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Depoimento: assumi meus cabelos brancos

Terapeuta explica decisão de deixar fios ao natural

Atualizado em

Assumi meus cabelos brancos de uma forma charmosa e ousada. Sinto-me feliz ao ver minha imagem no espelho e acho que esta alegria faz as pessoas me enxergarem mais jovem do que antes – quando eu cultivava os fios castanhos. Uma magia adorável aconteceu.

Percebo que estou mais inteira, mais forte e com meu poder feminino ativado. Uma sensação espetacular. Eu recomendo. Mas para quem quer, claro.

Quando eu era bem pequena já adorava os cabelos cor de prata do meu pai. Uma pessoa que eu admirava por seu carisma, beleza, equilíbrio e firmeza.

Quando alguém falava dos fios brancos dele eu me enfurecia e dizia que eram “prata, não brancos”. Assim, acho que me tornei defensora desta tonalidade capilar.

No decorrer dos anos, sempre olhei com simpatia os homens e as mulheres que deixavam seus cabelos embranquecerem naturalmente. Gostava mesmo. Acho lindo uma mulher com autoestima ao assumir seus cabelos brancos, pois se sentiriam feias. Nestes casos, conte com a ajuda das químicas disponíveis para solucionar sua vida. Mas será que é o caso da grande maioria?

Constato que nossa sociedade gasta muito dinheiro com insatisfações fantasiosas, e isso acaba aniquilando a satisfação pessoal de amadurecer com dignidade, saúde e mais felicidade.

Constato que nossa sociedade gasta muito dinheiro com insatisfações fantasiosas, e isso acaba aniquilando a satisfação pessoal de amadurecer com dignidade, saúde e mais felicidade.

E quando digo “sociedade” refiro-me a nós mesmo, pois somos muito cruéis esteticamente. Baseados na ilusão ditada por revista, TV, cinema e moda, exigimos sermos supostamente perfeitos e jovens no padrão da estação. Isso é uma loucura! A perfeição desejada é uma ilusão ditadora.

E por isso resolvi renunciar essa ilusão, assumindo os cabelos brancos que possuo desde jovem. Nos últimos anos vinha crescendo a vontade de me livrar desta dependência química da tintura, mas não sabia como e nem se teria a coragem de assumir a figura da “velhinha de cabelos brancos”. Difícil este momento, bem difícil. Mas foi ficando insuportável.

Mudança foi feita aos poucos

Em novembro do ano passado, passei por uma epifania e não consegui mais ter vontade de pintar os cabelos – ainda mais que eu mesma fazia o procedimento. O tempo foi passando, o branco foi crescendo e fui ficando com uma cara de mal tratada.

Acabei negociando comigo mesma que pintaria só a parte da frente do cabelo e aquela na qual eu repartia os fios, até achar uma solução. Desta forma, tive a oportunidade de ver como eram os meus cabelos brancos, e em qual parte eles eram mais numerosos, pois a raiz crescia feliz e sem restrição.

Passaram-se quatro meses, a raiz já estava bem grande e gostei do que via, afinal, os cabelos eram prata como os de meu pai.

O passo seguinte foi encontrar um profissional que topasse descolorir o castanho e transformá-lo em branco. Ninguém apoiava e estimulava minha ideia. Disseram que não daria certo, que os cabelos ficariam amarelados ou com duas cores diferentes, explicaram sobre possíveis danos aos fios e muitos outros empecilhos.

Todos me aconselhavam a ter calma e esperar as madeixas brancas crescerem naturalmente. Mas isso não me convencia. Quando acredito em uma coisa, ninguém me faz recuar. Com a minha vasta experiência em descolorações e tingimentos, achava possível uniformizar os fios brancos. Meu coração dizia para ir em frente.

Para dar vazão a minha vontade e inseguranças, resolvi postar nas redes sociais a contagem regressiva do procedimento, após me assegurar do dia adequado para a mudança de visual desejada por mim no Personare.

