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O mundo de des-conexão das redes sociais

Uma reflexão acerca do contrassenso que marca a Era Online

Atualizado em

O ponto de atenção deste texto nada tem a ver com a tecnologia e com as redes sociais. Ao contrário, ambas tem um enorme valor e trazem benefícios para sociedade – isso é indiscutível. O ponto de atenção é em relação a forma como estamos nos relacionando com essa Era Online. Estamos vivendo um momento delicado em relação às nossas referências de formação pessoal e, principalmente, aquilo que acreditamos que devemos ter e/ou ser.

O parâmetro passou a ser algo externo a nós mesmos, nossas necessidades, experiências ou realidade. Tudo passa a ser visto sob a perspectiva do outro (dentro de uma tela). O caminho é de fora pra dentro e, cada vez mais, vivemos desconectados de nós mesmos.

Tudo passa a ser visto sob a perspectiva do outro (dentro de uma tela). O caminho é de fora pra dentro e, cada vez mais, vivemos desconectados de nós mesmos.

A motivação em falar sobre o tema reflete o aumento do número de pacientes com depressão e transtornos de ansiedade que chegam ao meu consultório de psicologia. Em quase todos os casos, existe uma relação direta com essa nova forma de nos relacionarmos com o mundo, através de uma realidade virtual que nos deixa offline de nós mesmos.

+ Uso excessivo de internet simboliza fuga da realidade

INFLUENCIADORES DIGITAIS

As pessoas se sentem inadequadas, infelizes e insatisfeitas com suas próprias vidas, seguindo a crença que “a grama do vizinho é sempre melhor”. O que não veem, é que trata-se de uma realidade paralela, em que temos a possibilidade de criar, roteirizar e editar a verdade que queremos passar para as pessoas “criando perfis”. Simulações que, de tão bem arquitetadas, comovem mais do que uma rede de amigos, virtuais ou não, na internet.

Esse novo modo de se relacionar é tão pulsante que o mercado de comunicação se modificou para se ajustar a isso. Hoje, existe uma nova profissão conhecida como “digital influencer” (em português, influenciador digital), que se consolidou a partir do momento que as marcas começaram a usar rede social como canal estratégico para produtos e serviços.

Segundo a Nielsen, especializada no comportamento dos consumidores, 90% dos clientes confiam na recomendação de outras pessoas para comprar um produto. Com isso, as campanhas publicitárias que antes eram veiculadas através de mídias tradicionais, hoje são feitas de forma sutil (ainda que também massivas) usando as redes sociais. Muitas vezes, nós, consumidores, somos pegos pela publicidade sem ao menos nos dar conta de que é, de fato, um anúncio. Pois ele vem de pessoas que só conhecemos online, mas confiamos.

Diferente das outras mídias, as redes sociais passam uma percepção de que esse conteúdo é uma dica ou sugestão de uma pessoa de verdade, que a gente admira, e confia muito no seu lifestyle (em português, estilo de vida). Ou seja, as pessoas ganham muito dinheiro com isso enquanto nós consumimos, sem saber, estamos, de fato, consumindo só publicidade.

Diferente das outras mídias, as redes sociais passam uma percepção de que esse conteúdo é uma dica ou sugestão de uma pessoa de verdade, que a gente admira, e confia muito no seu lifestyle

Quando percebemos, já estamos praticando algo que entrou quase que, sem notar, no nosso modelo mental e perdendo a conexão com nós mesmos. Isso nos deixa cada vez mais vulneráveis, aumentando a chance de sermos enganados por falsos desejos. Não que seja errado seguir quem admiramos, mas o que não podemos perder é nosso senso crítico.

+ Internet pode ser aliada do consumo

É essencial, antes de comprarmos uma ideia, um bem de consumo ou um serviço, considerar, primeiro, a nossa realidade, nossas experiências e, principalmente, aquilo que faz sentido para nós mesmos, assim como os nossos próprios valores. Questionar-se é importante para nos manter conectados com nós mesmos e, consequentemente, nos protegermos da pegadinha de usarmos como referência o externo – ou seja, o outro.

É sempre importante questionar qual a função e a relevância de cada escolha que fazemos pra nossa vida. E, ao invés olharmos só pra fora, meu convite é para que olhemos para dentro, nos perguntando, onde e como estamos, o que podemos melhorar, onde queremos chegar e como, sempre levando em conta aquilo que é possível e factível para si mesmo.

+ Aprenda exercício para tomar decisões conscientes

O QUE ESTÁ POR TRÁS DE UMA TIMELINE?

É muito duro e injusto quando nos julgamos através da realidade do outro. Uma realidade que só conhecemos online, onde tudo pode ser editado. Temos acesso, apenas, ao resultado, mas não ao processo como um todo. Não sabemos se é real, ou quando é real. Não sabemos das perdas e das dores que estão por trás que cada estilo de vida popular.

+ A carência por trás das selfies

Vejo pessoas inconformadas com sua forma física buscando um ideal baseado em alguém que pode estar doente por dentro e passar uma imagem de saúde por fora. Vejo também pessoas tristes e inconformadas com suas carreiras porque se comparam a ícones construídos pela – e para a – Internet ou por pessoas que se dizem realizadas publicamente, sem ao menos nos questionar o que, de fato, está por trás daquele contexto. Ou, ainda, pessoas frustradas com suas vidas e famílias porque não conseguem alcançar nem metade daquilo que parece uma vida ou família perfeita, tão comum nas redes sociais.

O fato é que não existe perfeição, tampouco “almoço grátis”. Tudo tem um custo e, se alguém passa esse tipo mensagem, sem nenhuma verdade, está sendo, no mínimo, superficial e inconsistente. Há um desserviço e irresponsabilidade em contribuir para esse mundo de “faz de conta”. As pessoas acreditam que suas vidas são sem graça e sem sentido pois se baseiam num modelo irreal. Quase como um delírio coletivo e induzido.

Acreditamos que podemos ter uma vida feliz, estável e livre de dor ou sofrimento. Isso não será possível, porque tudo (e todas as dores) faz parte. Serve para nos fortalecer e ensinar. Compreender as dores e as delícias de sermos quem somos, para aceitar e nos orgulhar das nossas conquistas e da nossa trajetória, sem ter como parâmetro o que não é nosso (a grama do vizinho ou a timeline do outro), já fará uma grande diferença no nosso referencial e na nossa forma de enxergar a grandeza que é ter e viver uma vida legítima.

Amanda Figueira

Amanda Figueira

Psicóloga, com formação em Psicologia Parental, Constelação Familiar, Terapia Sistêmica Vivencial, Terapias Energéticas (Pranic Healing e Reiki), Coaching de vida e carreira, entre outras.

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