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A grama do vizinho é mais verde?

Mídias sociais fazem a vida alheia parecer mais interessante que a sua

Atualizado em

Lembro da primeira vez que uma cliente minha confessou que perdia horas e horas checando os perfis alheios no Facebook. Ela deprimia-se diante da felicidade dos outros, estampada em fotos e frases de quem parecia viver a vida ideal 24 horas por dia. Fiquei mais surpresa ainda ao receber, não muito depois, outras confissões bem similares. Mais pessoas se sentiam absolutamente infelizes por não terem 500 amigos em sua lista ou por não receberem tantos comentários assim ao postarem uma foto ou uma frase.

Muita gente também era remetida a um sentimento esquisito de mediocridade por não ter uma vida tão interessante quanto a que os outros usuários desta rede social parecem ter. Parecem ter. Quem disse que tem? Facebook e afins são reflexos de uma época que soma duas coisas: acesso fácil à tecnologia e um mundo de aparências, no qual “ter” e “parecer” são mais importantes do que “ser”.

A psicóloga Mariana Lauria de Oliveira esclarece que não há como negar que a tecnologia digital trouxe uma nova configuração aos hábitos e costumes. Então, segundo ela, devemos refletir sobre a maneira como esta ferramenta vem sendo utilizada. “Através das mídias sociais cria-se a ilusão da satisfação plena, de maneira compulsiva, tanto para quem busca informações quanto para quem divulga. É um sistema de retroalimentação, no qual as pessoas querem saber mais e mais sobre aqueles que querem expor cada vez mais também”, explica.

Como acontece com Cacau Oliveira, que confessa ser viciada em Facebook e não deixa de postar cada coisa que realiza no dia-a-dia. Está tudo lá: se chegou ao trabalho, se foi à ginástica, o que comeu no almoço, as fotos tiradas no fim de semana pelo celular e postadas imediatamente no Facebook. E como se já não fosse pouco, escreve as mesmas coisas no Twitter. “Gosto de publicar para ter um retorno em comentários e aprovações. Me sinto popular assim”, comenta.

Mariana explica este tipo de comportamento: “a maneira como as pessoas se mostram em seus posts é a forma como se relacionam também fora das mídias sociais. Assim, tendo um pouco mais de senso perceptivo, é possível diferenciar aqueles que são mais depressivos, fúteis, superficiais, egocêntricos, etc.”, completa a psicóloga.

A felicidade que pode ser ilusória

Do outro lado da moeda de pessoas exibicionistas como Cacau, estão aqueles que se deixam impressionar por estes excessos. É tanto encontro com amigo, tanto post comentado, tanta foto de momentos maravilhosos, frases de quem vive sempre de bem com a vida, que algumas pessoas começam a se perguntar: “por que só eu não vivo esta felicidade contagiante todos os dias da semana?”.

Com uma certa vergonha, a contadora Lygia Menezes confessa: “Tem pessoas no meu Facebook que publicam fotos e comentários quase que 24 horas por dia e só mostram uma euforia e uma felicidade magníficas. Em alguns momentos eu me pergunto o que ando fazendo de errado na minha vida para não conseguir ser assim também. É tanta felicidade exposta o tempo todo que eu – que fico triste, cansada, mal-humorada – começo a me achar um bicho estranho e cheio de problemas”.

Segundo a especialista, a postagem de fotos e frases é um ato de responsabilidade de cada um e, desta forma, a pessoa pode mesmo estar exibindo uma realidade ilusória, mostrando somente aquilo que pode ser interessante mostrar. “No entanto, a ilusão de felicidade criada na rede é tão estática como a tela do computador”, pondera ela.

Na época que o Orkut era mais popular, a atriz Monica de Souza experimentou várias vezes este sentimento de inferioridade ao visitar as páginas dos amigos na rede social. “Sempre que me sentia chateada, eu me pegava quase que inconscientemente navegando pelas páginas de desconhecidos ou, especialmente, de amigos de tempos passados. Ficava admirando como as pessoas estavam bem encaminhadas, felizes, como tudo deu certo para elas e, ao mesmo tempo, me sentia cada vez menor, já que nada dava certo para mim e eu não estava naquele estado bonito de felicidade”, conta ela que agora está em outro momento de vida, bem mais feliz, e não cultiva mais este hábito.

Não caia na armadilha da internet

Mesmo quem tem uma vida que considera satisfatória e momentos de felicidades constantes e reais, pode em algum momento cair nesta armadilha, como aconteceu com a advogada Andressa Soares. “Lembro-me de sentir frustração – e até inveja – numa vez em que vi o álbum um amigo, com fotos ao redor do mundo. Ele é o que ainda não consegui me tornar: diplomata. Fiquei numa dialética de sentimentos ruins, entre a inveja e a autopiedade. Resolvi não tornar a ver os registros dele, porque senti vergonha daquela sensação”, diz a advogada.

“Acho que as pessoas caem nessas armadilhas porque ficam à procura de algo que elas supõem que seja perfeito, só que tal perfeição não existe. O mais difícil é encarar o que não é perfeito, a vida fora da internet, e isso requer muito trabalho. Lidar com a frustração não é fácil, é preciso ter amadurecimento emocional”, analisa a psicóloga.

Ainda nas palavras de Mariana, o que se observa é que, no fundo, uma rede de amigos consideravelmente grande e a necessidade de expor de maneira exagerada que é feliz, oculta indivíduos solitários no dia-a-dia, que se abstêm da exposição que uma relação interpessoal real exige. “Acredito que seja uma tendência do contemporâneo, a noção de tempo cada vez mais acelerada, de relações cada vez mais superficiais e indivíduos cada vez mais isolados”, esclarece a psicóloga.

As ferramentas sociais fazem parte do mundo moderno, não há como negar. Saber usá-las com sabedoria e moderação talvez seja a chave para o futuro. O contato pessoal ainda é mais importante e satisfatório do que saber através do Facebook que seu amigo chegou atrasado no trabalho, o que sua vizinha comeu no café da manhã ou a opinião do seu colega de trabalho sobre o capítulo da novela que ainda está sendo exibido. Assim como também é ilusória a ideia de que as pessoas vivem naquele país das maravilhas que elas mostram online.

Que tal desconectar-se um pouco do seu Facebook? Se o dia está lindo lá fora pode ser um convite para um passeio ao ar livre. Quem sabe no caminho você não encontra um amigo, dá um abraço de verdade nele e sentam para um café e um bate-papo.

Carolina Arêas

Carolina Arêas

Iniciou sua formação como terapeuta floral através do Healing Herbs, da Inglaterra, estudando as essências de Bach. Também trabalha com Reiki nível II e massoterapia ayurvédica, e é co-criadora do projeto "Word Rocks" e “Love it Forward List”.

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