Casais que moram em casas separadas
Espaços próprios preservam a individualidade e evitam a rotina
Por Celia Lima
Nos últimos tempos venho percebendo que uma nova modalidade de relacionamento vem se instalando entre os casais, que não chega a ser um casamento, mas é mais que um simples namoro. O namoro pressupõe um tipo de relacionamento em que o casal se encontra nos finais de semana ou, mais de uma vez durante a semana, mantém contato virtual – seja por telefone, torpedos ou via internet – e se presta a curtir bons momentos e aprofundar o conhecimento sobre o outro. Geralmente a vida sexual é ativa e o acordo é de fidelidade. Com o passar do tempo esse relacionamento pode ou não vir a desembocar num casamento.
O casamento pressupõe uma união debaixo do mesmo teto, geralmente com o objetivo de constituir uma família. Nos moldes convencionais, as pessoas se casam por interesses afetivos mútuos e fazem planos para adquirir bens materiais, crescer e amadurecer emocionalmente e ter filhos. Também pretendem garantir uma segurança sólida, trazendo conforto íntimo para ambos.
É claro que existe um sem número de variações sobre o mesmo tema, mas de modo geral, namoro e casamento ainda conservam as mesmas características e intenções há muitos anos.
Não é namoro e nem casamento
Mas parece que os casais encontraram uma terceira via de relacionamento e isso ocorre normalmente quando ambos já têm uma certa estabilidade profissional e financeira. São casais que usualmente já passaram por algumas experiências afetivas e ao mesmo tempo estão numa idade – por volta de 30 anos – em que já traçaram planos individuais de conquistas na carreira e satisfação de desejos de consumo. Outra situação em que essa modalidade de relação vem se tornando frequente é entre pessoas divorciadas, cujos filhos já estão crescidos. São pessoas que não querem abrir mão de uma vida já estável e construída e que, ainda assim, desejam um parceiro estável para partilhar seu afeto, seus planos, seus pensamentos ou suas dúvidas de forma madura.
Assim, assumir um casamento convencional parece ser limitador na medida em que fazer muitas coisas juntos pode atrapalhar ou interferir nos planos individuais, que passam por experiências no exterior, aperfeiçoamento nos estudos e oportunidades profissionais importantes, além do desejo de manter e cultivar o grupo pessoal de amigos e assim por diante. Por outro lado, o namoro pode se mostrar débil, uma relação frágil demais quando esse casal se mostra de fato interessado na construção de uma vida mais plena e comprometida.
Espaços próprios
A saída, muitas vezes até mesmo definitiva, tem sido o cultivo de um espaço próprio para cada um – uma casa com toda a infraestrutura, ao gosto e administração próprios, com as portas semi-abertas para o companheiro. Eu digo semi-abertas porque nesse tipo de relação cabe especialmente a opção de ficar solitário, seja para que o “respiro” da relação aconteça, seja para se manter em contato consigo mesmo e com o universo que cada um construiu e estabeleceu para si.
Desta forma, algumas vezes ou até mesmo na maior parte do tempo, um dorme na casa do outro, mas não mora lá. E ambos se sentem livres para voltar para suas casas sem que isso cause qualquer constrangimento ou impacto negativo.
Obviamente não existe receita para que relacionamento algum seja eterno, mas essa convivência pode obter sucesso se alguns preceitos básicos forem observados:
- Vale ter uma gaveta e alguns cabides na casa para guardar seus objetos pessoais, mas não vale ocupar metade do guarda-roupa do parceiro.
- É justo levar alimentos que só você consome e usar a geladeira, mas é invasivo fazer toda a compra de supermercado, desrespeitando os gostos ou as marcas preferidas pelo dono da casa.
- É necessário estabelecer limites saudáveis para evitar constrangimentos, e aí entram os acordos sobre atender ou não o telefone, ter ou não liberdade para abrir armários, convidar ou não amigos pessoais para a casa do parceiro e outros temas que possam sugerir invasão de privacidade.
- Em resumo, uma relação desse tipo precisa de algum tipo de formalidade que passa mesmo por boas maneiras e respeito ao espaço do outro.
Em princípio e por razões práticas, se ou quando esse casal decide ter filhos os moldes desse relacionamento deverão ser repensados. Nesse caso, é melhor para os casais que já tem crianças, pois podem perpetuar o que vou chamar de “convivência assertiva”. E mais para frente, quando a necessidade de massagens nas costas se tornar mais frequente, o casal pode pensar no bom e velho “casamento”.
Psicoterapeuta Holística, utiliza florais e técnicas da psicossíntese como apoio ao processo terapêutico. Presta atendimento também por meio de terapia breve com encontros semanais, propondo uma análise lúcida e realista de questões pontuais propostas pelo cliente objetivando resultados de curto/médio prazo.
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