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Bullying pode gerar atos violentos

Ex-colegas afirmam que atirador de escola era alvo de intimidações

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Ex-colegas de turma de Wellington Menezes de Oliveira, autor do ataque à escola em Realengo, no Rio de Janeiro, afirmaram que ele foi vítima de bullying na época que estudava na Escola Municipal Tasso da Silveira. Segundo amigos, o atirador era alvo de intimidações e apelidos pejorativos por conta de seu jeito calado e arredio. O mesmo aconteceu com os rapazes que promoveram o massacre em uma escola em Columbine, nos Estados Unidos, que depois gerou o documentário “Tiros em Columbine”. Apesar de sempre existir nas escolas, o bullying nem sempre foi encarado como um problema. Há algumas décadas era considerado “coisa normal de crianças”. Aquelas que divergissem um pouco da média eram as vítimas preferenciais. Hoje a prática tem sido denunciada, mas está bem longe de ser controlada.

Nesta mesma semana, dois outros casos envolvendo bullying povoaram os jornais. Uma estudante universitária de enfermagem denunciou as agressões que sofria à direção da faculdade, em Ribeirão Preto, e foi agredida por uma colega com um capacete de motociclista. No sertão de Alagoas, um aluno de 15 anos passou por uma sessão de três minutos de tapas na cara por ser homossexual. O bullying não respeita fronteiras nem nível social.

No ambiente escolar, é muito importante para a criança ou o adolescente fazer parte de um grupo, ser aceito e apoiado por ele. Quem sofre bullying sente-se excluído e geralmente reage com um sentimento de inferioridade, que pode influenciar sua vida em seus aspectos emocional, social e profissional, não só no momento em que sofre a agressão, mas por muitos anos no futuro.

Quem sofre bullying sente-se excluído e geralmente reage com um sentimento de inferioridade, que pode influenciar sua vida em seus aspectos emocional, social e profissional, não só no momento em que sofre a agressão, mas por muitos anos no futuro.

Cria-se um sentimento de inadequação, de não pertencimento, que mina sua autoconfiança e o faz sentir-se inferior. Algumas vezes essa sensação pode gerar uma reação violenta e, se somada a um transtorno grave e não tratado de personalidade, um massacre como o que aconteceu no Rio de Janeiro.

No Ensino Médio, estudei em uma escola particular de Niterói, mas morava em São Gonçalo. Eu e muitos colegas que vínhamos da cidade vizinha sofríamos todo tipo de gozações, até mesmo por parte de professores. Algumas inócuas, outras bem agressivas. Um de nossos colegas sofria mais perseguições, pois, além de gonçalense, era negro (o que era uma exceção numa escola de classe média de Niterói à época) e obeso. Não eram só piadinhas, eram tapinhas na nuca, crianças tomando seus cadernos e jogando-os no chão ou colocando o pé na frente para derrubá-lo. Os inspetores, pomposamente chamados de “auxiliares de comunicação”, limitavam-se ao “não faça isso de novo”. Ele tornou-se mais tímido do que no início do ano. Um dia ele surrou o colega mais insistente nas provocações e foi suspenso das aulas pela atitude violenta.

O bullying sofrido pelo meu colega tinha as três características que o definem: era alvo de agressões e comentários negativos, as agressões eram repetidas e havia um suposto desequilíbrio de poder entre os colegas. Nem sempre o bullying é tão evidente, já que ele pode acontecer por meio de intrigas, espalhando comentários entre colegas (e a internet, através das redes sociais, pode ser um veículo para isso), ou evitando falar com a pessoa que sofre o bullying, até mesmo porque quem se aproxima da vítima também é hostilizado. Os temas mais usados pelos agressores são relacionados à forma física (por meio de apelidos como baleia, esqueleto, sem-bunda, baixinho, pintor-de-rodapé ou caolho), à etnia (palavras como crioulo, branco-azedo ou japa são comuns nesse caso) e à religião (como crente, papa-hóstia ou macumbeiro).

Os agressores buscam, através das provocações, dominar um grupo, numa estrutura de poder semelhante ao de animais na selva. É preciso que o bullying não seja tolerado como “coisa normal” e estimule o agressor a buscar sua própria humanidade, que pode ser feita por meio da arte, por exmeplo. Já a vítima precisa ser amparada e protegida pela escola e por tratamentos psicoterapêuticos, além de não ser exposta ainda mais aos agressores, para que possa ter a real percepção de si, e não aquela imagem perniciosa que o bullying insiste em fazê-la acreditar.

Para continuar refletindo sobre o tema

Observe o comportamento dos pequenos e evite o bullying – https://www.personare.com.br/revista/casa-e-familia/materia/1291/entenda-e-combata-o-bullying

Diga não ao bullying – https://www.personare.com.br/revista/casa-e-familia/materia/826/diga-nao-ao-bullying

Marcelo Guerra

Marcelo Guerra

Médico graduado pela UFRJ. Começou a carreira como Psicanalista e depois enveredou pela Homeopatia e Acupuntura. Ministra oficinas e palestras em todo o Brasil e atende em consultório no RJ.

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