Para meu espanto, todos os amigos – até aqueles que nunca falavam comigo – resolveram comentar minha decisão. Uma avalanche de curtidas e comentários surgiu, fui me empolgando e postando diariamente as opções e possibilidades. A participação dos outros só aumentava, até que em um momento as pessoas pediram para que eu acabasse com o mistério e mostrasse logo a mudança.

Quando os cabelos passam a contar sua própria história

Foi assim que num dia de pura insensatez eu me dirigi a um estabelecimento de marca famosa, escolhi uma profissional confiável e me entreguei a esta loucura adorável. Devo salientar que quando a cabeleireira topou minha proposta, sabia exatamente o que estava fazendo. E eu também.

Senti que estava pulando num abismo no escuro, fiquei extremamente nervosa. Sabia que se não desse certo eu rasparia a cabeça e ponto. Mas esta condição seria frustrante e dura.

O processo durou seis horas nas quais eu meditei muito para suportar a espera sem mais sofrimentos. Um corte de cabelo, duas descolorações, tonalizante azulado, hidratação e secagem.

Pronto, eu estava com meus cabelos brancos e com menos dinheiro na conta. Minha raiz agora tem a oportunidade de crescer livre e contar minha própria história, assim como todo o resto do meu corpo.

Estou feliz, me sentindo livre. Descobri que este assunto mexe mais com as pessoas do que eu poderia imaginar. Por esta razão, resolvi contar a todos minha experiência, encorajar uns e alertar outros sobre este procedimento que acabei, por teimosia, realizando.

Assim que me olhei mais profundamente no espelho em casa, tive a feliz sensação de estar, enfim, assumindo o período da colheita em minha vida. A sabedoria do tempo estava retratada em minha imagem – e eu gostava disso.

Assim que me olhei mais profundamente no espelho em casa, tive a feliz sensação de estar, enfim, assumindo o período da colheita em minha vida. A sabedoria do tempo estava retratada em minha imagem – e eu gostava disso.

Ainda bem, né? Caso contrário teria que pintar tudo de novo.

No entanto, mais importante que a cor de nossos cabelos é estarmos satisfeitos com o que somos e temos. É fundamental aceitar que nosso corpo começa a envelhecer desde que nascemos. Afinal, estamos vivos e a única forma de não passar por isso seria radical demais. Nossa única obrigação é a de nos mantermos conscientes, felizes e saudáveis. Siga sem medo de ser mais livre e feliz sempre.

Psicóloga opina: assumir fios brancos significa aceitar os ciclos da vida

Psicóloga e filha de Regina, Luisa Restelli Akstein explica, do ponto de vista psicológico, o que está por trás da decisão de assumir os fios brancos. Veja abaixo o depoimento da especialista:

“Quando Regina resolveu assumir seus cabelos brancos, a repercussão foi imensa e inesperada. Foi possível perceber o quanto este assunto mexe com as pessoas, mulheres e homens, e como este tema é reprimido. Mas, ao mesmo tempo, preenchido de desejos e vontades escondidas. Muitas se incomodam e muitas se inspiram, criando coragem para fazer o mesmo.

Como há um medo grande por trás disso, quando alguém dá o primeiro passo de coragem, é como se desse a mão para as outras pessoas, rumo a sua própria libertação capilar. Já algumas ficam perplexas, chocadas ou incomodadas com tamanha ousadia fora do padrão.

Pintar os cabelos pode ser algo agradável e divertido, já que a mulher tem liberdade para fazer o que quiser com seus próprios fios. Mas quando isso se torna somente uma obrigação, pode ser interessante refletir sobre o assunto.

Os cabelos simbolizam nossa força interior. Eles falam de nossa liberdade, vitalidade, criatividade e poder. Para a mulher, é um grande representante de seu poder pessoal e de sedução. Existiram épocas em que os cabelos grisalhos eram considerados bonitos e costumavam ser cultivados.

