Superdotados: quem são e onde estão?
Conheça mais sobre indivíduos de inteligência fora do normal
Por Alexey Dodsworth
Muito embora existam inúmeras controvérsias sobre o tema “inteligência”, uma boa definição diz que “inteligência é a capacidade de resolver problemas”. O que acontece (e este é um equívoco muito comum) é que as pessoas imaginam tais problemas como sendo matemáticos ou científicos. Ledo engano. Todos somos inteligentes e capazes de resolver problemas das mais diversas ordens. Alguns indivíduos, contudo, e por razões ainda não muito bem elucidadas pela ciência, apresentam aquilo que se convencionou chamar de “superdotação”. São indivíduos superinteligentes. De acordo com o psicólogo Howard Gardner, há diversos tipos de inteligência, de modo que os talentos podem ser muito específicos numa direção, e não tanto em outra. Dito de outro modo, um sujeito pode ser superinteligente num sentido linguístico, mas não tanto num sentido matemático.
Talento acima do normal
Uma vez que a matemática parece ser algo muito complicado para a grande maioria das pessoas, é mais comum reconhecer a superinteligência quando nos deparamos com alguém muito hábil para a linguagem dos números e da Física – caso, por exemplo, do físico mundialmente conhecido, Stephen Hawking. Entretanto, seguindo as teorias de Gardner, há também a inteligência linguística (extremamente poderosa em escritores como Machado de Assis e Clarice Lispector, por exemplo), a inteligência musical, a inteligência interpessoal/social, a inteligência intrapessoal (também conhecida como inteligência emocional). Há a inteligência motora, que faz com que alguns indivíduos sejam geniais no uso do próprio corpo: caso de muitos jogadores de futebol que, mesmo não tendo estudo formal completo, se encaixam perfeitamente no conceito de “superdotado”. E há também o raro caso do indivíduo multitalentoso, dotado de aptidões intelectuais distintas num alto grau de desenvolvimento. Em casos assim, um único tipo de avaliação não dá conta de identificar todas as possibilidades dos grandes talentos. Um desportista genial pode, por exemplo, ser considerado “limítrofe” em avaliações escolares convencionais. Mas outros estudiosos da inteligência apontam para a existência de um chamado “Fator G”, ou “inteligência geral”, passível de ser detectado em avaliações, não demandando que o indivíduo tenha escolaridade. O portador deste “Fator G” seria capaz de apontar as soluções corretas num tipo de teste que nem exige que a pessoa saiba ler, uma vez que o teste envolve imagens.
À parte as controvérsias existentes em torno deste assunto, podemos perguntar: mas o que estas diferentes inteligências têm em comum? Pode parecer estranho que haja algo em comum entre alguém que possui notável habilidade para abstrações numéricas e alguém cuja genialidade se manifesta no uso do corpo. Mas parece haver, em todo indivíduo superdotado, a capacidade de reconhecimento de padrões. A diferença é que o matemático reconhece tais padrões no mundo da matemática, o escritor os reconhece nas palavras e o jogador de futebol é capaz de elaborar estratégias rápidas, reconhecendo o padrão de deslocamento de seu adversário. Tudo isso é feito quase que instantaneamente, sem muito esforço. Por isso mesmo, é possível avaliar – a partir de testes – se o nível de talento que um indivíduo apresenta é considerado “acima do normal”.
Não há uma explicação consensual para a existência de pessoas com talentos ampliados. O psicólogo Ricardo Pereira, membro da MENSA (associação que reúne indivíduos superdotados) aponta para uma possível resposta, mas alerta: há controvérsias no tocante a esta explicação. Diz ele: “alguns indivíduos apresentam características cerebrais anátomo-funcionais distintas (como a massa do lobo pré-frontal, volume da substância cinzenta, e até mesmo o tamanho do cérebro), o que permitiria desempenho melhor em tarefas específicas.”
Problemas enfrentados
Ao contrário do que se pode imaginar, jovens superdotados não são necessariamente aqueles que tiram as melhores notas e vão bem em colégios.
Ao contrário do que se pode imaginar, jovens superdotados não são necessariamente aqueles que tiram as melhores notas e vão bem em colégios.
