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Decisão Intuitiva: O Papel da Intuição na Tomada de Decisões

Como conceber uma decisão intuitiva. Saiba mais sobre essa valiosa ferramenta psicológica que é a intuição.

Atualizado em

A decisão intuitiva é tida como um fluxo espontâneo de reconhecimento e interpretação de dados diante de um problema, seguida de uma escolha estratégica de ação para resolve-lo. 

Este processo decisório não segue necessariamente um caminho linear, mas pode ser o recurso mais valioso e criativo para ultrapassar as rigidezes que obstruem nossa caminhada.

A intuição é uma função psicológica que nos ajuda a processar e perceber diversas informações que não aparecem no pensamento lógico racional.   

Sabemos que há muito a se considerar antes de uma tomada de decisão. Geralmente usamos nossa função racional nesses momentos. Porém, nem sempre temos tempo hábil, informações fidedignas e nem mesmo o controle sobre os resultados das nossas escolhas do ponto de vista de causa e efeito.

A intuição auxilia em lidar com essas situações de incerteza, de pressão e imprevisibilidade ao aportar à consciência soluções criativas e versáteis. No entanto, esta ferramenta costuma ser mal compreendida ou subestimada. 

Neste artigo vou apresentar o valor da decisão intuitiva para fazer boas escolhas e sua complementariedade àquelas decisões que levam em conta apenas critérios lógicos racionais.

Processo de tomada da decisão intuitiva

Seja para algo simples, como que roupa usar, até escolhas complexas, como qual profissão seguir, há aspectos que vão além dos critérios lógicos, objetivos e mesmo afetivos à disposição. 

Porém, quando vamos analisar os detalhes da nossa experiência imediata para extrair dados que nos permitam decidir que direção tomar, geralmente nos focamos em nossos cinco sentidos. 

Vamos seguir juntos com a situação mais simples e hipotética da escolha da roupa para sair de casa pela manhã. Podemos buscar a segurança desta decisão mais convencional nos detalhes: 

Que cores e modelos de roupas estão limpas e passadas para eu usar? Está calor ou frio? Hoje sinto-me mais recolhida, e como o evento é uma audiência vou usar esse tailleur oliva. 

Acionamos os sentidos da visão, do tato e do olfato. A apreensão da realidade parece se dar pelos detalhes mais concretos. Com os dados em mãos, avaliamos. Observem que, neste exemplo, o sentimento e o pensamento julgam as informações recolhidas e dão o veredito final. 

O roteiro, porém, poderia ter sido outro bem diferente se guiado pela decisão intuiva. 

Cenários para decisão intuitiva

  • Primeiro cenário de uma decisão intuitiva: você vislumbra de relance um vestido que usou num almoço agradável com uma amiga que não vê há muito tempo. Então, decide colocá-lo, quase como uma maneira de se aproximar dela. A roupa se adequa também aos outros critérios, então lhe parece perfeita. Resultado: ao chegar no Fórum você encontra sua amiga na café por acaso, abraçam-se e você vai muito mais leve para a audiência.
  • Segundo cenário de uma decisão intuitiva: ao ver um vestido, você recorda de um sonho que teve nesta mesma noite. O desfecho foi agradável porque você usava exatamente aquela roupa. Embalada pelas imagens oníricas e os sentimentos suscitados por elas, você decide usar aquele vestido. Ao chegar na audiência, tudo corre da melhor maneira e o desfecho surpreendentemente lhe faz lembrar do sentimento do sonho novamente.

Como você captou a informação para decidir a roupa nesses dois exemplos? Com sua intuição. Na psicologia junguiana, ela é uma função psicológica para apreensão da realidade tão valiosa quanto a percepção sensorial.

Estes eventos sincrônicos que descrevi acima foram favorecidos pelo contato com a intuição, longe de estarem fundados numa lógica de causa e efeito. 

Isso é explicado porque antes mesmo do homem desenvolver o pensamento abstrato e a linguagem racional, como bem pontuou Carl G. Jung, a comunicação entre membros de um mesmo grupo se dava através do pensamento simbólico, fundado no mundo das imagens. 

A mitologia dos povos antigos, por exemplo, é uma forma de comunicação das verdades mais profundas do ser humano, comunicada através de um pensamento simbólico, mas que hoje nos parece “irreal” e “fantasiosa”. 

O mesmo ocorre com outras linguagens simbólicas, como a astrologia e o próprio mundo onírico, os sonhos que nos visitam a cada noite.

Fatores que influenciam a Intuição

Mas, como faço para acessar esse recurso precioso e passar a tomar uma decisão intuitiva?

Para aproximar-se mais das suas intuições e interpretar com a maior precisão possível o que elas querem dizer é importante valorizar as linguagens que não são lógico-racionais, familiarizando-se com o mundo das imagens. 

Em um processo de análise junguiana esta é a abordagem principal. Mas certamente o relacionamento com a intuição pode e deve ser feito independente de qualquer outra pessoa, além de si mesmo. 

