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Síndrome de aniversário: quando datas significativas se repetem na família

Repetição de datas não é coincidência e transmite importante mensagem

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Você percebe que na sua família costuma ocorrer algum acontecimento traumático relevante, mais de uma vez, ao longo de gerações? Ou, ainda, que datas de eventos distintos se repetem, tal como o nascimento de uma criança no mesmo dia da morte da avó deste bebê? Pode ser, também, uma mesma data de óbito que se repete no sistema familiar; pessoas que falecem com a mesma idade ou doença; acidentes em dias bem próximos, etc.

Segundo um conceito bem intrigante que a psicóloga Anne Ancelin Schutzenberger traz, chamado Síndrome de Aniversário, isso pode não ser coincidência. A especialista verificou em sua própria família, e posteriormente confirmou com anos de estudo em clínica, que eventualmente datas significativas se repetem ao longo das gerações.

Um bom exercício para saber se a Síndrome de Aniversário se faz presente para você, é fazer uma lista de datas de infortúnios ou acidentes graves ocorridos na sua família e fazer a pergunta: esses eventos se repetem em mais gerações?

Talvez você encontre algum óbito, acidente ou infortúnio na mesma data (ou mesmo uma data próxima) a aniversários de nascimento ou casamento.

Neste caso, um evento positivo pode estar relacionado a um evento estressante ou traumático para trazer à tona alguma questão que precisa ser revista.

Repetição de datas simboliza chance de dar um novo significado a uma ação ou sentimento

A repetição é uma forma de compreendermos aquilo que não foi assimilado no passado – por nós ou pelos familiares. Perceber uma repetição de datas relevantes pode significar simplesmente uma chance de dar um novo significado para uma ação ou sentimento.

Para ilustrar, podemos pensar em quantas crianças nascem no dia do aniversário de vida ou morte de uma avó ou avô, por exemplo. E não necessariamente precisa ser no dia exato, mesmo uma data próxima já pode sinalizar alguma ligação entre a mãe e sua própria mãe/pai. Pode parecer estranho, a princípio, pensar que a data de um nascimento, a qual não temos controle na maioria das vezes, pode estar relacionada com algo do passado, mas é exatamente assim que age o inconsciente. E o inconsciente familiar é ainda mais poderoso, pois traz memórias de várias gerações. E mesmo quando planejamos conscientemente a data, pode ser que ela tenha relação com algum evento de duas gerações anteriores a nossa e nem sabíamos conscientemente disto. Mas o inconsciente sabe!

+ Oportunidades ou coincidências?

Talvez identifiquemos a repetição de uma data e, por não ser algo relevante a priori, pensamos ser apenas uma coincidência. Como no exemplo citado, o nascimento de uma criança no mesmo dia do aniversário de morte de sua avó pode simbolizar algo que esta mãe precisa ficar atenta, ao longo da relação com este ser.

Talvez algum sentimento não resolvido com sua própria mãe, que pode vir à tona na relação com aquela filha no futuro. E não é preciso esperar os conflitos surgirem para que eles sejam resolvidos.

Sentimentos mal elaborados, mesmo que acreditemos ser algo do passado, podem e devem ser trabalhados a todo instante. Isto faz parte do processo constante de autoconhecimento.

Proximidade de datas importante pode causar incômodos físicos ou emocionais

Pode ocorrer também, quando uma data importante está se aproximando (aniversário de morte de alguém, ou data de algum acidente ou grande perda no passado), começarmos a sentir física ou emocionalmente vários incômodos. Os sintomas, por também serem expressões do inconsciente, são ótimos sinalizadores de que precisamos olhar para nosso mundo interno e lidar com alguma questão inconsciente que nos impede de avançar em algum nível da nossa jornada.

Um exemplo: certa vez atendi em consultório um senhor que estava muito transtornado por ter batido pela primeira vez em sua filha adolescente. Ele disse ter “perdido a cabeça” e não pensou para agir. Em nossa conversa, trouxe o sentimento de rancor que tinha do pai já falecido, que lhe batia constantemente, e por isso jurou nunca repetir esta violência com suas filhas. Fizemos, então, sua árvore genealógica, a fim de identificar as datas e os eventos mais relevantes da sua família. Foi possível constatar que o pai havia falecido com aquela mesma idade em que o senhor se encontrava na época das sessões. E mais: na época do falecimento do pai, ele tinha a mesma idade que atualmente tinha sua filha adolescente. Refletimos sobre a importância dele trabalhar seus sentimentos de raiva e rancor por seu pai. Poucos dias após esta sessão, o cliente – que já vinha fazendo exames de rotina devido ao histórico de problemas coronários – foi a óbito por infarto, tal como seu pai.

Neste caso, o inconsciente sinalizou, por meio do evento com a filha, que algo do passado relacionado a sentimentos não elaborados pelo pai estava se “apossando” dele. E aí poderíamos nos questionar: “será que ele realmente precisava ter morrido nestas circunstâncias”? Ou se ele tivesse limpado estes sentimentos relacionados ao pai poderia seguir vivendo em sua própria história? Neste caso, este paciente poderia ter se submetido a alguma técnica para trabalhar com traumas, como a EFT (Técnica de libertação emocional) ou a Constelação Familiar, para ajudá-lo a limpar estas emoções represadas. Neste exemplo, podemos lembrar da força que as lealdades familiares exercem sobre nós e refletir ainda mais longe: morrer nas mesmas circunstâncias foi a maior lealdade que ele poderia ter demonstrado ao pai.

Talvez nem sempre é possível ter olhos para ver tantas sincronicidades de datas em sua própria história. A presença de um terapeuta especializado em Psicogenealogia (psicoterapia baseada no estudo do inconsciente familiar em seus mais diversos aspectos e atuações) para auxiliar a desatar os nós, pode ser fundamental em determinados momentos. Mas é fato que é preciso dar a devida importância ao nosso inconsciente familiar, ao invés de negar sua existência. Afinal, ser adulto é saber se apropriar da própria história para fazer as escolhas de forma mais lúcida e consciente.

Maria Cristina

Maria Cristina

É psicóloga sistêmica. Atua com traumas pela abordagem Somatic Experience® além de abordar outras questões de relações interpessoais, autoestima e postura diante da vida. Atende online e presencialmente na cidade de Belo Horizonte.

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