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Terrible two: aprenda a lidar com a ‘crise dos dois anos’

Três dicas para agir na hora da birra dos bebês

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A relação entre pais e filhos sempre traz novos desafios. Geralmente se inicia antes do nascimento, no planejamento da gravidez ou na adaptação ao novo ser que está para chegar. Uma oportunidade de crescimento e evolução para pais e filhos.  Uma das fases mais desafiantes é a que ocorre entre dois e três anos e que alguns especialistas nomeiam como “terrible two”, “crise dos dois anos” ou ainda “adolescência infantil”.

De repente aquele ser tão frágil e delicado, totalmente dependente de você, começa a gritar, bater e chorar compulsivamente por motivos irrelevantes ao nosso olhar. Achamos que erramos em tudo que havia sido feito até o momento para gerar aquele pequeno tirano que surge em nossa frente.

Por volta dos dois anos, aquele bebezinho que era atendido em todas as suas necessidades começa a perceber que ele e a mãe não são um único ser

Achamos ainda que precisamos rever todas as nossas técnicas e habilidades, apelamos para livros e manuais com dicas de “como fazer”. Muitas vezes precisamos apenas parar e nos conectar com o que ocorre no interior daquela pessoinha – e, claro, no nosso íntimo também.

O bebê e suas próprias emoções

Percebo que o que mais nos atrapalha é a velha máxima: “O que os outros vão pensar de mim?”. Estamos sempre querendo nos mostrar como pais perfeitos, e quando o “nosso” filho não age conforme esperado as cobranças internas, que irão se refletir no externo, começam a acontecer. Mas estamos diante de um ser em formação que chega a um novo mundo precisando aprender sobre tudo, inclusive sobre suas emoções.

Por volta dos dois anos, aquele bebezinho que era atendido em todas as suas necessidades começa a perceber que ele e a mãe não são um único ser. Percebe ainda que precisa lidar com emoções que não tinha consciência e que surgem de repente.

Se sente fome, sono ou algo o chateia, a criança ainda não tem o recurso que os adultos têm – ou ao menos deveriam ter – de lidar de forma prática com as questões. Eles sentem e expressam da maneira instintiva que sabem: chorando, gritando ou batendo. E é neste momento que, em um segundo, as águas calmas se transformam em um tsunami.

Muitas vezes basta um não para ficarmos diante de reações intempestivas e totalmente imprevisíveis, que nos fazem fantasiar mil maneiras inconvenientes e impronunciáveis sobre como nos livrar daquela situação. Então respiramos fundo e lembramos que ali tem apenas uma criança em desenvolvimento e que se alguém precisa ter as emoções sob controle somos nós, adultos.

Terrible Two: e quando achamos que não pode piorar…

Então chega a adolescência. E não, não se passaram 12, 14 anos! Ela também existe na infância e ocorre por volta dos três anos, podendo durar até os  cinco. Nessa fase, eles querem fazer tudo sozinhos. Se acham independentes e não aceitam ajuda em nada. Aqueles rompantes emocionais de outrora vão surgir a cada vez que você tentar impedi-los de fazer o que desejam.

Agora é o momento dos filhotes reafirmarem a independência. O processo interno ainda é de reconhecimento e exploração das emoções. Contudo, conforme o tempo passa, as crianças vão se apropriando dos sentimentos que são nomeados e conscientizados pelos adultos que as cercam.   

Respeitar a individualidade sem comparação

Todo este processo irá acontecer de formas diferentes para cada criança. Não adianta querer enquadrar o filho em um manual de desenvolvimento infantil saudável. Cada um irá se desenvolver  à sua própria maneira e em seu ritmo. Todas irão passar pelas reações tempestuosas em algum momento, pois faz parte do desenvolvimento, descoberta e regulação das emoções.

Mas a forma como cada criança vai passar é diferente. Por isso é impossível definir uma idade exata. Alguns com um ano e meio já demonstram o carrossel de emoções. Outros passam por estas fases de forma mais amena e tranquila. Não há regra. O fato de ter irmãos ou não também pode influenciar muito a dinâmica.  O importante é não comparar e não nos apegarmos a ideias fixas e expectativas.

