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Você é workaholic ou worklover?

Saiba a diferença entre trabalhar em excesso e amar o que faz

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Algumas pessoas acreditam que a fórmula ideal para reduzir o estresse e aumentar a performance no trabalho é saber dividir seu tempo de maneira equilibrada entre as tarefas profissionais, pessoais e de lazer. É justamente a alternância entre atividades que traria ao profissional o relaxamento e o descanso necessários à liberação de sua total expressão e criatividade.

Mas como explicar, então, que gênios criativos e grandes realizadores como Leonardo Da Vinci e Napoleão Bonaparte costumassem dormir poucas horas? Da Vinci, inclusive, tirava apenas sonecas de quinze minutos a cada quatro horas, entre as inúmeras invenções em que trabalhava por dias e dias. Não deveriam viver eles estressados, exaustos e, portanto, pouco criativos?

Atualmente tenho ouvido de profissionais nas sessões de coach que faço, que muitos declaram trabalhar mais que dez horas por dia em seus empregos, projetos ou empreendimentos – são os workaholics. Alguns se queixam disso penosamente, já outros se declaram “worklovers” e afirmam que exageram no trabalho por pura paixão pelo que fazem.

Amor permite envolvimento nas tarefas

Mas o que significa passar tempo demais no trabalho? Vamos analisar dois cenários para ampliar a questão. O primeiro seria vivido por profissionais engajados em projetos criativos, com grau ideal de desafio (nem fácil e desinteressante, nem desafiante demais e estressante), e que permitisse que ele passasse seu dia “em fluxo”. Fluxo vem do Inglês “flow”, conceito desenvolvido pelo autor húngaro Mihály Csíkszentmihályi, no livro “A Descoberta do Fluxo”. Significa um estado mental no qual a pessoa em atividade está totalmente “imersa”, focada e envolvida em um processo, com o intuito de obter sentimento de foco energizado, total envolvimento e sucesso no processo.

Nesse primeiro cenário, o profissional se sente como “dono” do projeto, tendo uma visão ampla das áreas afetadas por ele. Ele sofre poucos aborrecimentos com telefonemas desnecessários, e-mails redundantes e reuniões urgentes sobre “o nada” para acalmar o chefe inseguro. Esse profissional tem a sensação de ser “dono de seu tempo”, tal qual um artesão (ou como Da Vinci?), “sem ver o tempo passar”. O que dita seu tempo é apenas a data de entrega de tal projeto. E ele intuitivamente sabe a hora de parar para recarregar-se.

Marshall Goldsmith, Coach que treinou os maiores executivos americanos, afirma que muitas horas de trabalho são necessárias para que um talento se transforme num expert. Basta vermos os grandes atletas, com performances superiores, e quanto tempo é dedicado para atingirem a excelência. Muito amor pelo que fazem capacita essas pessoas a permanecerem em fluxo por tantas horas seguidas.

Trabalhar em excesso não é sinônimo de competência

No segundo cenário, temos o profissional ofegante, que fala rápido, está sempre com os prazos apertados, faz várias coisas ao mesmo tempo, mas termina poucas delas. Tem a sensação (ao contrário do primeiro cenário) que seu tempo não lhe pertence, que é retirado dele à força. No fim do ano acredita vaidosamente, na festa de fim de ano da empresa, que liderou inúmeros projetos importantes, mas no fundo sente pouca plenitude, pois sempre “falta algo que ele ainda não realizou”. Também tende a adiar suas férias inúmeras vezes. Sua família, de tanto ouvir que ele “ainda está no trabalho”, já aprendeu a se resignar com sua ausência e “dar seu jeito” sem ele (ou sem ela), com um ressentimento velado. Esse profissisonal se ilude comemorando este comportamento familiar, pois acredita que agora estão todos “mais independentes”.

O vício do profissional do segundo cenário o faz criar em torno de si uma realidade cruel, pois ele tapeia a si e aos que ama e precisam de sua presença e atenção. Infelizmente muitos só se dão conta disso após os 50 anos (quando fazem uma retrospectiva e desejam mudar sua carreira), quando já acumularam problemas familiares como divórcios ou filhos seguindo caminhos controversos. Passar doze horas por dia no trabalho pode significar apenas “não querer voltar para casa” ou “não ter para quem voltar” ou ainda “tenho questões difíceis de enfrentar na minha vida, então prefiro me alienar aqui no escritório”.

Ainda outros cenários podem coexistir, mas o importante é refletir sobre algumas perguntas: o que leva você a passar mais horas no escritório do que parece saudável? Isso realmente está levando você a um real crescimento, aumento de performance e satisfação subjetiva? Isso o faz ser mais criativo (quantas ideias ou projetos novos você sugeriu no último ano)? Ou será que essas horas extras farão apenas você e sua família engrossarem as listas dos pacientes de consultórios terapêuticos ou de cardiologistas nas próximas décadas?

Para aumentar a motivação e o amor por sua atividade, comece a anotar quantas horas são gastas semanalmente com o trabalho, a família, os cuidados com saúde e a alimentação e o descanso/lazer. É somente a partir do equilíbrio destas áreas que podemos resgatar a energia necessária ao aprimoramento contínuo e à obtenção da satisfação profissional – a que coaduna com nossos verdadeiros valores.

Carla Panisset

Carla Panisset

Especialista em Aumento de Performance Profissional e transição de carreira. Treinadora, Comunicóloga e Relações Públicas. Já treinou mais de 1.000 líderes e profissionais brasileiros, tendo 25 anos de carreira. Facilitadora de Biodanza® Sistema Rolando Toro (em formação).

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