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O que “Garota Exemplar” nos ensina sobre a relação a dois

Filme "Garota Exemplar" desperta questionamentos sobre a importância dos conflitos

Atualizado em

Um longa que merece ser visto é Garota Exemplar (Gone Girl/2014), baseado no livro homônimo da jornalista americana Gillian Flynn. Talvez os grandes fãs de suspense considerem que as coisas demorem muito para acontecer. Mas, para quem quer entender como certas dinâmicas de casal podem ser doentias, é um prato cheio. A história é sobre o casal Amy Dunne (Rosamund Pike, que concorreu ao prêmio de melhor atriz no Oscar 2015) e Nick (Ben Affleck). Ela desaparece no dia do aniversário de casamento, e o marido torna-se o principal suspeito. O filme se desenrola sempre em clima de tensão, e as revelações sobre o casal são feitas aos poucos.

A personagem de Rosamund Pike é intrigante. Seus pais escreveram um livro sobre alguém que seria supostamente uma versão melhorada dela, uma garota exemplar. E é essa imagem que ela carrega para si e para o seu relacionamento. Mas o que parece ser um conto de fadas vai se desfazendo com fatos e comportamentos que são gradativamente desvelados. Somente após vivenciarem uma crise, Nick passa a conhecer Amy.

Sem diálogo, não há relação saudável

A relação complicada desta dupla nos leva a refletir sobre tantos casais que fingem ter uma relação (real) a dois. Alguns até acreditam que ela exista, mas trata-se de uma ilusão que não se sustenta por muito tempo e acaba trazendo conflitos e sofrimentos. Quando não há diálogo, não é possível ter uma relação saudável. Conversar sobre dificuldades, medos e fraquezas é importante. Caso contrário, ficamos tentados a acreditar que o outro é perfeito, que não há problemas e que podemos ter o relacionamento ideal! Doce ilusão. Não há relações perfeitas – elas são construídas a partir de experiências que são vividas, elaboradas e compartilhadas a dois.

Não há relações perfeitas – elas são construídas a partir de experiências que são vividas, elaboradas e compartilhadas a dois.

Algo importante, que parece ter sido descartado na história dos personagens, é que não existem relações sem conflitos. Uma relação entre um casal sempre será permeada por crises. Acontece que elas não precisam destruir a relação, pelo contrário: o que fazem é fortalecê-la e torná-la mais madura quando os envolvidos se voltam para elas. Por outro lado, caso tais crises sejam ignoradas, podem se tornar tão grandes que ficam cada vez mais difíceis de serem resolvidas ou ao menos encaradas.

Repetição de comportamento familiares

A questão é que a união entre duas pessoas compreende muito mais do que só o casal. Toda a família está envolvida. Nossos aprendizados a respeito de como devemos nos relacionar com o outro começam na família de origem e são refeitos e reformulados ao longo de nossa vivência. Não há como negar essa influência que todos trazemos, assim, precisamos estar conscientes de que ela existe e de que podemos sempre fazer de uma nova maneira.

Uma relação nova é sempre recheada de idealizações. Isso é comum e perfeitamente natural. O problema é quando não olhamos para o real, tanto no outro quanto em nós mesmos. Afinal, se não conseguimos olhar para quem somos verdadeiramente, como vamos conhecer quem o outro realmente é?

O processo de autoconhecimento começa em nós. Precisamos entender quais são os padrões que nos moldam e permeiam nossas relações afetivas, caso contrário, repetiremos comportamentos e sempre atrairemos pessoas semelhantes. Uma relação saudável não pressupõe a ausência de conflitos, mas a capacidade e a maturidade de cada um para lidar com eles.

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Maria Cristina

Maria Cristina

É psicóloga sistêmica. Atua com traumas pela abordagem Somatic Experience® além de abordar outras questões de relações interpessoais, autoestima e postura diante da vida. Atende online e presencialmente na cidade de Belo Horizonte.

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