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Padrões familiares podem ser transformados na constelação familiar

É possível transformar situações vividas pelos seus antepassados e que estão se repetindo na sua vida

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Há um movimento crescente de interesse em Constelação Familiar. A terapia é usada para a dissolução de padrões ancestrais que se repetem, dificultando a nossa caminhada como desvios de conduta, compulsões, situações de abuso etc.

Tem sido também utilizada inclusive pelo setor corporativo e jurídico, se tornando poderosa ferramenta de mediação e resolução de conflitos. Mas o que é Constelação Familiar e como ela pode nos ajudar a ter uma vida mais plena?

Para falar sobre o assunto, eu convidei a consteladora e psicóloga junguiana Silvia Rocha, por quem muito tenho admiração.

“Na Constelação Familiar o cliente escolhe entre os participantes, representantes para si e para membros de sua família e, devidamente concentrado, posiciona-se no recinto, de acordo com suas relações mútuas” diz Silvia. “Esse método permite que se tome consciência dos laços inconscientes do destino”, conclui.

Eu, particularmente, sou apaixonada por Constelação Familiar e percebo que a compreensão de nosso sistema familiar nos abre novas portas ampliando a consciência acerca de nós mesmos e dos nossos passos. É uma alegria trazer para vocês um pouco mais desta técnica!

Prem Suryani (Gabriela Alves): Gostaria primeiramente de falar sobre a sua experiência pessoal com a Constelação Familiar. O que fez despertar em você o interesse em trabalhar com constelação e quais benefícios ela trouxe para a sua própria vida?

Silvia Rocha: Eu conheci as constelações familiares em 2004, ano em que fiz a minha primeira constelação em grupo como cliente. Consegui perceber o resultado três meses depois e passei a frequentar as constelações como representante.

Testemunhei vários processos de transformação e, por meio das participações, percebi novos espaços se abrindo em mim e em outras pessoas, e a minha percepção se ampliando. Daí para frente resolvi ser consteladora, pois vi que essa metodologia agrega muito ao processo psicoterapêutico, como boa aliada a psicoterapia individual.

Prem Suryani (Gabriela Alves): Quais os maiores ensinamentos que a Constelação Familiar pode nos proporcionar?

Silvia Rocha: As Ordens do Amor. Quando o sistema familiar segue essas ordens, a vida flui. Se há desordem, os descendentes ficam emaranhados nos destinos dos antepassados, repetindo padrões, inconscientemente. As três ordens do amor são:

  1. Pertencimento: todos têm direito de pertencer, se alguém foi excluído, algum descendente irá “imitar” o comportamento do excluído. A exclusão acontece quando se deixa de falar sobre alguém ou se fala mal.
  2. Dar e receber amor: entre casais precisa ser de maneira recíproca, se for desigual existe uma parentificação, ou seja, alguém está ocupando lugar de mãe ou pai e o outro de filho, o que leva ao desequilíbrio na relação. Já entre pais e filhos é desigual, os pais dão e os filhos recebem. Há filhos que, por se sentirem superiores aos pais, invertem os papéis desrespeitando também a terceira ordem. Filhos que não tomam seus pais, também não tomam a vida, dificultando seu fluir natural.
  3. Hierarquia: os que vieram antes têm precedência e precisam ser honrados e homenageados. Todas as histórias anteriores precisam ser reconhecidas, sucessos, fracassos, uniões e separações, pois foi devido a elas que a vida chegou até você.

ANCESTRALIDADE E O CAMPO MÓRFICO

Prem Suryani (Gabriela Alves): Poderia falar um pouco sobre Campo Mórfico? Qual a relação com a Constelação e como influencia nossas vidas?

Silvia Rocha: O campo mórfico ou campo morfogenético conceituado por Rupert Sheldrake é um campo de memória, dotado de saber, que atua em nossas vidas mesmo quando não nos damos conta. É como se estivéssemos mergulhados em um mar de energia.

Podemos perceber esse campo quando estamos pensando em alguém e esse alguém nos telefona. Os animais têm percepção mais apurada, o cachorro, por exemplo, vai para o portão esperar o dono quando seu humano está ainda virando a esquina da rua.

Nas constelações familiares esse campo fica visível por meio dos representantes ou do trabalho com imagens. O campo atua quer percebamos ou não. As situações vividas por nossos ancestrais estão no campo da família.

Se olhamos para essas situações e concordamos com elas, damos um bom lugar em nosso coração, consequentemente elas param de exercer influência em nossas vidas. Aquilo que não é respeitado atua e impele a pessoa a repetir a situação ou o comportamento. Quando honramos, nos liberamos. Campo é um nome científico para alma.

Prem Suryani (Gabriela Alves): É verdade que o campo nunca mente?

Silvia Rocha: O método das constelações familiares é o da fenomenologia, onde eu conheço a partir do vivenciado e não do pensado. As narrativas familiares são confrontadas, confirmadas ou não.

