vida é feita de altos e baixos. Como a Filosofia pode nos ajudar a lidar com isso?
Este é um dos problemas mais sérios da sociedade contemporânea. É a “felicidade instantânea” prometida não apenas pelas drogas lícitas ou ilícitas, como também por alguns livros de autoajuda. O que o estudo da Filosofia faz é estimular em nós uma maturidade que normalmente só vem com o passar dos anos, e esta maturidade implica em aceitar, sim, que podemos e devemos ficar tristes. Faz parte da vida passar por fases de luto e lamento por algo que perdemos. Enquanto não aceitarmos a parcela de tristeza que há na vida, não estaremos prontos para a felicidade. Já há sabedoria mínima em compreender que o efeito colateral do presente da vida é eventualmente passar por momentos tristes. E o que a Filosofia mostra é que não precisamos esperar a velhice para nos tornarmos mais sábios. Podemos aprender a partir dos bons clássicos da Filosofia. Mas não existe um “como a Filosofia pode ajudar” para todos, até porque a Filosofia não ajuda ninguém a partir de fórmulas prontas. Se houvesse este manual padrão com regras, não seria Filosofia, seria um livro de receitas de algum bolo. E este é um dos melhores ensinamentos da Filosofia: não há um “como fazer” universal, para todos os seres humanos. Há, entretanto, uma prerrogativa comum, pelo menos: encarar as ilusões, mesmo que elas doam. Filosofar implica preferir uma verdade triste do que uma mentira alegre, diz o francês Sponville. E eu concordo. Há quem prefira a mentira alegre, mas isso não é nada filosófico, nem lá muito sábio.
Acompanhamos no Fórum Personare inúmeras histórias de pessoas que se consideram infelizes na vida amorosa, algumas porque não têm um amor, outras porque já o tem, mas continuam sentindo falta de algo mais. Por que estamos sempre em busca desse algo que nos falta?
Porque estamos vivos, e estar vivo é desejar. É o desejo que nos mobiliza a continuar existindo. Aquele que não deseja nada, é porque já morreu. Mas não é verdade que estamos sempre em busca de algo que nos falta. Fazemos isso muito, é verdade, mas é possível perfeitamente desejar o que não nos falta. Garanto que, com um mínimo de meditação, todos nós nos tocamos que desejamos um monte de coisas que é efetivamente nossa. Um bom começo é pensar seriamente, sempre que desejamos algo: eu realmente preciso disso? Se pensarmos bem, entenderemos que muitos de nossos desejos são estimulados apenas pela histeria do consumo. Note como isso se aplica também aos relacionamentos: é verdade que, com a internet, nos relacionamos mais. Mas também temos tanta oferta de possíveis relacionamentos, que muitos de nós terminam caindo na armadilha de desejar o que não se tem, pois as pessoas estão ali, na vitrine, como produtos numa loja. Isso tudo é delicado, não num sentido moralista, mas porque somos estimulados a crer que o que não temos, ou que o que está distante, é melhor do que o que temos. Sabedoria também significa saber valorizar o que se tem, e ser grato por isso. Não falo de não se ter ambição. Mas até mesmo na ambição é melhor desejar o que é possível do que desejar algo que nos torna impotentes. Eu, por exemplo, sou formado em filosofia e ainda não sou em astronomia, e desejo isso, desejo o que não tenho, mas ser astrônomo é um DESEJO, e não uma esperança. E desejar o que ainda não tenho (ser astrônomo) não me faz deixar de desejar o que tenho (ser bacharel em filosofia). Dizer que eu desejo significa que eu faço coisas para que isso aconteça. Me formar, afinal, não é um sorteio. Esperança eu tenho se e quando jogo na loteria. Já pensou alguém dizer que tem esperança de se formar? Significa que ela tem medo de não se formar. Talvez porque não esteja fazendo por merecer. O mesmo vale para qualquer coisa na vida.
Você acredita ser possível uma reeducação de nosso modo de viver os relacionamentos afetivos?
