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Tarot ajuda a encarar medos e dependências

Arcano "O Diabo" convida você a enfrentar seu lado sombra

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O Diabo, décimo quinto arcano maior do Tarot, representa a matéria física, as sensações e os desejos carnais. É a imagem do monstro de toda e cada aventura dos contos de fadas: ele possui o tesouro que o heroi tanto busca. Somente essa figura bestial pode suscitar o protagonista a fazer valer sua coragem e independência.

Aludindo à nossa jornada cotidiana, a figura demoníaca é um convite para descobrirmos o que existe de pior em nós e transformar em lição e crescimento. Repare que na imagem do arcano duas pessoas estão acorrentadas ao pedestal em que a criatura se encontra. Podemos tomá-las como duas forças letais ao nosso crescimento pessoal: o medo e a dependência. A partir delas podemos desbravar novos caminhos e tomarmos atitudes prudentes nos piores momentos da vida. Basta querer. Vai encarar? Então dê um passo na escuridão.

MEDO: LEVANDO LUZ ÀS SUAS TREVAS

Carl Jung, o pai da psicologia analítica, diz que “não nos salvamos por imaginar o claro, mas pelo fato de tornarmos consciente o escuro”. Em outras palavras, isso indica que ter a noção de que não somos nem bons nem maus, mas sim bons e maus, é importante para compreendermos nossa natureza. O Diabo nos faz encarar o espelho e dizer que somos nossas dores e nossas delícias, o branco e o preto convivendo dentro de nós e definindo escolhas e atitudes.

O Diabo nos faz encarar o espelho e dizer que somos nossas dores e nossas delícias, o branco e o preto convivendo dentro de nós e definindo escolhas e atitudes.

Este arcano está longe de ser um convite ao mal. Antes disso, ele é um convite à nossa inteireza, à noção de que somos e fazemos o bem ou o mal. Quantas vezes você já se sentiu vilão ou vilã de novela? E quantas vezes se identificou com a mocinha ou o mocinho? Esses papeis fazem parte do nosso repertório humano. E o Diabo, modelo de sombra, nos deixa cientes desses papeis.

Conhecer nossa própria sombra, portanto, nos permite constatar que não somos tão inofensivos. Confesse: às vezes você não adora uma fofoca e deseja que alguém que não gosta tanto aprenda certas lições na vida? Quanto menos reconhecermos o escuro em nós mesmos, mais depositamos no outro o que existe de mais cínico, hipócrita e perverso.

E também desconfie de quem vê a vida com felicidade absoluta. Quem embeleza a tudo e a todos, torna inócuo aquilo que não quer [mas que deveria] ver: as próprias sombras. A tendência em manter o sorriso no rosto em todas as circunstâncias demonstra o quanto a pessoa está desesperada consigo própria. O trabalho com o Diabo do Tarot é justamente esse: perceber e encarar nossas trevas com coragem, em vez de negá-las. Só vence monstros quem assume os seus próprios.

Só vence monstros quem assume os seus próprios.

DEPENDÊNCIA: O INFERNO SÃO OS OUTROS?

O filósofo Jean Paul Sartre afirma que somente através dos olhos alheios é que podemos ter ideia da nossa própria essência. Só a convivência é capaz de nos dar a certeza de que estamos fazendo as escolhas que desejamos. A ideia de que “o inferno são os outros” é válida, porque sem as pessoas com quem convivemos, nossa vida não teria sentido. Dependemos das pessoas, do início ao fim.

Mas depender dos outros, sobretudo de atitudes e opiniões, é mais um alerta do décimo quinto arcano do Tarot: você depende da aceitação alheia para ser quem é? Se respondeu “sim”, então, definitivamente, você não se valoriza. Permanecerá na escravidão das impressões e não chegará na sua própria essência.

Muitas vezes, dependência é sinônimo de preguiça. Já reparou em quantas pessoas próximas a você são acomodadas e vivem reclamando de tudo e de todos? E quem tem voz para falar apenas de si em vez de se dedicar a ouvir um pouco mais? Isso mostra uma postura de quem não sabe firmar as rédeas dos problemas e tomar decisões importantes sobre a própria vida, dependendo de outras pessoas e circunstâncias para se descobrir realizado e notado. Mas confesse novamente: você também não age mais ou menos assim, às vezes? Para compensar essa falta de voz e poder pessoal, algumas pessoas acabam se tornando gananciosas e materialistas, querendo tudo ao mesmo tempo. E é a presença do Diabo, no Tarot, que ilustra nossas ambições – das mais corriqueiras às mais complexas. É encarando o quanto temos sido negligentes conosco e com os outros que damos um ultimato à dependência: decidir fazer por conta, sem esperar ajuda ou consentimento dos outros.

Enfrentar nossos monstros e romper amarras – eis o poder que O Diabo nos oferece nesse encontro. Sabedoria pessoal é sinônimo de reconhecimento e enfrentamento do que existe de pior em nós. Antes de ver essa carta como a simples e demoníaca representação de crenças religiosas, pense por analogia, extraindo o que pode ser útil ao seu desenvolvimento interior. Na hora de tomar atitudes impensadas e fazer julgamentos muito severos, pare e pense em você. É mais fácil enxergar o lado negro dos outros do que o nosso. O inferno pode ser uma simples criação sua!

PERGUNTAS INCÔMODAS PARA RESPONDER NA FRENTE DO ESPELHO

  • O quê você anda escondendo embaixo de seus tapetes?
  • Qual é o seu maior medo, neste momento?
  • Você se considera uma boa pessoa?
  • O que é o mal? E o que é o bem?
  • Como você lida com a inveja, o ciúme e a ambição?
  • Para você, desejo vem antes da necessidade? Por quê?
  • Por que você precisa chamar a atenção dos outros?
  • Até onde vai sua vaidade?
Leo Chioda

Leo Chioda

Leo Chioda é escritor e um dos principais tarólogos em atividade no Brasil. Graduado em Letras pela UNESP, atualmente desenvolve uma tese sobre poesia e alquimia na USP. Assina o blog e as redes sociais do Café Tarot desde 2006, onde publica associações entre os arcanos e a cultura popular, a literatura, a música e o cinema.

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