Os ocidentais têm tendência a se preocuparem muito com a razão, com o certo e errado, com as historinhas que formulamos para explicar ou justificar o comportamento. O campo mostra aquilo que é, o que a pessoa vive em sua alma.

Até mesmo segredos familiares são revelados, situações não imaginadas aparecem e temos a confirmação por meio dos representantes ou das imagens.

As sensações físicas e emoções dos representantes, do terapeuta e do cliente nos mostram o caminho. É um grande alívio quando algo não sabido vem à tona, pois apesar de não sabido, é vivenciado como um peso.

Algumas pessoas, as mais controladoras, têm dificuldades em aceitar o que o campo mostra. Para essas, os benefícios diminuem até que elas possam se abrir à realidade da alma e não de suas mentes.

Prem Suryani (Gabriela Alves): Percebo que o Campo é tão potente que mesmo quem só está assistindo a uma constelação pode ser afetado por ele. Poderia falar sobre isto?

Silvia Rocha: Como disse Bert Hellinger: não existe constelação para apenas uma pessoa. Quem vem para um grupo, mesmo que não participe e fique só observando, está conectado ao campo e se beneficia do trabalho.

Algumas pessoas se beneficiam mais ao representar do que fazendo sua própria constelação. E para quem só assiste, muitas vezes vê no desemaranhar das dinâmicas familiares, sua própria situação e “toma carona” como costumamos dizer para sua própria vida. É como um espelho, mas por ser bastante emocionante o trabalho.

Quem só assiste também se emociona, e por sentir, também se transforma, além dos muitos aprendizados sobre relacionamentos e ordens do amor que um grupo de constelação proporciona.

Essas caronas acontecem, pois como seres humanos temos a mesma estrutura psicológica que são chamados por Carl Jung, de arquetípicas.

Todos nós nascemos de um pai e de uma mãe, somos alimentados e cuidados, desafiados, desenvolvemos nosso Herói para domar nossos dragões e conquistar seu lugar no mundo.

Numa constelação podemos observar a psique em movimento, os ancestrais em nós e os complexos afetivos que quanto menos conscientes, mais emaranhados.

Prem Suryani (Gabriela Alves): Qual a relação da psicologia de Jung com a constelação? Há algum ponto de convergência?

Silvia Rocha: Jung também se apoiou na fenomenologia para desenvolver sua obra e na teoria dos complexos, que são memórias afetivas, um conjunto de imagens carregadas de emoção em torno de um núcleo central arquetípico.

Os arquétipos são estruturas da psique, comuns a toda a Humanidade. Numa constelação podemos observar a psique em movimento, os ancestrais em nós e os complexos afetivos que quanto menos conscientes, mais emaranhados.

Para a Psicologia Junguiana, seu conceito central, o processo de individuação que significa tornar-se quem se é, demanda um trabalho de liberação de expectativas introjetadas da família ou bagagens de questões não resolvidas dos ancestrais.

Nesse sentido, a constelação familiar sistêmica favorece o processo de individuação liberando a carga dos destinos ancestrais e trazendo alívio para o indivíduo e o seu sistema.

Ela facilita o processo de individualização no sentido de interromper as repetições neuróticas e colocar a pessoa em contato com suas possibilidades criativas.

É possível alcançar uma cura apenas como representante, sem precisar constelar?Prem Suryani (Gabriela Alves): Vejo que a lei da sincronicidade atua muito na escolha dos representantes que sempre caem em papéis que de alguma forma têm a ver com o seu momento ou história.

Silvia Rocha: A sincronicidade é um fenômeno da psique estendida ao mundo externo. O conceito Junguiano de Unus Mundus expressa que o que está fora, está dentro.

Sincronicidades acontecem o tempo todo, só não se percebe quando a mente e os comportamentos autômatos estão no comando. O contato com a alma apura a percepção da sincronicidade.

É notório que muitos dos participantes levam para suas próprias vidas, o processo que vivencia como representante de constelação familiar, expandindo sua própria consciência.

Sendo assim ele resolve várias questões alterando suas imagens internas através do trabalho do “outro”. Algumas pessoas que não conhecem o trabalho dizem que vão ajudar numa constelação e no final percebem que também elas foram ajudadas.

A CURA DA CRIANÇA FERIDA

Prem Suryani (Gabriela Alves): Muitas linhas terapêuticas mencionam a criança ferida. Como a Constelação Familiar vê a criança ferida em nós e o que é necessário para curá-la?

Silvia Rocha: A criança ferida é vista na constelação como um movimento interrompido no fluxo do amor.

Se houve uma separação brusca do neném com a mãe, se houve qualquer tipo de distanciamento físico ou emocional na tenra infância, de sua mãe, a formação de vínculos saudáveis fica prejudicada.

É na relação com a mãe que aprendemos a receber, que tomamos a vida. É preciso curar essa primeira relação refazendo o caminho da criança em direção a sua mãe.

É preciso curar essa primeira relação, refazendo o caminho da criança em direção a sua mãe.