Sim, claro que sim, até porque nós vivemos os nossos relacionamentos afetivos do jeito que vivemos atualmente porque aprendemos deste jeito. Se somos educados de um jeito, podemos nos reeducar de outro. Cada cultura educa os povos, e assim estabelece uma suposta “verdade” que se impõe como regra das relações. É um trabalho e tanto, e não é fácil, ultrapassar os condicionamentos recebidos, questionar o nosso próprio modo de viver as relações e reescrever a própria história. Não é fácil, mas é perfeitamente possível. Muita gente faz isso. Conheço muita gente, por exemplo, que admite que não é ciumenta, mas que aprendeu que deveria sê-lo, pois isso era “normal”. Ela foi educada para ser ciumenta. Pode se reeducar em outro sentido, claro.
No livro “Os Seis Caminhos do Amor”, você explica que costumamos confundir desejo com esperança. Como diferenciá-los no cotidiano?
A esperança é uma classe do desejo, conforme bem explica o filósofo francês Comte-Sponville. Mas a esperança é sempre um desejo impotente, um desejo ignorante ou um desejo por algo que não se tem. Impotente, porque cultivamos esperança quando não podemos fazer nada. Sempre que eu posso fazer alguma coisa, não é mera esperança. É desejo. A esperança é ignorante, porque se manifesta sempre que não sabemos o que vai acontecer. Quando temos um bom grau de probabilidade do que vai acontecer, mesmo que não seja garantido, não é esperança, é confiança. A esperança também é um desejo por algo que não temos. Mas também desejamos o que temos, e isso não é “esperança”, pois nada temos que esperar.
Outra boa forma de distinguir é a seguinte: a esperança sempre vem acompanhada do medo. O desejo, não. Você está com a pessoa amada, você a deseja. Você não sente medo. Se sente medo, é porque ignora se a pessoa te ama e tem esperança que ela te ame. A melhor forma de distinguir é esta: há medo ou não há medo acompanhado do seu desejo? Se há medo, e você está submetido à esperança, é possível superá-la respondendo à seguinte questão: o que, quando e como eu posso fazer alguma coisa para resolver isso?
Se não há nada que você pode fazer agora, vá cuidar de outras coisas. Vá desejar o que você pode ter, fazer ou usufruir. Vá aproveitar, na vida, as coisas que não te dão medo. Quando e se você puder fazer alguma coisa pelo que não pôde fazer antes, aí sim você age. Desistir temporariamente é uma das mais poderosas estratégias na arte da vida.
Como não nos deixar levar pelas “armadilhas da esperança”?
Apesar de, no livro, eu dizer “chega de esperança!”, estou ciente de que é impossível eliminá-la. Matar a esperança completamente é eliminar nossos sonhos, e não há problema algum com sonhos, contanto não vivamos em função deles. Uma coisa é você ter sonhos, outra é o sonho ter você. Uma forma boa de sacar se a esperança te prendeu numa armadilha, é avaliar se você perde muito tempo desejando algo que não tem, ou algo sobre o qual nada pode fazer. Ora, se você deseja algo e não tem poder algum para fazer qualquer coisa, melhor procurar outra coisa para fazer. Desistir de alguns sonhos não é vergonha alguma, não é problema algum, e chega a ser venenoso tentar convencer as pessoas a nunca abandonarem um sonho. Às vezes, tudo o que elas precisam é, isso sim, deixar alguns sonhos pra lá. Ou, pelo menos, deixa-los para lá até que surja a possibilidade de, aí sim, ser possível fazer alguma coisa. Não somos onipotentes, e nem devemos nos sentir mal por não sê-lo. A autoajuda contemporânea comete este equívoco terrível de tentar convencer as pessoas de que elas podem, sim, conquistar tudo o que quiserem. Isso, evidentemente, não é verdade. Quanto à outra modalidade da esperança, que é “desejar o que não se tem”, esta é uma armadilha muito perigosa, pois nos torna ingratos. Há tantas coisas que efetivamente temos, afinal! Se há algo que eu desejo e não posso ter (pelo menos não ainda), devo tratar de desejar mais ainda o que efetivamente já tenho. Um bom exercício é meditar sobre a possível perda. Pense: e se isso que você tem desaparecesse? Sempre que me sinto mal pelo que não tenho, me dou conta de quantas pessoas neste mundo não têm coisas básicas, tais quais comida, roupa, saúde. E eu tenho tudo isso. E é aí que eu me toco que sou muito mais feliz do que imaginava. Felicidade, em grande parte, tem a ver com a gratidão que você tem para consigo mesmo e para com as coisas e pessoas que estão sob sua esfera de afeto.
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