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Resolução de traumas: uma abordagem para lidar com o passado

A resolução de traumas é vital para a saúde mental, permitindo a cura e o bem-estar após experiências traumáticas

Atualizado em

Quando abordamos a resolução de traumas, frequentemente pensamos em eventos trágicos que podem prejudicar nossa capacidade de viver com leveza. De fato, mesmo experiências menos evidentes na vida cotidiana podem ser traumáticas.

Portanto, é essencial compreender uma abordagem para lidar com traumas, independentemente de sua natureza.

Não dar importância aos pequenos sinais do corpo (ou da mente) de que algo não vai bem é permitir que a vivência traumática se instale e impeça a liberação dos desconfortos, que podem causar sintomas físicos e emocionais. Por isso, traumas antigos, e, algumas vezes, em idades precoces, podem trazer muitos desafios a longo prazo. 

A boa notícia é que, com a técnica adequada, é possível acessar recursos próprios que podem ajudar a liberar todas estas vivências mais desafiantes que ficaram armazenadas por tanto tempo.

Neste artigo, vamos entender melhor o problema. E, claro, apresentar uma importante abordagem para lidar com a resolução de traumas.

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Formação do trauma

Um trauma ocorre quando o sujeito foi exposto a algum estresse pontual ou contínuo, gerando um resíduo no sistema nervoso. Ou seja, quando a pessoa passa por um evento que seja interpretado por ela (ou pelo seu sistema interno) como ameaçador. Isso sobrecarrega sua capacidade de processar e encontrar recursos internos necessários para lidar com aquele estresse. 

Assim, pode haver trauma em qualquer fase da vida. Desde os períodos em que encontra-se ainda no útero da mãe, bem como nas fases iniciais de desenvolvimento, em que há pouca memória cognitiva.

Tipos de traumas

Existem os traumas que podem colapsar o sistema nervoso de uma pessoa, tornando a medicação indispensável. Por exemplo, traumas de guerra, abusos na infância e excesso de violência são exemplos de traumas extremamente desreguladores para um sistema nervoso e podem trazer imensos desconfortos físicos e emocionais. 

Também existem os traumas médicos (anestesias, acidentes, negligência médica, etc). E, além desses, aqueles que se formam com quedas e acidentes. 

O mais silencioso, no entanto, é o trauma de vínculo ou desenvolvimento. Ele não se liga a um evento específico, mas a uma série de situações de negligência ou abuso físico/emocional que se dá de maneira constante ao longo da infância.

Uma abordagem para lidar com a resolução de traumas

O método da experiência somática, ou SE™ – Somatic Experiencing®, é uma abordagem para lidar com a resolução de traumas desenvolvida pelo psicoterapeuta norte-americano Peter Levine. Ele observou que a forma como os animais selvagens lidam com o estresse é universal e resume-se a três comportamentos: fuga, luta ou congelamento. 

Um animal indefeso pode se fingir de morto diante do seu predador (estado de congelamento). Após perceber que o perigo se retira, ele volta a si, dando umas sacudidelas pelo corpo para continuar sua jornada sem sequelas. 

Já os humanos aprendem a reprimir as emoções (e sensações), apoiando-se em justificativas racionais para tentar seguir em frente. E, geralmente, este é o maior problema. É como se a situação ficasse congelada e o corpo aprendesse a revivê-la de várias maneiras. 

O estresse não liberado fica armazenado, gerando problemas variados, desde sintomas físicos e emocionais até comportamentais, como baixa autoestima e procrastinação.

Infância e traumas

Cada vivência vai gerar um nível de estresse correspondente à quantidade de recursos que a pessoa já angariou ao longo da vida. Assim, uma criança que ainda está em fase de desenvolvimento tenderá a ter menos recursos para lidar com as situações traumáticas do que um adulto. 

Para alguns teóricos, os grandes traumas estão na infância e ficam sendo revividos na vida adulta. Mas o mais importante é ajudar o corpo e o sistema nervoso a liberar no presente o estresse acumulado, independentemente de quando ele tenha surgido.

O sistema sensório-motor engloba todos os sentidos e as respostas motoras e musculares. Ele desempenha um papel central e fundamental na terapia do Somatic Experiencing®, pois o método reconhece a importância das sensações físicas e das respostas do corpo ao trauma. 

O objetivo do SE™ é permitir que o nosso sistema processe as emoções e sensações físicas associadas a experiências traumáticas não resolvidas. Com isso, a energia bloqueada pode ser processada e liberada, ajudando na resolução de sintomas físicos e emoções desreguladas e amenizando crenças e pensamentos destrutivos.

Como perceber se o trauma está lá e o que fazer com ele

Para saber a melhor abordagem para lidar com traumas, é importante perceber a existência deles. E, na verdade, todas as pessoas são traumatizadas em algum nível. 

Isso, de forma alguma, precisa nos impossibilitar de viver a vida com leveza. Não há nada a ser consertado, mas sim, integrado. 

O que ocorre é que algumas experiências serão mais estressantes para algumas pessoas do que para outras. Isso também se deve à capacidade de autorregulação de pais ou cuidadores, ou seja, como lidam com as próprias vivências traumáticas.

Reações desproporcionais, normalmente, estão ligadas a traumas do passado. Sabe aquela reação de raiva avassaladora por um copo ter quebrado? Ou por alguém ter dado um grito com você? 

Geralmente, se tratam de gatilhos emocionais que vão disparar no corpo uma reação à situação vivida no passado e ao estresse acumulado. As pessoas chamadas de hipersensíveis, em sua grande maioria, estão nessa situação.

É como se houvesse um programa rodando em segundo plano, como nos computadores. O sistema passa a ter problemas para funcionar em sua plenitude, dependendo de tudo que está atuando sem que se perceba.

Para lidar, precisamos “atualizar nossa CPU”. Ou seja, fazer com que o corpo entenda que o perigo já passou. O corpo revive a situação do passado e é preciso fazê-lo se conectar com o presente de novo. 

Essa percepção é o primeiro passo para validar toda e qualquer emoção e sensação e permitir que ela se libere de uma maneira segura. Dependendo do tamanho do trauma e estresse vividos, a ajuda de um(a) profissional capacitado(a) é de extrema importância. Somente assim será possível liberar a carga de estresse retida, de maneira segura e sem retraumatização.

Maria Cristina

Maria Cristina

É psicóloga sistêmica. Atua com traumas pela abordagem Somatic Experience® além de abordar outras questões de relações interpessoais, autoestima e postura diante da vida. Atende online e presencialmente na cidade de Belo Horizonte.

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