E quando o chefe fala demais?
Desenvolva seu poder de escuta e suba degraus na empresa
Por Carla Panisset
Uma queixa recorrente entre profissionais que estão passando por um processo de Coaching é a dificuldade de concentração ao escutar pares ou chefes que “falam demais”. Uns alegam que devido a falta de tempo para ouvir, ficam ansiosos e perdem logo a paciência; outros afirmam que não escutam, pois quem fala não é objetivo e vive perdendo “o fio da meada”; outros ainda que não escutam porque “já sabem tudo que o outro vai dizer”.
Escutar parece muito simples, na teoria. Mas na prática diária pode ser altamente desafiante. Ouvir é uma das habilidades interpessoais que o processo de Coaching pode ajudar o cliente a desenvolver, visando aumentar seus resultados no trabalho – bem como na vida pessoal.
Existem diferentes níveis de escuta:
- Estou presente, mas meus pensamentos estão noutro lugar, dando pouca ou nenhuma atenção ao que é dito;
- Escuto através de uma “atenção flutuante”, que se desloca e volta apenas para as palavras ditas, sendo raras as vezes em que ouço nas entrelinhas. Esforço-me para parecer atento, dizendo “hã-hã” ou ecoando determinadas palavras para excluir os silêncios da conversa;
- Escuto e compreendo, porém ainda com foco em responder imediatamente após terminada a fala do interlocutor;
- Escuto empaticamente, compreendendo não apenas a fala, mas as entrelinhas, as sensações e emoções do interlocutor, com pouco ou nenhum foco em formular uma resposta enquanto estou me dedicando a ouvir e descobrir o que mais ele pode desejar comunicar.
Quando um profissional desenvolve a habilidade da escuta empática, várias partes saem ganhando. Seus pares se sentem mais confiantes perto dele, ansiando por compartilhar seus projetos, receios e vontades. Seus chefes se sentem mais compreendidos em suas demandas e podem ter uma percepção subjetiva de que a delegação funciona melhor para aquele profissional, que ganha a reputação de mais “capaz” e “responsável”. Os demais sofrem efeito dominó, pois quem é incapaz de escutar fica sendo visto como pouco amigável ou confiável e é influenciado a mudar. Em relação ao ambiente organizacional, o resultado é a maior humanização dentro da equipe e maior autoestima do grupo todo, que se sente respeitado em suas contribuições.
Ouvir empaticamente requer algumas ações que podem ser adotadas intencionalmente:
- Quando há a necessidade de ouvir o colega ou chefe, deixe de lado tudo que estiver fazendo. Não vale falar no celular ou digitar e-mails enquanto o outro faz de tudo para obter sua atenção e você finge que escuta;
- Se não for possível parar o que está fazendo, comunique educadamente que não poderá dedicar a atenção necessária à pessoa naquele momento, agendando nas próximas 48 horas um novo encontro para falarem;
- Mantenha-se neutro enquanto escuta. Cuidado com “cara de reprovação” ou crítica ao que está ouvindo – isso pode gerar um efeito contrário, com a pessoa fechando-se ao diálogo nas próximas vezes;
- Escute para compreender e não para responder. Pare de se esforçar para elaborar respostas enquanto ouve. Pode parecer difícil, mas aprenda enquanto escuta. Quanto mais empática for a escuta melhor será a resposta, que advirá sem esforço na sequência da conversa.
- Mostre que está atento, diga “Entendo”, “Sim”, “Ah!” – sem interromper. Cuidado com o excesso de perguntas enquanto o outro fala, pode transmitir ansiedade e uma vontade de “roubar” a conversa para si próprio, desvalorizando o que o outro diz e a relação.
- Olhe nos olhos durante toda conversa. Isso cria empatia e sinceridade entre os pares.
Identifique e reflita sobre suas sensações enquanto escuta. Pergunte-se:
- Por que está sendo difícil para mim ouvir essa pessoa?
- Quais sentimentos excessivos estão perturbando minha escuta agora?
- Por que não consigo ouvir calmamente?
- Esse assunto me ameaça ou constrange?
- Que tipos de rótulos estão passando pela minha cabeça em relação ao outro ou à sua forma de se expressar?
- E por fim: por que evito escutar? O que mais na minha vida eu também não quero escutar?
São muitas perguntas cujas respostas podem tirar o profissional de sua zona de conforto. Um Coach competente pode auxiliá-lo nesse caminho. A ideia é aumentar sua autoconfiança, sua competência e sua habilidade de se relacionar por meio do desenvolvimento de sua escuta! Vale a pena o esforço, o resultado costuma vir rápido e é notado por todos.
Especialista em Aumento de Performance Profissional e transição de carreira. Treinadora, Comunicóloga e Relações Públicas. Já treinou mais de 1.000 líderes e profissionais brasileiros, tendo 25 anos de carreira. Facilitadora de Biodanza® Sistema Rolando Toro (em formação).
Saiba mais sobre mim- Contato: carlafernanda01@gmail.com