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  • Torcedores de carteirinha

    Seu jeito de torcer pode ser um reflexo da própria identidade

    Atualizado em

    Há algum tempo, eu me perguntei: por que torço para determinado time no esporte? Por que as pessoas escolhem ser de um time, ao invés do outro? Foi ao pronunciar a palavrinha “ser” que um alerta tocou em minha mente. “Sou” mesmo de um time?

    Percebi, então, o quanto nossos gostos refletem a nossa identidade. Ao apreciarmos um determinado time ou jogador, dentre tantos outros que fazem parte do mundo do esporte, por exemplo, pode indicar que o jeito de ser daquela pessoa ou a filosofia de um determinado time nos atrai, nos fascina. Ou seja, há uma identificação. Existe uma ponte emocional que nos liga ao respectivo time, personagem ou “super-heroi”.

    Isso me faz lembrar uma época que gostava de fazer certas perguntas para meus amigos e amigas. Era uma espécie de teste psicológico baseado em metáforas. Por exemplo: “se você estivesse na beira de um lago, você pularia de cabeça ou entraria andando?”. Se a resposta fosse a primeira opção, eu já sabia que tal pessoa tinha tendência a “mergulhar” nas situações e relações, ou que tinha mais coragem e impetuosidade. Era intensa e apreciava correr riscos. Se optasse pela segunda opção, o padrão mental dela podia denotar um comportamento mais comedido, reflexivo, desconfiado ou moderado.

    Adorava esses exercícios metafóricos para conhecer melhor quem entrava em contato comigo. Hoje noto que essa percepção a respeito da personalidade de alguém pode ser obtida de inúmeros outros modos – inclusive por meio do time de futebol pelo qual ela torce, ou do atleta que mais admira. Afinal, cada gosto que temos reflete algum valor que possuímos na vida. É um espelho que mostra quem somos através desses detalhes cotidianos. Assim, se alguém torce de maneira bastante inflamada, pode ser que precise colocar para fora o que sente.

    Moderação na hora de torcer

    O perigo, claro, é nos fixarmos em determinado valor, pessoa ou personagem, sendo, por exemplo, aquele fã fanático de um atleta. E cobrarmos dele posturas ou decisões que, na verdade, deveriam ser feitas por nós mesmos. Isso equivale a esperar que o time do coração dê as alegrias que tanto almejamos viver. Afinal, quantas vezes você ou alguém que conhece já ficou triste a semana inteira porque o time perdeu? Ou, por outro lado, experimentou uma sensação de alegria e euforia quando venceu? Esse nível de identificação com uma pessoa ou instituição – quando exagerado – é perigoso. Por que deixamos de viver, de buscar as nossas próprias vitórias e alegrias. Ficamos à mercê de algo externo para termos determinadas emoções.

    Conscientes dessas armadilhas, temos melhores condições de valorizarmos o que tem afinidade conosco. E nos conhecer mais profundamente por meio desses gostos. Eis a diferença entre “ser” de um time e “torcer” por ele. Posso até ficar triste durante um dia porque meu time não me trouxe a alegria que eu queria. Porém, é minha responsabilidade ter a capacidade de escolher e decidir conscientemente viver momentos felizes na vida.