Também em outros períodos e culturas a figura da anciã era respeitada e reverenciada. Por conta disso, é curioso observar como os cabelos brancos femininos são tão renegados em nossa sociedade atual. Ter cabelo branco, para muitos, virou sinônimo de descuido e desleixo, ou significa o terror da idade avançando.

Poucas são as mulheres que assumem seus cabelos brancos com autoestima e segurança. A maioria se mantém na luta quinzenal de encobri-los, fingindo para o mundo (e tentando fingir para si mesma) que essa realidade não chegou a sua vida. É interessante refletirmos por que evitamos e marginalizamos tanto os tão comuns fios brancos.

Em nossa cultura atual, assumir o branco é assumir a idade e mostrar que você envelheceu, o que para nós é algo muito delicado. Em uma sociedade que preza pelo jovial, a idade está sempre tentando ser escondida.

Em nossa cultura atual, assumir o branco é assumir a idade e mostrar que você envelheceu, o que para nós é algo muito delicado. Em uma sociedade que preza pelo jovial, a idade está sempre tentando ser escondida.

Nas culturas antigas e matrifocais (organização social pré-patriarcal em que o papel materno – divino e humano – era valorizado), a mulher, considerada sagrada, era quem tinha a sabedoria mágica da natureza e dos ciclos da vida. Era respeitada por todos, em todas as suas fases: a jovem, a mãe e a anciã.

A anciã, dos cabelos brancos, é a sábia, figura de extrema importância na comunidade, respeitada e reverenciada por todos. É também aquela que se conhece profundamente e, com experiência, tem sábios conselhos, aprendendo a lidar com as questões da vida.

Ela possui a sabedoria para lidar com sua sombra – aquelas partes negadas e jogadas no calabouço interno que não queremos ver – e os ensinamentos para guiar os mais jovens em seus caminhos.

E esta figura de sabedoria e grande força interior é pouco reverenciada por nossa sociedade atual. A busca interior por autoconhecimento e trabalho interno costuma, muitas vezes, ficar em segundo plano também.

É preciso ter coragem para assumir quem somos, em uma sociedade na qual usamos inúmeras máscaras para a adequação e o convívio social. Nem sempre é fácil se assumir por inteiro, pois nem sempre é fácil gostar integralmente de nós mesmos.

De olhar para nós a olhos nus e gostar do que vemos, até porque muitas vezes nem sabemos quem somos de fato. Mas antes de assumir quem você é, é necessário saber quem você é.

Recentemente, escutei em um programa de televisão uma fala que dizia o seguinte: “Na cidade grande você não sabe nem direito quem você é. Com tanta correria, acaba se perdendo na velocidade das coisas”.

São tantas as tarefas, que muitas vezes esquecemos da nossa essência e de nossa própria verdade, nos deixando em segundo plano e assumindo as verdades que são ditas de fora. Outras são as prioridades e, ao querer ser aceito e amado pelo outro, assumimos verdades impostas para nos encaixar nos padrões e evitar rejeições.

Além de tudo isso, é interessante observar o histórico da mulher moderna. Como já dito, em culturas antigas, a mulher era considerada sagrada e reverenciada por conter em si o milagre da vida, em uma comunidade na qual a Deusa e o Sagrado Feminino eram cultuados.

Com a mudança para a sociedade patriarcal, o poder da mulher foi sendo podado para a manutenção do poder no homem. Durante o período da famosa inquisição, mulheres fora dos padrões eram consideradas bruxas, perseguidas e queimadas na fogueira.

É preciso compreender esta história e perceber que este medo antigo foi sendo passado de geração a geração, a partir de então. Continuamos vivendo em uma sociedade patriarcal, apesar dos muitos avanços na busca por igualdade. Desta forma, ainda reside na mulher o enorme medo de se assumir como poderosa que é.

Receio de assumir todo o seu poder feminino, que foi podado e reprimido por tanto tempo. A imagem mais comum de bruxa que temos em nossa cultura é aquela mulher mais velha, enrugada e grisalha, com uma verruga no nariz. É uma imagem que está infiltrada dentro de nós e nos faz querer fugir dessa realidade.