Cuidado para não prejudicar a autoestima do seu filho

É comum que os pais peçam, em meio ao turbilhão emocional dos filhos, que eles “engulam” o choro, que ofereçam algo caso parem de chorar ou algo do tipo. Sei que é tentador querer parar um descontrole emocional da criança assim que ele começa, mas estas atitudes parecem resolver a curto prazo, mas podem ser extremamente prejudiciais ao longo do desenvolvimento da criança.

O que comunicamos com isso é que eles não podem sentir o que sentem, então criamos adultos que escondem, não sabem lidar ou simplesmente desconhecem suas emoções. Há algo ainda mais grave implícito em recados deste tipo, como: “Você só é amado ou respeitado quando se comporta bem, ou como eu quero, segundo a minha visão.” Depois não entendemos como alguém pode ser tão emocionalmente dependente quando adulto e se sujeitar a relações afetivas disfuncionais e até abusivas.

Ainda mais importante do que aquilo que falamos é o que fazemos. Se em um momento de raiva falamos algo que nos arrependemos depois, basta reconhecer, conversar e expressar seus próprios sentimentos  à criança. Da mesma forma, as atitudes agressivas e repressoras podem falar mais que qualquer elogio ou palavra bonita.

Esteja consciente do momento presente

O aprendizado é saber viver no desconhecido, se adaptar e agir com espontaneidade. A cada momento lidar com o desafio que surge como uma oportunidade de ensinar e também aprender algo sobre si. A primeira infância é a fase da criança na qual ela mais expressa tudo aquilo que está  à sua volta. Perceber isto é um grande passo em nosso próprio desenvolvimento e evolução. Não podemos controlar como a criança vai reagir. Como nós reagimos a ela, sim.

Se não conseguimos estar conscientes de nossas próprias emoções, como conseguiremos ensinar a elas como regular seus próprios sentimentos? Para esta tarefa, precisamos estar conscientes do momento presente, das emoções que emergem em nós e, principalmente, não levar para o lado pessoal. A criança nesta idade não faz nada para lhe provocar propositalmente. Ela é uma exploradora do mundo, aprendendo sobre emoções e até onde pode ir. Cabe aos pais e cuidadores propiciaram o ambiente seguro, respeitando e nomeando suas emoções e colocando os limites necessários.

Não há um manual do que fazer para lidar com os momentos insanos dos pequenos. Mas o primeiro passo é estar consciente do momento presente. Muitas vezes é possível prever que o tsunami vai começar. Para isto podemos ficar atentos à rotina que a criança mantém e se algo está fora dos padrões. Assim, talvez seja possível evitar alguns rompantes emocionais desnecessários. Mas caso ele aconteça de repente, tente falar com seu filho calmamente ou apenas estar perto.

Terrible Two: como agir na hora dos rompantes?

  1. Muitas crianças reagem de forma agressiva e podem se machucar, e é preciso contê-las. Talvez em um abraço firme, mas carinhoso. Caso ela se debata muito, certifique-se que não há nada próximo que ela possa se machucar e deixe que ela extravase a emoção. Muitas vezes a presença e o silêncio são suficientes para fazer o pequeno voltar a si.
  2. Alguns pais que ficam muito nervosos podem se afastar, avisando  à criança que estarão ali por perto. Se estiver em um local público, não se intimide pelas pessoas e seus olhares julgadores. A sua relação com seu filho é mais importante que a relação com os estranhos ao seu redor.  Ou seja, não há regras nem uma garantia do que irá funcionar. Você precisa sentir e experimentar.
  3. É importante se conectar com você e com seus próprios sentimentos, lembrar que diante de você está uma criança que precisa da sua ajuda. Se estiver sendo tomado pela raiva, frustração ou impaciência, respire por um instante e se pergunte: o que eu quero comunicar? Apesar de cada um reagir da sua maneira, tenho certeza que a resposta para esta pergunta não pode ser muito diferente de: amor.

Educar filhos é um desafio para uma vida toda. E em cada fase haverá suas particularidades e aprendizados. O essencial é saber curtir cada etapa com presença e amor. Assim poderemos aproveitar nossa própria jornada no autoconhecimento ensinando e aprendendo com nossos pequenos grandes mestres.

Maria Cristina

Maria Cristina

É psicóloga sistêmica. Atua com traumas pela abordagem Somatic Experience® além de abordar outras questões de relações interpessoais, autoestima e postura diante da vida. Atende online e presencialmente na cidade de Belo Horizonte.

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