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Yoga como aliado na luta contra a bipolaridade

Prática auxilia no equilíbrio das emoções em momentos de crise

Atualizado em

O transtorno bipolar é uma doença que atinge 4% da população brasileira, segundo dados da Associação Brasileira de Transtorno Bipolar (ABTB). O distúrbio deve ser levado muito a sério por conta da sua rapidez em mudar do estágio da euforia para o da depressão, e vice-versa. Os altos níveis de estresse provocados por essas oscilações geram, ainda, um índice significativo de suicídios entre os pacientes. Contudo, além de tratamentos médicos, há terapias e métodos alternativos que podem ajudar no combate das crises, como o Yoga.

Anderson Pires, praticante de Yoga há quase 20 anos e professor há 15, buscou ajuda nesta prática para entender o que acontecia consigo mesmo. Anos depois, tornou-se autor do livro “Bipolaridade: sintomas, convivência e equilíbrio”. Hoje, consegue auxiliar outras pessoas a passarem pelo mesmo processo doloroso, com sua própria experiência de vida.

Personare: Quando você começou a ter crises?

Anderson Pires: Tive a primeira crise aos 19 anos, mas achei que era relacionada à separação dos meus pais. Depois de seis meses tive outra. Depois de um ano, tive mais crises e, por isso, comecei a terapia e tomar a medicação. Mesmo assim, dois anos depois, tive novamente [uma crise]. Estava no segundo ano da faculdade de administração e trabalhando em empresas mas resolvi abandonar tudo. Acabei indo trabalhar com o meu pai adestrando cães e o contato com os animais me fez ficar bem por três anos e meio. Mas, voltei a ter crises. Nesse ponto, estava perdendo a esperança.

Para que se possa entender a seriedade do problema, o que é bipolaridade?

AP: A bipolaridade tem dois pólos: a euforia, um estado muito agitado que pode chegar à psicose. Ou seja, sair da realidade por meio de pensamentos delirantes (como se sentir perseguido, não dormir, falar demais, gastar dinheiro com coisas erradas e fazer coisas perigosas). O segundo pólo é a depressão, quando a pessoa se entristece, se fecha para o mundo e perde a vontade de viver. Uma das grandes dificuldades do transtorno de bipolaridade é a medicação, já que é difícil acertar a dosagem do remédio de imediato.

Como foi a sua primeira experiência com Yoga?

AP: O primeiro contato foi em 1999. Na época, estava cansado porque nada resolvia o transtorno bipolar, e eu já tinha tido seis crises em que pelo menos três delas foram caso de internação. Melhorava, ficava um tempo bem e tinha recaídas mesmo usando medicamento e fazendo terapia. Parece que tive um chamado interno de buscar alguma coisa e essa coisa foi o Yoga.

Parece que tive um chamado interno de buscar alguma coisa e essa coisa foi o Yoga.

Comecei a praticar em uma fase que estava melhor, vi as melhorias que a prática começou a me trazer e continuei praticando.

Você disse que recebeu um chamado; como de fato buscou a prática?

AP: Na época se falava pouco sobre isso. Eu frequentava um centro espírita onde tinham livros que falavam sobre Yoga. Li, me matriculei em uma escola, arrisquei e me apaixonei. Comecei a mudar rapidamente, notei que perdi o peso adquirido com a medicação e fiquei mais animado. Também estudei Yoga e depois de um tempo fui chamado para dar aulas experimentais, o que me levou a fazer o curso.

Muitas pessoas não têm a noção de que Yoga é uma filosofia de vida, acham que é só o exercício físico. O que no Yoga fez com que você mudasse sua vida?

AP: Quando estamos mal, fazemos uma couraça emocional em nossos corpos. Ao praticar Yoga, essa couraça vai sendo quebrada. Os exercícios respiratórios fazem com que o cérebro seja oxigenado, mudando a sua química. A partir disso, a pessoa começa a se sentir melhor. Fui do movimento negativo ao positivo com ajuda da prática. Quando comecei a pesquisar e estudar a filosofia do Yoga, pude olhar para a vida de outra forma. Quando mudei meu programa mental, notei que as coisas que me abatiam não o faziam mais.

Você pode dar um exemplo prático dessa mudança de visão?

AP: Quando meus pais se separaram, eu sentia muita dor pelo sofrimento deles. Ia visitar meu pai e tinha a sensação de que ele estava me traindo de certa forma, pois tinha outra família e filhos. Via minha mãe com um problema e logo eu adoecia. Depois que comecei a praticar, olhei meus pais como seres humanos, que têm direito de ter liberdade para fazer as próprias escolhas. Hoje eu entendo que eu posso ajudá-los, mas que os problemas e escolhas pertencem a cada um deles. Consigo não ter o mesmo envolvimento de antes.

Você já percebeu que poderia ter uma crise e teve que recorrer ao Yoga?

AP: Sim. O que acontece é que hoje eu enxergo os sintomas como algo que está fora de mim. Por exemplo, quando percebo que estou excessivamente eufórico, me concentro para voltar ao equilíbrio. Assim como quando estou meio depressivo e faço o oposto do que minha mente quer naquele momento, que é ficar quieto em casa. O Yoga me ajudou a dominar o cavalo bravo dentro de mim em vez de dopá-lo com remédios.

O Yoga me ajudou a dominar o cavalo bravo dentro de mim em vez de dopá-lo com remédios.

Cada pessoa precisa assumir a responsabilidade por sua doença e por sua vida.

Como é a experiência de dar aulas de Yoga?

AP: Eu fui chamado rapidamente depois de começar a estudar. Só depois fiz um curso de formação e por isso perguntava ao dono da academia “As pessoas não reclamam por eu não ter experiência?” e ele dizia que todos me adoravam. Os alunos me inspiraram a continuar no caminho e até hoje é assim. No final das aulas, conto a minha experiência e as pessoas se identificam com isso porque eu falo não do que está escrito em textos sagrados, falo de algo real na minha vida.

O que de gratificante aconteceu após esse tempo trabalhando com Yoga?

AP: Depois de 10 anos praticando sem ter nenhuma crise, resolvi escrever um livro. No início, imprimi 500 exemplares. Hoje, já passaram dos cinco mil. Vejo que posso ajudar muitas pessoas dessa forma. Um dos momentos que mais me marcaram foi quando uma psicóloga disse estar usando meu livro no hospital psiquiátrico em que fui internado pela primeira vez. Foi bem emocionante.

Que conselho você daria para quem quer começar nesse caminho?

AP: Costumo falar que o Yoga tem três partes básicas: autossuperação, autoestudo e autoentrega. A primeira é a parte física, o esforço de cuidar do corpo com a atividade e alimentação e da mente com a disciplina; a segunda é a prática da leitura, que ajuda a ampliar os conhecimentos; a terceira tem a ver com o domínio do ego, como se eu fizesse as minhas ações sem me apegar aos resultados. Acabo agindo de maneira menos ansiosa e sem medo, agindo para o bem de todos.

Se você pudesse resumir em palavras o que é Yoga, como definiria?

AP: É a prática do autoconhecimento, da busca da iluminação pessoal, do seu melhor lado. Depois que você começa a se aprofundar, percebe o Yoga presente em várias áreas da vida, unindo os campos físico, emocional e espiritual.

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