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Burnout, a síndrome das mulheres superpoderosas

Opção própria? Nem sempre. As mulheres têm muito a provar

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O que o Burnout tem a ver com o acúmulo de papeis que as mulheres exercem? Atualmente elas não são simplesmente mulheres: são supermulheres. Cuidam da casa, dos filhos, do marido, dos pais, dão uma força a irmãos e primos, seguem profissionalmente atualizadas, tornam-se bem-sucedidas, cuidam da saúde (dela e dos outros) enquanto se asseguram de estar com as unhas feitas, a pele bem cuidada, o cabelo tratado… tudo isso com um sorriso no rosto. Opção própria? Nem sempre. As mulheres têm muito mais a provar do que os homens.

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Socialmente foi atribuído à mulher o papel de cuidadora da casa e da família. Pressionada por essas atribuições, caso falhem em algumas delas, é notória a falta de apoio por muitos dos que a rodeiam.

Decidir ter uma carreira ou seguir outros sonhos é um projeto exclusivamente delas – por vezes, visto de forma paralela e de pouca importância. Com a família não podem faltar.

Ou seja, se deixarem a “peteca cair” em alguma área, serão julgadas com maior rigor do que qualquer homem seria e, muitas vezes, vistas como símbolo de ineficiência. O fracasso alimenta o pensamento dos mais tradicionais de que “lugar de mulher é em casa, cuidando do marido e dos filhos” e não onde desejar estar, seja lá onde for. Movidas por pressão ou coragem, tomam a frente de tudo e acabam fazendo tudo muito bem, a maioria das vezes e pela maior parte do tempo. Entretanto, em algum momento, o corpo e o emocional “passam a conta”, começam a falhar e mostrar sintomas. É aí que entra em jogo a famosa Síndrome de Burnout.

O que é a Síndrome de Burnout?

O termo “burnout” tornou-se tão comum que é utilizado para se referir a um dia ou semana difícil. O problema, porém, é bem mais sério do que isso. Estudos demonstram que a síndrome afeta mais mulheres do que homens (especialmente as bem-sucedidas). Mulheres de sucesso profissional e que possuem família e filhos estão exaustas, mas acostumadas a estar em atividade constante, e não conseguem parar. Viver ocupada tornou-se culturalmente bem visto.

Burnout no trabalho

O termo burnout foi utilizado pela primeira vez em 1974 pelo psicólogo Herbert J. Freudenberger, ao analisar o trabalho de enfermeiros de uma clínica de Nova York, nos Estados Unidos. Desde então, vários autores, como Maslach (1976), Cherniss (1980) e Pines (1989), expuseram teorias e definições. A proposta de Christina Maslach foi a de maior impacto acadêmico, definindo-a como uma síndrome de cansaço emocional, despersonalização, apatia e baixa realização pessoal, que pode ocorrer entre profissionais cujo trabalho requer contato com pessoas, principalmente quando essa atividade é considerada de ajuda como enfermeiros, médicos e professores. A estafa profissional ocorre também em indivíduos cujas profissões os expõem à tensão e estresse intensos, como agentes policiais, controladores de tráfego aéreo, corretores de bolsa de valores, diretores ou executivos com cargos altos.

Quando não estão trabalhando no escritório, viajando a trabalho ou em reuniões, estão com as crianças, levando-as de um lado para o outro, para ser a mãe exemplar que acreditam que precisam ser, de forma a não deixar a culpa, por ser uma profissional exitosa, por ser ambiciosa e por querer crescer, consumi-la. Aquelas que aceitam que não podem fazer tudo e pedem ajuda (da família ou de um profissional) sentem-se culpadas pelo tempo que passam longe de seus filhos ou famílias, o que é profundamente prejudicial para a sua própria saúde emocional.

Essa tendência a estarmos sempre superativas afeta não só as nossas famílias e a nossa saúde, como também a qualidade do nosso trabalho e os nossos filhos, que acreditam precisar seguir o mesmo modelo do papai e da mamãe, que não param nunca, nas suas próprias vidas. Será por isso que, cada vez mais, temos casos de crianças sendo medicadas por serem hiperativas? Elas não aprendem em casa a importância do ócio e a reservar tempo para ele.

