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Birdman: a loucura pela consagração

Melhor Filme do ano no Oscar 2015 discute o sucesso a qualquer preço

Atualizado em

“Birdman”, do diretor Alejandro Gonzáles Iñarritu (de “Babel”/2006), teve seu lançamento em 17 de outubro de 2014, com Lua e Júpiter no signo do glamour, da mídia e do entretenimento: Leão. O filme faz refletir e diverte ao mesmo tempo, costurando amargas realidades com humor e rasgos de fantasia, em uma única e bastante comentada simulação de um único plano sequência (filmagem de uma ação contínua com um longo período de ação), que dá um ritmo intenso à história. Como em um daqueles longos dias, cheios de atividades que parecem não acabar mais.

Seu protagonista é Riggan Thomson, um ator que foi alçado ao estrelato ao interpretar o super-herói Birdman na década de noventa. Receoso de ficar congelado em um único personagem, ele recusou-se a fazer o quarto filme da série. O expediente não funcionou, porque, décadas depois, sua carreira perdeu o prumo e o ator está tentando, com muita dificuldade e esforço, fazer uma peça na Broadway como forma de reafirmar seu talento e valor. É a busca pelo externo, que já caracterizou a sua vida e que se torna uma obsessão máxima naquele momento, até por envolver também questões financeiras.

A trajetória do personagem tem alguma semelhança com a do ator que o interpreta, Michael Keaton, que na mesma década sagrou-se como Batman, também em filmes sequenciais, e que depois não fez mais nenhum papel que tenha sido de grande destaque, a não ser, é claro, este, que levou quatro estatuetas no Oscar 2015, inclusive de melhor filme e melhor diretor.

Capitão de um navio prestes a afundar

Logo no começo de “Birdman”, aparece o camarim de Riggan, um lugar de feiura e caos. É um reflexo da vida dele. Mas ele nega: “não era para eu estar aqui”, pensa. Também há dentro da sua cabeça uma voz que o acompanha, a do super-herói que interpretou, ora dizendo as piores coisas a seu respeito, ora as melhores. O filme foi lançado ainda com Saturno em Escorpião, mas esta voz parece ser de Saturno em Sagitário (2015-2017) fala em ética, mas como esta ética se mostra em situações verdadeiramente delicadas e/ou que envolvem tentações (Netuno) ao que se diz acreditar (Sagitário)? Será que ela resiste? Aquilo que estamos mostrando fora (Júpiter em Leão) de fato existe dentro? Se você ainda não viu “Birdman” e não gosta que o suspense seja desfeito, não leia o último tópico.

O curioso final de Birdman

Riggan vai ficando cada vez mais descontrolado à medida que o filme desenrola. Em parte devido à exaustão, em parte aos seus processos netunianos, o seu mundo próprio. Fiquei pensando em como o final era ambíguo, pois o personagem aparentava ter a determinação de fazer dar certo e pagar qualquer preço por isto. No entanto, ele não desfruta do sucesso quando finalmente o atinge. Quando seu produtor e sua filha trazem o jornal contendo a consagração tão sonhada, ele parece alheio a isto, ou está simplesmente satisfeito, mas não eufórico, como seria de se esperar. Na loucura do sucesso, a filha também informa que fez uma conta no Twitter para o pai. Ela ama o pai, não há dúvida, mas é estranho que, em um momento da vida em que o personagem demonstra sério desequilíbrio emocional, depois de ter praticado um ato tresloucado na peça, produtor e filha estejam mais entusiasmados com o sucesso do que com a loucura envolvida. Ela e o produtor também parecem entender a lógica do sucesso: não importa o quão bizarro algo seja, se chamar a atenção está valendo, cumpre o seu papel. E quem vai contradizer isto? Quantos artistas não se destacaram por encher a cara, fazer escândalos ou coisas bizarras? Isto não vende, não vira atração? E o que dizer do apelo do sexo?

Para quem observa de perto, Riggan parece desmotivado ou deprimido. Quando a filha sai do quarto, ele se aproxima da janela do edifício e parece insano ao flertar com o chão. Quando ela retorna, o quarto está assustadoramente vazio, e o pai não está em nenhum lugar. Temerosa, ela olha pela janela para checar se o ator-herói se espatifou no chão. Mas não, ele se transformou em Birdman. Eis novamente a expressão de Netuno, o planeta ligado a tudo o que está fora da realidade. Ele pode ser tanto a loucura quanto a transcendência. Teria Riggan transcendido a loucura pelo sucesso e largado tudo aquilo, percebendo o quanto era inútil todo aquele apego a algo, que, a rigor, nem sempre parece ter grande lógica (afinal, basta fazer um bom escândalo para conseguir atenção)? Teria superado algo ou simplesmente saído do mundo, sem ter estado presente de fato, como muitas e muitas vezes ele fez? Ou os dois? Deixo para você pensar e responder. E principalmente no que acho o ponto principal do filme: o cuidado com tudo o que nos desvia da presença e cria realidades inventadas, ou outro jeito de dizer mentiras. Tudo o que vira a nossa cabeça e não nos permite aproveitar o que realmente importa: nós, o nosso presente e as pessoas que fazem parte da nossa vida.

Vanessa Tuleski

Vanessa Tuleski

Vanessa Tuleski dá consultas astrológico-terapêuticas e foi pioneira na Astrologia brasileira ao falar do Céu geral, ao invés do tradicional horóscopo signo a signo. É idealizadora do curso "Alimentação e seu Mapa Astral" no Personare. Participa dos programas semanais de previsões astrológicas no canal do YouTube do Personare.

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