Faço então uma lista para você começar bem no uso desse recurso tão valioso para tomada de decisões complexas e até mesmo sob pressão: 

  • Anote seus sonhos, acompanhe os símbolos e personagens que ali se apresentam. Descreva como se modificam a depender do contexto que você estiver vivendo e do que estiver sentindo;
  • Leia e encante-se com as mitologias dos mais variados povos; 
  • Aproxime-se das mais variadas linguagens artísticas, seja pela literatura, pelo cinema, artes plásticas ou fotografia;
  • Feche os olhos para o mundo material e medite ou imagine cenários e situações. Depois reproduza / registre da forma que puder as imagens que acessou através de desenhos, colagens ou outras formas de artes plásticas;

O importante é que você consiga conectar-se aos sentidos para os quais as imagens apontam, mesmo que não seja possível transcreve-los para a forma conceitual, de pensamento abstrato.

Intuição versus Análise Racional?

Voltando ao exemplo da escolha da roupa para sair de casa pela manhã, pretendo destacar o quanto a decisão intuitiva e a tomada de decisão baseada na análise racional são complementares e ficam deficitárias e incompletas quando aplicadas isoladamente.

Carl G. Jung explica que a psique humana funciona operando segundo quatro funções psicológicas principais: a intuição, o pensamento, o sentimento e a sensação. 

Isso significa que algumas pessoas são mais intuitivas que outras. Como tudo na vida, o ideal é que os pontos menos desenvolvidos possam chegar à consciência de forma que possamos lançar mão de suas ferramentas. Ou melhor, a decisão intuitiva e a decisão racional podem ser complementares.

Afinal, de que adianta uma pessoa intuitiva ser expert em coletar informações inconscientes e ficar a par do futuro ainda oculto, mas não conseguir julga-los adequadamente para tomar decisões e nem colocar em prática seus objetivos para realizar-se na vida? 

Por outro lado, na mesma medida, alguém que opere numa lógica puramente racional, ou valorativa dos dados que obtém, carece de uma visão mais ampla e mais criativa das possibilidades de futuro. 

Nesses casos, muitas vezes, as pessoas não acessam a decisão intuitiva e ficam restritas a soluções burocráticas, procrastinando as decisões mais estratégicas. Isso acarreta perda de sentido e significado para as suas vidas.

Aplicações Práticas da Intuição

Podemos encontrar exemplos da aplicação prática da decisão intuitiva nos mais variados campos, mas aqui focarei no campo do esporte e da música.

Ricardo Poli, instrutor do Método DeRose, explica que o foco total no momento presente e a proximidade maior com as atividades corporais fazem da prática da maioria dos esportes uma ocasião favorável para acessarmos um dos canais de intuição que mencionei acima, a meditação.

Em atividades que exijam um grau mais profundo de concentração, os insights podem aparecer através dos movimentos de repetição, que são quase ritualísticos.

No caso de Poli, ele cita as sensações geradas pelo toque da água no seu corpo ao nadar, quando contempla os sons, a respiração, o movimento dos músculos sendo exigidos, o corpo deslizando, etc.

Quando visitei o reservatório de água da Casa Batló em Barcelona, vivi uma experiência assim. O ruído contínuo das águas me fez ter a sensação de estar dentro do útero.

Deitei no chão e, sem mediação do racional e de nada artificial alterando minha consciência, de repente senti entrar em um estado contemplativo de silêncio absoluto interior. Neste momento algumas imagens vieram à mente e pude entender que estava em contato direto com minha intuição. A decisão intuitiva que veio dali mudou o curso da minha vida naquela cidade.

Para ter em mente

Vimos aqui que apesar de suplantada em nossa consciência pela razão e pelo pensamento abstrato, a intuição resiste tão viva quanto antes em nossos inconscientes individuais e no inconsciente coletivo, podendo ser acessada sempre que houver interesse e disponibilidade psicológica do indivíduo. Suas aplicações práticas podem ser transformadoras para o seu futuro. 

Lembrando que a intuição pode ser usada em várias etapas do processo decisório, como ver o problema com maior profundidade e identificar opções não tão óbvias, reunir informações que vão além dos dados concretos, visualisar e imaginar possibilidades que vão além.  

Porém, vale frisar a importância de conhecer a si mesmo, suas características individuais, suas capacidades e também suas limitações para não se atropelar. Por isso o controle da impulsividade é desejável, especialmente para não tomar decisões baseado na expectativa dos outros sobre você. 

Tenha planos alternativos, a decisão intuição nos permite vislumbrar os mais variados cenários, pois ativa nossa criatividade. Desse modo, não analise demais e não deixe que o medo o paralise, pois cada decisão é uma oportunidade de realização.

Seja qual for o meio que utilize para acessar essa função psicológica da intuição, saiba que ao trilhar os caminhos de comunicação com essa ferramenta do inconsciente, ela poderá lhe trazer recursos valiosos para uma tomada de decisão mais integrada com um futuro promissor. Convido você a realizar essa jornada. 

Marianna Protázio

Marianna Protázio

Psicóloga, Psicoterapeuta Junguiana, Mestre e Doutora nas áreas de Ciências da Literatura e Estudos de Mulheres, Gênero e Cultura. Atuação clínica voltada aos desafios contemporâneos do feminino, por um olhar que busca, nas imagens e símbolos, autenticidade e criatividade. Fundadora do site Psique Criativa, que aborda temas como relacionamento, sexualidade, vocação, sonhos e autoconhecimento.

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