O problema pode estar na maneira como definimos sucesso socialmente. Para o senso comum, descansar, relaxar e desfrutar não são sinônimos de sucesso, mas sim de preguiça e ineficiência. Colocamos em segundo plano o fato de que o corpo e a mente precisam se desconectar e reencontrar seu próprio centro. Com o tempo, o corpo começa a dar sinais de fadiga. Ficamos mais ansiosas, desenvolvemos culpa e doenças físicas, mentais e emocionais, mas não paramos com todas as nossas atividades por medo de um injusto julgamento social.

Alcançamos um certo respeito devido ao nosso “sucesso” e, para não perdê-lo, precisamos continuar avançando. É aí que se instala a Síndrome do Burnout, afetando a nossa saúde, o nosso bem-estar e a nossa qualidade de vida em geral. Infelizmente, suas vítimas não se dão conta de que estão doentes até que seja relativamente tarde. Contudo, é possível identificar seus sinais a tempo para corrigir nossa trajetória e manter-nos saudáveis. Mas, como?

Mulheres acumulam jornadas

Maslach, quando usou o termo nos anos 80, no Maslach Burnout Inventory (1981), o definiu como uma doença ocupacional. O conceito se popularizou na década seguinte, nos Estados Unidos, denominando um nível de stress devastador e insuportável. Quem sofre da síndrome sente-se, literalmente, sem saída. Segundo pesquisas feitas pela International Stress Management Association no Brasil (ISMA-BR), 32% dos mais de 90 milhões de profissionais brasileiros sofre de burnout. Em especial, nas mulheres, vem associado a outros fatores que não só o trabalho, e a razão é simples: além do estresse profissional, as mulheres vivem uma jornada dupla com a casa e os filhos. A solução, no entanto, está em ações integradas que incluem a busca por um estilo de vida mais saudável.

Quais são os sintomas do Burnout?

Se você perceber que está em um estado constante de estresse e frustração, algo está errado. Mas, se essa emoção vier acompanhada de um sentimento de exaustão física e emocional, uma sensação de desconexão daqueles e daquilo que a rodeia, e a percepção de que você não está sendo eficiente nem gerando os resultados que costumava gerar, é hora de parar tudo e reavaliar. Em conjunto, estes sintomas levam a uma inabilidade de funcionar eficientemente a nível pessoal e profissional, e podem tornar impossível administrar todas as responsabilidades do seu dia-a-dia. Se você tiver chegado neste ponto, continuar e esperar que a coisa melhore por si só é inútil. É preciso parar e fazer algo de maneira proativa por sua saúde física e mental.

Você deve estar se perguntando: como saber se estou física e emocionalmente exausta?

Alguns sinais incluem:

  • fadiga crônica;
  • insônia e outros distúrbio do sono;
  • dificuldade para se concentrar;
  • sintomas físicos como dificuldade para respirar;
  • dores musculares e de cabeça;
  • baixa imunidade (ficar doente com mais frequência);
  • perda de apetite (ou aumento exagerado);
  • alterações de humor;
  • ansiedade;
  • depressão;
  • acessos de raiva;
  • agressividade;
  • sinais de desconexão daqueles que a rodeiam;
  • dessensibilização dirigida às pessoas com quem se trabalha;
  • pessimismo;
  • baixa autoestima;
  • dificuldade em se divertir;
  • vontade de ficar sozinha;

Além disso, o Burnout traz uma fácil irritabilidade, falta de produtividade e baixa performance.

Burnout: nada funciona sem combustível

Se mesmo lendo esta lista de sintomas você não tiver certeza do diagnóstico, como descobrir? Faça um teste. Tire um final de semana para você. Nestes dias, proíba-se de fazer qualquer coisa relacionada a trabalho (obrigações), seja pessoal, com a família ou profissional. Nada de checar e-mails nem atender a chamados urgentes (exceto se você for médico ou trabalhar em esquema de plantão). Se a sua família for uma fonte de estresse, descanse deles também.

E então, o que você vai fazer? Você vai des-can-sar. Durma o quanto quiser, até a hora que quiser. Coma direito, comidas saudáveis e nutritivas. Faça atividades que sejam relaxantes para você, mas que raramente tem tempo de fazer. Se for amante de leitura, leia um livro. Senão, cozinhe. Escreva. Dirija. Dance. Ou, não faça nada. Contanto que isso seja relaxante.