É extremamente comum, na verdade, que tais indivíduos se portem de maneira indisciplinada e contestatória, apresentando problemas de adaptação. Em diversos casos de adolescentes superdotados avaliados, constatou-se que eles só estudavam o que queriam, e quando queriam. Mais: demonstravam sentir uma imensa dificuldade em acompanhar o ritmo tradicional das aulas, consideradas por eles como “tediosas”, “morosas”, “desestimulantes”.
O psicólogo Ricardo Pereira aponta alguns problemas geralmente enfrentados por indivíduos superdotados:
Perfeccionismo
Devido ao fato de que se supõe que indivíduos superdotados devem apresentar sucesso em atividades que realizam, a busca pelo perfeccionismo pode criar situações de sofrimento significativo, decorrente da distorção cognitiva que associa o sucesso em uma tarefa a um grau de perfeição inalcançável.
Baixo desempenho
Apesar de alguns superdotados mostrarem desempenho significativamente superior à média em testes de QI, alguns apresentam desempenho rebaixado em disciplinas escolares ou baixo desempenho profissional. Esta dificuldade pode ser decorrente de diversos fatores, como a perda de interesse rápido em diferentes tarefas, percepção de consequências sociais indesejáveis decorrentes do bom desempenho ou fatores psicológicos, como depressão.
Isolamento social
Motivo pelo qual associações que estimulam o contato entre indivíduos com interesses semelhantes é tão importante (caso da MENSA, existente em vários países do mundo, e inclusive no Brasil).
Vivemos num país que, felizmente, dá muita atenção a jovens especiais que apresentam déficit de aprendizado. Entretanto, ainda são raras as iniciativas que objetivam cuidar de outros tipos de jovens especiais: os que apresentam características de alta velocidade de assimilação. Um jovem superdotado que não tenha uma família bem estruturada, ou cuja escola não esteja preparada para lidar com sua singularidade, termina desenvolvendo uma série de distúrbios comportamentais capazes de prejudicar seriamente sua vida social e profissional: frustração, impaciência, até mesmo revolta. Não é nada incomum que adolescentes superdotados sem estrutura educacional/familiar se tornem adultos hostis – em alguns casos, mais perigosos do que o normal, caso se voltem para a criminalidade. E não é nada incomum encontrarmos criminosos que apresentam claros indícios de superdotação, e este é um exemplo típico do tremendo desperdício derivado do fato de termos tão pouco conhecimento do que fazer quando nossas crianças são extremamente talentosas.
O advogado bahiano Waldir Santos atesta: “O chefe de gangue tem noções de táticas e estratégias que fariam dele um executivo de empresa, empresário ou governante. (…) Não estamos apenas desperdiçando talentos de possíveis futuros músicos, médicos, engenheiros, empresários, mas transformando-os em inimigos da sociedade, gente que nada constrói, só destrói. Ou seja, o custo social é dobrado.”
Projeto Babunamô
Por isso mesmo que Waldir Santos criou o Projeto Babunamô, cujo principal objetivo consiste em disponibilizar gratuitamente apoio e orientação especializada para crianças e adolescentes superdotados provenientes de classes economicamente menos favorecidas. A potencialidade destes jovens tende a ser desperdiçada pela sociedade, uma vez que as pessoas em geral têm a falsa ideia de que uma pessoa muito inteligente não precisa de ajuda alguma.
No próximo dia 1 de outubro, Waldir Santos ministrará uma palestra explicativa sobre o Projeto Babunamô e sua experiência com jovens superdotados. A palestra é aberta ao público, tem entrada franca e faz parte da programação do Mensa Brilliant Day, evento que ocorrerá em várias cidades do mundo. Apesar de a entrada para a palestra ser gratuita, é preciso realizar inscrição prévia clicando aqui.
Sem dúvida, trata-se de um tema altamente pertinente num país de dimensões continentais como o nosso. Se considerarmos uma população de 200 milhões de habitantes, os indícios estatísticos apontam, no mínimo, para a existência de quatro milhões de pessoas superinteligentes em nosso país. Dada a desigualdade social que ainda assola o Brasil, não é de espantar que tantos talentos sejam desperdiçados. Chegou a hora de mudarmos este quadro!
Astrólogo e autor de análises de Astrologia, Tarot e Runas do Personare. Sua afinidade com temas esotéricos se alinha com sua defesa à liberdade de saberes, sejam eles científicos ou não.
Saiba mais sobre mim- Contato: alexey-revista@personare.com.br