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Game of Thrones: ligação da série com sua forma de ver a vida

Série despertou reflexões em fotógrafo sobre nossas reações diante do inesperado

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Depois de oito temporadas, Game of Thrones chega a um final que divide mais as pessoas do que um pênalti duvidoso em final de campeonato. Se você acompanhou a saga de Jon Snow, Daenerys, Tyrion,  Arya, Sansa e todos os demais, qual sua opinião sobre a conclusão da história? Gostou, achou um desastre ou razoável?

GOT sempre foi uma série conhecida pelas surpresas, frustrações e choques que causou na audiência. Era de se esperar que ela terminaria de uma maneira inusitada. E é disso que quero tratar aqui. Qual o nosso comportamento diante de um acontecimento inesperado e que não nos agrada? O quanto conseguimos mudar nosso ponto de vista para aceitar algo que inicialmente rejeitamos? Existem formas mais positivas de interpretar?

Alerta: esse texto pode conter spoilers

Talvez exista um consenso que se as duas últimas temporadas fossem um pouco mais longas (como os dez episódios das primeiras), alguns arcos poderiam ser melhor explorados. Talvez a invasão de Westeros pelo exército dos mortos pudesse ser mais longa para causar uma sensação de ameaça maior e ter um fechamento melhor. O romance de Jon e Daenerys poderia ser construído com mais calma e a virada do personagem da Mãe dos Dragões seria mais crível com mais tempo de tela. Mas foram só sete episódios e seis episódios nas últimas duas temporadas. Só nos resta analisar o que a história deixa para cada um.

Se olharmos GOT só como uma saga de aventura e romance, encontramos pontos que não favorecem a experiência de quem acompanhou a série.  Entretanto, já foram publicadas diversas críticas e teorias a respeito do final feitas por especialistas gabaritados. Vou deixar essa parte pra eles… não tem certo ou errado. Você é quem decide o quanto gostou ou não.

Herói ou vilão?

Para falar do questionamento inicial, da visão de vida,  fica mais fácil se interpretarmos a história com um olhar sobre o ser humano e suas relações com os outros,  a política e o poder. Daí a coisa pode ganhar um novo colorido.

Muitos espectadores torceram a favor ou contra um mesmo personagem durante as temporadas. Eu mesmo torci pra Cersei em um ponto da história. Theon Greyjoy foi amado e odiado em diferentes momentos. Isso faz pensar que a série mostra como as pessoas agem de maneiras diferentes, dependendo das circunstâncias.

Jaime Lannister foi capaz tanto de coisas horríveis quanto notáveis no desenrolar da trama.  Daenerys foi mantida por mais tempo sob um olhar favorável, como uma heroína e libertadora e apenas na reta final, após chegar ao seu objetivo, ela se transforma em tudo que sempre quis combater. Novas circunstâncias trouxeram à tona uma parte de sua personalidade desconhecida e inesperada. Infelizmente não é só na ficção que dúvidas e sentimentos podem afligir e transtornar uma pessoa. Nenhum de nós é apenas bom ou mau, apenas acerta ou erra.

O inesperado é uma oportunidade

Em nossas vidas, como lidamos quando algo diferente do que desejamos ou sonhamos acontece?  Qual a nossa capacidade de perceber que às vezes um acontecimento tem um alcance mais amplo e que só entenderemos totalmente as consequências com o tempo? Jon foi condenado a retornar a Patrulha da Noite, mas o inverno em breve deixará de existir. A terra será provavelmente fértil, e os outrora inimigos de além da muralha hoje o veem como um herói, possivelmente um rei. Um fim diferente de tudo que se podia esperar, mas será que é realmente ruim ou decepcionante?

Enquanto a roda política continua a girar em Westeros fazendo variações sobre o mesmo tema, Jon conclui sua jornada entrando em terra nova, para um novo horizonte a ser conhecido. E essa atitude de encarar o inesperado como uma oportunidade, ao invés de uma punição, é o que pode fazer a diferença entre viver com esperança e trabalhar por dias melhores ou passar muito tempo amargurado, remoendo um passado que não volta.

Seja seu próprio rei

Game of Thrones mostra pessoas que lutaram para chegar a seus objetivos. Alguns conseguiram, outros não.  E, isoladamente, chegar ou não a um objetivo não foi bom, nem ruim. Como cada um se portou a partir disso é o que fez a diferença.

E não é assim conosco também? Como cada um de nós lida com sucesso e fracasso? Com decepções e realizações? O que cada um desses eventos traz à tona em nós? Como nos comportamos quando estando na posição de comandar ou de sermos comandados? Somos verdadeiramente coerentes? Nós realmente nos conhecemos?

No fim das contas, o que sentimos e fazemos diante do inesperado é um degrau para que sejamos mais conscientes de nossas próprias personalidades. Procurar outros ângulos para compreender e interpretar a vida é uma ferramenta de autoaprimoramento. Fazer isso quando o seu time perde a final de goleada parece utopia.  Mas procurar novas formas de ver é uma boa maneira de viver melhor, de estar mais em paz consigo mesmo e com a vida. Seja seu próprio rei, conselheiro e súdito. Governe-se.

Rodrigo Castro

Rodrigo Castro

Rodrigo Castro é sócio diretor de uma agência de comunicação. Trabalha há 14 anos com fotografia e audiovisual. É pai da Janaína e da Mariana e ainda encontra tempo para tocar guitarra e assistir suas séries favoritas.

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