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O que significa o “novo normal” para você?

Definir as sensações e experiências que buscamos pode facilitar o autocuidado nesse período desafiador

Atualizado em

Prestando atenção às conversas que tenho acompanhado, ao que me dizem as pessoas próximas e ao que tenho ouvido nos atendimentos, neste finzinho de 2020 nos encontramos completamente exaustos diante das circunstâncias do chamado “novo normal“.

Pode ser que você tenha a escolha e o privilégio de estar em casa desde março. Talvez já tenha voltado a trabalhar fora, precise sair para fazer algum tratamento médico ou, ainda, tenha encontrado um jeito seguro de passear e de ver pessoas queridas.

Por mais diferentes que sejam nossas experiências neste ano, é certo que a pandemia inseriu muito medo em nosso cotidiano e levou, ou ameaçou levar, algumas das coisas mais importantes: saúde, segurança material, liberdade. Além de tudo isso, a pandemia também nos tirou oportunidades de conexão, alegria e prazer.

Nós somos seres sociais

De onde quer que olhemos – antropologia, ciência evolutiva, ecologia, economia, neurociência e mais -, as evidências apontam a importância da interação e da cooperação para a existência humana. Os estudos mostram que nos sentimos mais confortáveis e felizes quando estamos juntos, compartilhando presença, emoções e histórias.

Da mesma maneira, alegria e diversão constituem parte indispensável da nossa evolução e da nossa saúde. Quanto menos espaço há para brincar e se divertir, mais crescem os níveis de ansiedade e depressão. Para aprender, crescer, sobreviver e prosperar os seres humanos precisam de conexão e de prazer.

Idealmente, para tudo isso funcionar, é vital que a gente esteja em contato próximo com outro: são importantes o olho no olho, pele com pele, a troca de sorrisos e o abraço apertado. Mas este é o ano de 2020, e, de repente, tudo isso virou realidade distante.

É possível viver um “novo normal”?

Sabemos muito pouco sobre o futuro dos encontros e contatos, e ainda existem inúmeras perguntas sem resposta. O “novo normal” virou assunto bem rápido, já entrou no nosso discurso, e penso que é porque queremos todas essas experiências de volta logo. Estamos cansados.

Mas sabemos e sentimos que nada está normal. Não podemos fingir que está tudo resolvido ou que a vacina já chegou, assim como também não podemos nos entregar ao medo de que nunca mais teremos estas alegrias. Então, como encontrar um caminho do meio e nos adaptar a este momento de forma cuidadosa e sustentável?

Identificar o incômodo ajuda a buscar mais bem-estar

Acredito que buscar estratégias sustentáveis de existir e conviver nesta atual realidade não é uma responsabilidade apenas individual. Antes de tudo, seriam necessárias medidas de saúde pública honestas, focadas em segurança e redução de danos. Não temos muitas certezas, e ninguém gostaria de abrir mão dos seus prazeres por tempo indeterminado.

A precariedade dessas medidas junto com a desigualdade complicam um cenário já muito difícil, mas é certo que muitas adaptações sociais e individuais são necessárias. Sendo assim, se você tiver a oportunidade de cuidar melhor de você agora, vamos tentar criar um espaço em que isso seja possível.

Comentei um pouco sobre as pistas e evidências que a ciência nos dá, mas quero te convidar aqui para a olhar a sua própria experiência.

Quando você pensa que gostaria que as coisas voltassem ao “normal”, o que vem à sua mente?

O que te trazia alegria, prazer e bem-estar antes da pandemia? Como se sentiu quando deixou de ter essas opções?

Do que você sente mais falta? O que está mais te incomodando?

Construindo o equilíbrio possível no “novo normal”

Conforme os meses continuam passando e não vemos uma saída segura, é natural que a fadiga chegue, e o medo e a tristeza aumentem. Desejar um “novo normal” não é errado, buscar contato e diversão é o natural a se fazer.

Quero lembrar que estamos passando por um sofrimento coletivo, em que o prazer e a conexão são não apenas necessários para o bem-estar – se tornam também indispensáveis para criar resiliência e formas de enfrentar as dores que estamos vivendo. Eles fazem parte da saúde e da nossa recuperação.

Ao mesmo tempo, o risco da contaminação não acabou, e é necessário ter responsabilidade com as nossas escolhas. Todo dia surgem novas informações sobre os riscos de cada atividade fora de casa, quais as escolhas mais seguras para retomar aos poucos nossa vida social e o que ainda deve ser evitado.

Buscar informação de qualidade e tomar decisões conscientes também precisam ser parte do “novo normal”.

Sabendo disso, abre-se o espaço para tentar encontrar um equilíbrio possível, evitando os extremos do descuido e da desesperança. De que forma você tem buscado bem-estar? De que maneiras acha possível trazer para o seu dia a dia atividades e experiências que te aproximem do cuidado com você? Como fazer isso de forma segura para si e para os outros?

Tirando de nós muitos privilégios que pareciam garantidos, o ano de 2020 trouxe a possibilidade de nos tornar mais respeitosos com a experiência humana – e isso inclui aprender a olhar melhor para o outro e também para nós mesmos.

Acredito genuinamente que é preciso cuidar bem de si para cuidar do mundo, e espero que continuemos para além desse momento doloroso e desafiador levando junto uma maior consciência sobre as nossas fragilidades e sobre a urgência que há em acolher e nos sentir acolhidos.

Ariela Bello

Ariela Bello

Médica e coach de saúde. Trabalha com estratégias simples que promovem saúde, bem-estar e autoconhecimento. Consulta presencial (SP) e coaching online.

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