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Faça as pazes com seu pai

Deixe o orgulho de lado e construa uma nova história com quem ama

Atualizado em

Os tempos em que o pai tinha pouca ou nenhuma importância na vida emocional dos filhos felizmente estão cada vez mais longe. Antigamente era apenas a mãe a responsável por educar, orientar e prover o alimento afetivo, enquanto cabia ao pai prover materialmente, vetar ou castigar. Injusta divisão de papeis.

Graças à consciência de que a figura masculina é uma referência valiosa na vida de todos nós, os pais atuais estão se ocupando de seus filhos de maneira mais atenta e amorosa, são mais próximos e interessados do que os pais de antigamente. Mas será que não cabe aos filhos adultos atuais lançar sobre seus pais um olhar um pouco mais compreensivo, quando se faz um inventário tão rigoroso das mágoas que já deveriam ter ficado para trás?

Se seu pai é do tipo ranzinza, “reclamão” e que só vê defeito em tudo; ou se ele é do tipo apático, que não se inclui em nada, não opina, não participa; ou ainda é do tipo autoritário que só aceita as coisas do jeito dele e “exige” respeito e devoção às suas palavras… Bem, claro que a convivência harmoniosa deve ter ficado comprometida ao longo da vida. Mas não seria o caso de refletir e concluir que ninguém pode dar o que não tem?

Dê ao seu pai o que você gostaria de receber

Durante sua infância ou adolescência era legítimo imaginar que seu pai era até insuportável, que não o compreendia e que não era afetivo. Mas depois que alcançamos uma certa maturidade, não é adequado que ainda estejamos à espera daquele calor que faltou nos primeiros tempos. Por que não considerar a possibilidade de nutrir seu pai com tudo o que você gostaria de ter tido dele?

Se faltou a ele flexibilidade para agir de forma diferente, e se você se recusa a experimentar tratá-lo com respeito e afeto, não estaria você reproduzindo o mesmo comportamento que abomina?

Costumo dizer que chega um tempo na vida em que temos possibilidade de reeducar nossos pais com atitudes simples e palavras doces. Dessa forma, eles estarão supridos, ou seja, terão o afeto que precisam para poder também responder com atitudes e palavras afetivas.

É claro que não falo aqui das relações que foram tão abusivas que acabaram por chegar num ponto de quebra. Nesse caso seria pedir muito em apenas uma reflexão. Existem situações que pedem um acompanhamento profissional mais profundo, pois existem feridas quase impossíveis de cicatrizar. Falo, sim, das relações difíceis que deixaram mágoas.

Mas chega um ponto na vida em que temos que escolher: ou permanecemos com nossas mágoas de crianças, ou quebramos o gelo e nos abrimos para uma realidade mais serena junto de nossos pais. Ou ficamos cegos para as virtudes deles, ou admitimos que nem tudo foi tão ruim, que afinal aprendemos coisas valiosas, mesmo cercadas de rabugice ou uma aparente indiferença.

Para quem tem arestas a aparar com o pai e não sabe por onde começar, veja abaixo algumas sugestões:

  1. Sem motivo aparente, dê a ele um presente simbólico (não precisa ser nada caro). Entregue pessoalmente e diga: “passei por essa loja e lembrei que você gosta disso”. Pode ser uma comida especial, uma caneta para a coleção dele, uma vara de pescar, etc.
  2. Aproveite uma data especial, como o Dia dos Pais, por exemplo, e escreva num cartão algo que venha do coração. Nem que para dizer o quanto gosta dele tenha que antes dizer que quer esquecer as diferenças entre vocês e iniciar um novo relacionamento.
  3. Diante de uma provocação, mude sua atitude: dê um abraço em seu pai, acompanhado de algumas palavras, como por exemplo: “Pai, eu tenho certeza de que você não quer me magoar nem me chatear, porque um pai sempre quer o bem de seu filho. Você apenas não sabe como fazer isso de forma gentil”.

Tratar mal seu pai ou com indiferença, rispidez ou ironia, apenas faz com que você fique parecido com ele. É uma atitude de vingança, não uma atitude apaziguadora. Quando você mudar a sua atitude diante dele, pode se surpreender muito com os resultados. Não mude esperando que ele se torne uma pessoa mais fácil de lidar da noite para o dia, pois isso dificilmente vai acontecer. Mude antes por você mesmo, para que você se sinta em paz com o passado de eventuais atritos. Hoje você é um adulto que tem condições de compreender melhor as chatices do seu pai e buscar inteligentemente o melhor caminho para extrair dele sua melhor parte. E isso se faz também reconhecendo o amor que você sente por ele, ao invés de negar esse sentimento.

Coisas surpreendentes podem acontecer quando mudamos nossa forma de agir e podemos começar tratando nosso pai como gostaríamos de ser tratados por nossos filhos, basta fazer um pequeno exercício de imaginação. Permanecer numa atitude vingativa pode fazer mais mal a você mesmo do que a ele, pois com isso você só vai conseguir perpetuar a sensação de desamor.

A vida é curta demais e, ao mesmo tempo, preciosa demais para ficarmos adiando a compreensão, o perdão, os gestos afetivos. Não espere que o primeiro passo seja dado por seu pai, que talvez não compreenda a importância que isso tem para você. Experimente deixar o orgulho vazio de lado e vá buscar o que deseja. Seja paciente e perseverante, fazendo o que deve fazer para o seu bem-estar. Se ele não corresponder à sua iniciativa, você estará em paz consigo mesmo. Mas se o seu “velho” acolher seu carinho, uma nova e gostosa história de bem-querer pode surgir. E então ambos estarão em paz.

Celia Lima

Celia Lima

Psicoterapeuta Holística, utiliza florais e técnicas da psicossíntese como apoio ao processo terapêutico. Presta atendimento também por meio de terapia breve com encontros semanais, propondo uma análise lúcida e realista de questões pontuais propostas pelo cliente objetivando resultados de curto/médio prazo.

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