“Vou parecer uma bruxa assim!”, muitas costumam pensar. Porém, essa mulher grisalha e com rugas faz parte do ciclo natural da vida.

Hoje em dia, isso também se tornou uma questão para a relação homem-mulher. Alguns homens, em nossa cultura, tendem a perder o interesse sexual pela mulher mais velha e de cabelos brancos. Para eles, quem tem cabelos brancos são suas avós, e o registro sexual muitas vezes se perde na cabeleira grisalha.

Com isso, muitas mulheres se submetem à vontade do parceiro que não a quer assumindo seus fios. E, então, muitas vezes pintar os cabelos se torna uma obrigação conjugal. Isso continua a reforçar a submissão da mulher pelo homem, tentando se adequar e deixando de lado suas vontades, bem-estar e naturalidade, entregando a ele seu poder pessoal.

Vivemos em uma sociedade que preza pelo jovial e “perfeito”, cuja imagem ideal é a de modelos de capas de revista. Ficamos presos à imagem, à foto estática e perfeitamente estética daquele segundo tão natural aos olhos de quem só a vê pronta.

Mas acreditem se quiserem, as mesmas modelos também têm ou virão a ter cabelos brancos, como também todos os ditos “defeitinhos” que passamos a vida tentando esconder, retocar, repaginar.

A questão é que cada vez mais somos “metralhados” por informações que nos invadem, com a ideia de que precisamos seguir este modelo perfeito e prezar o máximo possível pelo jovial, sempre à mercê de inúmeras intervenções – das mais brandas às mais invasivas – para se manter jovem e dentro dos padrões. Vivemos em uma ditadura do corpo. Sim, uma ditadura na qual regras são ditadas e vamos seguindo sem muito questionar. E quando questionadas, poucas ainda tem a coragem de mudar.

Assumir os cabelos brancos é, no mínimo, um desafio nos dias de hoje. É interessante observar também que, atualmente, os homens estão começando um movimento de encobrir os fios brancos, para também manter sua aparência jovial. Estamos na crença de que devemos sempre parecer jovens.

Ao invés de ser um processo natural do corpo, aceito e acolhido com amor e respeito por si mesmo e pelos outros, torna-se um enorme problema, a ser escondido de qualquer maneira.

Para as mulheres que resolvem assumir seus cabelos brancos, a sensação costuma ser a de se assumir por inteira e, com isso, assumir também seu poder feminino. Sentem-se mais seguras e poderosas.

Para as mulheres que resolvem assumir seus cabelos brancos, a sensação costuma ser a de se assumir por inteira e, com isso, assumir também seu poder feminino. Sentem-se mais seguras e poderosas.

Isto porque elas quebram, naquele momento, o padrão de esconder quem são e “soltam” o medo da idade. Tomam as rédeas de si mesmas, com todo o seu poder pessoal.

Autoconhecimento e autoaceitação é a dupla de palavras-chave. Como podemos nos assumir sem antes nos conhecermos? A busca interior por autoconhecimento e trabalho interno é essencial. Somente conhecendo quem somos é que podemos nos aceitar e nos assumir de verdade.

E neste momento em que você tem as rédeas da sua vida nas mãos, sabe quem é e conhece sua própria verdade, opta por aquilo que lhe faz feliz. E a felicidade pode estar em pintar os cabelos como quiser ou assumir seus fios naturais e grisalhos. O interessante é refletir e observar até que ponto é uma liberdade e até que ponto é uma obrigação. E fazer a escolha que mais lhe fará bem”.

* Com a colaboração de Luisa Restelli Akstein, psicóloga e psicoterapeuta corporal – E-mail: luisara.psi@hotmail.com

Regina Restelli

Regina Restelli

Criadora da Terapia dos Chakras e uma das referências em Ho´oponopono no Brasil. Realiza atendimentos online no Personare. Está à frente da webserie Respira e integra o time de especialistas do Programa Medita e Vai.

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