Se na segunda de manhã você acordar cansada e aterrorizada de ter que começar seu dia, você provavelmente está sofrendo da Síndrome de Burnout. Se quiser determinar quão grave é, faça um segundo teste: tire duas semanas de férias. Sim, eu sei, você deve estar pensando: férias, como? Eu sei, para as mulheres superativas, é mais fácil pedir que trabalhem cinco anos sem férias do que pedir que descansem duas semanas. Entretanto, é necessário, ou você nunca vai descobrir a origem deste sentimento de insatisfação que antes não estava presente.

Durante estas duas semanas, faça as mesmas coisas: nada que seja emocionalmente ou fisicamente exaustivo. Tenha como objetivo dormir pelo menos oito horas todas as noites e comer pelo menos três refeições por dia – de preferência, saudáveis. Se depois destas duas semanas você não tiver recuperado sua força e vitalidade, o problema é mais sério e você precisa repensar todo o seu estilo de vida para dar-se a chance de se recuperar. Se não o fizer, seu corpo e sua mente acabarão obrigando-a a fazê-lo, de uma maneira totalmente radical.

É hora de mudar de estilo de vida

Embora estar com a Síndrome do Burnout não seja exatamente aquilo que queremos ouvir, a boa notícia é que ela tem cura. Mas, para isso, mudanças são necessárias e mudar pode não ser fácil. Adotar outro estilo de vida ou dar novo ritmo à carreira deve ser o seu primeiro passo.

A maioria dos médicos vê o Burnout como um alimentador de comorbidades (doenças associadas à síndrome) como ansiedade e depressão. Em alguns casos, esses sintomas são tratados farmacologicamente, com remédios.

O Burnout, no entanto, sendo uma condição emocional, é tratado com uma mudança comportamental de estilo de vida e rotina de trabalho.

Caso o indivíduo que sofre da síndrome não consiga observar os sintomas e fazer essas mudanças sozinho, recomenda-se a busca por um tratamento psicológico para trabalhar no redirecionamento da percepção da pessoa sobre ela mesma e de sua relação com o entorno.

O diagnóstico é feito exclusivamente através do relato do paciente e da observação do médico ou psicólogo. Em outras palavras, quando se trata de Burnout, considera-se uma combinação de relato, história clínica e experiência médica. Essa primeira investigação pode vir de um psicólogo (se o paciente estiver em terapia) ou de um médico clínico (a partir de outras queixas como insônia, ansiedade, exaustão e outros sintomas associados que citamos anteriormente).

As mudanças na rotina não precisam ser radicais, mas devem ser adotadas radicalmente. Ou seja, você precisa decidir incorporá-las à sua vida e a prática precisa ser inegociável para que surjam efeitos. Um exemplo muito simples, mas eficaz, é a adoção de momentos de meditação.

Para quem nunca meditou, começar a meditar pode ser uma mudança muito radical. Cinco minutos, porém, será significante para alterar o dia a dia. O objetivo dessa etapa é adotar a meditação como hábito. Quando cinco minutos não parecer mais tanto tempo, nem tão difícil, passe para dez minutos, depois para 15 minutos, até encontrar o seu tempo ideal de descanso.

Exercícios de respiração e Yoga para ansiedade

Outra técnica que pode entrar na rotina e ajudar o paciente a se conectar consigo mesmo é a prática da yoga. É comum focar em exercícios rígidos como musculação, corrida ou crossfit para deixar o corpo em forma, mas terminamos sem equilíbrio e, sem harmonia, não há saúde.

Por fim, estabeleça um momento do seu dia para chamar de seu, em que fará algo que ama e para também distrair sua mente: cuidar da pele, ler um livro, assistir vídeos engraçados no YouTube, ver um capítulo da sua série favorita… Torne este encontro pessoal um aspecto da sua rotina que é inegociável. Não importa o que aconteça, você não pode perder este encontro.

Pequenas transformações farão toda a diferença. Atente-se porém, que implementar mudanças no seu estilo de vida não significa que estará mudando como pessoa. O que se busca é dar lugar à sua própria essência em meio a um cotidiano cheio de obrigações. Queremos ajudar você a ser a pessoa que você é – o que vai além das suas responsabilidades diárias, do você tem ou do que você faz. Tudo isso, ainda que muito intenso, é passageiro. Você é para sempre.

Marcia Fervienza

Marcia Fervienza

Astróloga e psicóloga há mais de 20 anos. Associa sua experiência como terapeuta ao trabalho com Astrologia para facilitar o autoconhecimento, o empoderamento e a transformação pessoal.

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