Prem Suryani (Gabriela Alves): Vejo a constelação familiar como uma grande ferramenta de cura e transformação. É possível numa única sessão transformar alguma dor ou, às vezes, é preciso constelar mais de uma vez?

Silvia Rocha: A dor precisa ser vivida, pois só assim ela se completa e ocorre a integração do que foi vivido. Enquanto dói, ainda não fora integrado.

Muitas vezes é preciso apenas dar espaço para que algo seja sentido. Dor não é patologia, todos nós nesta vida passamos momentos de tristeza, perdas e precisamos fazer o luto.

A carência, quando uma pessoa está sempre insatisfeita, vem de uma falta de tomar os pais, quase sempre causada por uma arrogância em julgar que o que eles deram não foi o certo, nem suficiente. Quando tomamos nossos pais, sentimos a completude.

Cada pessoa é única, muitas resolvem sua questão em uma sessão, outras precisam de mais sessões para o mesmo tema e outras voltam para constelar novos temas.

Sempre aconselho um processo terapêutico individual, pois nem tudo é do sistema, mas de como a pessoa lida com ela mesma e o autoconhecimento é a maior ferramenta de empoderamento.

Prem Suryani (Gabriela Alves): Atualmente há uma diversidade de linhas de constelação onde o terapeuta traz sua marca pessoal para a sessão. Há algum diferencial no seu trabalho?

Silvia Rocha: Por ser psicóloga junguiana, algumas vezes coloco como representante, os arquétipos. Por exemplo: se o complexo materno é vivenciado de forma negativa e não se percebe ressonância nas ancestrais, coloco o arquétipo da Grande Mãe que tende a equalizar a polarização emocional.

Também é possível colocar imagens arquetípicas de acordo com a crença e religião da pessoa. Se for católica, coloco Mãe Maria, se é Budista coloco Tara, e assim por diante.

Como tenho também uma iniciação espiritual indígena, posso trazer uns cantos de conexão com a natureza ou com forças que percebo que o cliente está precisando se conectar.

Essa formação xamânica que tive também me apurou a sensibilidade de conexão com o campo energético.

Prem Suryani (Gabriela Alves): O que é mais importante para você numa sessão? E quais seriam os pilares de uma sessão bem-sucedida?

Silvia Rocha: O mais importante é o essencial. Quanto mais simples, mais profundo e transformador. Os movimentos da alma e as ordens do amor são o maior pilar de uma constelação, eles nos levam para onde é preciso ir.

Prem Suryani (Gabriela Alves): Como sabemos se a questão que temos deve ser constelada? E há um momento certo para constelar?

Silvia Rocha: Para saber a questão a ser constelada basta perceber onde a vida não está fluindo. O momento certo para constelar é quando o cliente está disposto a olhar para uma boa imagem de solução, ou seja, ele consegue se visualizar com a questão já resolvida e pode se responsabilizar pelo seu próprio processo.

Prem Suryani (Gabriela Alves): Qual seria a orientação que daria a alguém que estivesse buscando uma constelação?

Silvia Rocha: Primeiro, marco uma entrevista para explicar o processo, conhecer a pessoa, saber se ela tem uma questão clara, colher alguns dados sobre o sistema familiar. Eu gosto de perceber a pessoa para saber se ela sabe o que quer e se está em um bom momento para constelar.

Não é recomendado constelar se a pessoa perdeu alguém recentemente ou se não está bem estruturada psicologicamente. Em alguns casos, oriento a pessoa a fazer uma terapia individual antes.

Algumas pessoas querem constelar sem assumir a responsabilidade de um trabalho interno, querendo uma mágica de uma varinha de condão. A constelação coloca a pessoa em confronto consigo mesma

Algumas pessoas querem constelar sem assumir a responsabilidade de um trabalho interno, querendo uma mágica de uma varinha de condão.

A constelação coloca a pessoa em confronto consigo mesma e, muitas vezes, isso exige trabalho de manutenção do processo. Também explico a diferença de se constelar individualmente com os bonecos ou em grupo. As duas formas são eficazes, se diferenciando apenas pelo grau de exposição da pessoa.

Prem Suryani (Gabriela Alves): Que mensagem gostaria de deixar sob a ótica da constelação?

Silvia Rocha: A concordância com o que foi nos libera para novas criações e soluções.

Dizer sim aos destinos dos ancestrais é dizer sim para a vida que está em nossas mãos. Quando honramos nossos ancestrais e o passado, podemos viver nossa própria vida. Como diz Bert Hellinger: “Livre é aquele que pode se transformar.”

Gabriela Alves

Gabriela Alves

Mentora da Arte do Ser, Gabriela Alves Toulier dedica sua vida à expansão da consciência como Terapeuta da Alma e Guardiã do Sagrado Feminino, onde integra técnicas como Constelação Familiar, ThetaHealing e Filosofia do Yoga, a fim de auxiliar as pessoas a se tornarem a sua melhor versão.

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