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União e compartilhamento: valores do Yoga e de Mahatma Gandhi

Instrutora da Arte de Viver e coordenadora do Dia Internacional do Yoga entrevista o cônsul da Índia no Brasil

Atualizado em

Uma das mensagens mais significativas do Yoga é a união e o compartilhamento. Há cinco anos, organizo no Rio de Janeiro o Dia Internacional do Yoga que nessa edição comemora, em parceria com o consulado da Índia, os 150 anos de nascimento de Mahatma Gandhi. Para celebrar essa união, convidei Leonardo Ananda, Cônsul Geral da Índia no Rio de  Janeiro, para um bate papo que você confere a seguir.

Carolina Jourdan – Qual a relevância de termos um Dia Internacional do Yoga? O que isso representa na prática?

Leonardo Ananda – Côsul A.H. da Índia no Rio de Janeiro

Leonardo Ananda: O Yoga, sem dúvida, é a principal dádiva e o principal presente da civilização milenar hindu, da civilização védica para a sociedade atual, principalmente para a civilização ocidental. Os preceitos do Yoga auxiliam a equilibrar e combater as principais mazelas que o homem ocidental enfrent

a hoje, trazendo um pouco mais de harmonia, de equilíbrio, para o dia a dia do ser humano nas sociedades atuais. O Dia Internacional do Yoga simboliza o resgate e a disseminação desses ensinamentos pelo mundo todo.

O fato de a ONU ter instituído uma data universal do Yoga tem auxiliado em muito na difusão e propagação dos bons ensinamentos que estão por trás dessa rica e profunda filosofia hindu.

O senhor poderia falar sobre a relação entre Yoga e não violência? Qual a força da mensagem de Gandhi nos dias atuais?

L.A.: O Yoga está diretamente relacionado ao ahimsa, que é o princípio da não violência muito defendido por Gandhi durante seus movimentos de libertação da Índia. Gandhi se respaldou muito nos princípios do Yoga para liderar os movimentos na Índia. Toda essa filosofia e princípios difundidos por ele não poderiam estar mais atuais: o ahimsa (não violência), o satiagraha (verdade) a utilização da ética na política, a defesa do meio ambiente. Parece, inclusive, que todos estes ensinamentos deixados pelo Gandhi foram elaborados para serem utilizados no mundo de hoje. Eles são fundamentais para o combate dos problemas que a gente vive hoje, na sociedade atual.

Como o senhor vê a possibilidade de mudança de paradigma de um Yoga visto como performance de acrobacias e até mesmo uma forma de escapar do mundo para o entendimento do potencial do Yoga como ferramenta determinante de transformação social?

L.A.: Todos os preceitos do Yoga são válidos e úteis para a transformação que a sociedade necessita nos dias de hoje. De fato, o Yoga que é mais difundido aqui no Ocidente talvez seja a parte mais superficial desta filosofia. Está muito voltada à questão das posturas, diversas posições e forma de respiração… Os ensinamentos mais profundos dos quatro principais Yogas são pouco difundidos aqui. Mas eu vejo isso já como um início de entendimento de uma filosofia que é tão profunda e acho que já ajuda a iniciar essa quebra de paradigma que nós precisamos aqui no Ocidente e já passa a ser uma ferramenta para transformar a sociedade.

Chegou a vez do Leonardo Ananda me fazer algumas perguntas.  

Leonardo Ananda – A Índia é o berço do Yoga. Dessa forma, qual você acha que deve ser o papel do governo indiano na disseminação da filosofia e da prática do Yoga corretamente no mundo?

Carolina Jourdan: O governo indiano deve fazer ampla publicidade em diferentes redes de mídia, mostrando o verdadeiro potencial do Yoga como ferramenta de transformação pessoal e, num desdobramento deste efeito individual, como instrumento de transformação social.

O Dia Internacional do Yoga é uma iniciativa que tem prestado um enorme serviço neste sentido. Muitas pessoas nos países do Ocidente ainda não entendem realmente a essência desta prática milenar e, por conta das celebrações do DIY, se aproximam com curiosidade e interesse.

Outro ponto a ser frisado é que para praticar Yoga e estudar Vedanta não é necessário crença religiosa, religião ou dogma. A partir do conhecimento contido nos Vedas diferentes tradições foram desenvolvidas e não há nestes sistemas em especial (Yoga e Vedanta) imposição de nenhuma crença, mas sim o convite a um constante questionamento e discernimento.

2- Apesar de já ser uma filosofia e uma prática muito bem difundida no mundo e aqui na América Latina e no Brasil, sabemos os principais pilares do Yoga ainda são pouco difundidos no nosso país. Na sua opinião, qual a melhor forma de difundir os fundamentos e raízes dessa filosofia no Brasil?

C.J: Professores e instrutores experientes podem realizar workshops e seminários regulares nos quais além da prática de asanas se aborde algum tema específico que expanda a visão dos participantes.

Entender que Yoga nos torna mais hábeis para lidar com todos os aspectos da nossa existência, desde amarrar os sapatos sem estirar um músculo nas costas até aprender a apreciar e desfrutar das coisas simples que a natureza e as relações humanas podem oferecer.

Instigar o interesse dos praticantes pelas lindas e ricas estórias da tradição védica, pelos tesouros contidos nas escrituras que podem nos conduzir ao mais elevado objetivo da vida humana.

Em 2019, estamos celebrando os 150 anos do nascimento de Mahatma Gandhi e, com isso, o governo da índia tem promovido diversos eventos para difundir os ensinamentos deixados por este líder pacifista. Com as comemorações do Dia do Yoga, o que devemos fazer para ligar, de uma forma clara, objetiva e assertiva os ensinamentos deixados por Gandhi aos preceitos que embasam a prática do Yoga?

C.J: Gandhi transmitiu a mensagem de que a paz deve começar em nós mesmos. Yoga é o manual prático e o guia preciso que nos conduz a esta experiência de paz interna inabalável. Yoga não é apenas para o corpo, mas para a mente, para as emoções e o Ser.

Foto: últimos passos de Mahatma Gandhi até o local de sua morte. Museu Nacional de Gandhi, Nova Deli. Índia. Bigstock

Carolina Jourdan

Carolina Jourdan

Carolina Jourdan é instrutora da Arte de Viver e coordenadora do Dia Internacional do Yoga. Também é uma das responsáveis pelo Mamma Ama, coletivo que tem como objetivo difundir o conhecimento do Ayurveda e do yoga, com foco na saúde da mulher e da criança.

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