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  • Superando limites: a vida improvável de Stephen Hawking

    "A Teoria de Tudo" desperta reflexões sobre a capacidade humana de vencer desafios

    Atualizado em

    Extraordinária. Assim se pode resumir a experiência que o filme de James Marsh, “A Teoria de Tudo”, provoca ao apresentar a vida improvável do físico Stephen Hawking e de sua mulher Jane. Extraordinária porque está fora do que nossas vidas mundanas geralmente nos apresentam, está além, inclusive, de muitas vidas imaginadas. Em princípio, muitos desejariam ser um cientista de renome, mas quem desejaria a vida de Stephen, com toda a magnitude de seus desafios?

    O filme, classicamente britânico no tom das relações, vestimentas, arquitetura e personagens, cativa logo de cara quando resolve colocar em destaque o nascimento do romance entre o físico e a mulher, e segue nos encantando com a surpreendente dedicação de Jane, a superação diária de Hawking e as dádivas inesperadas, como os três filhos do casal. Vendo Stephen naquela cadeira, cada vez com menos possibilidades físicas, e ao mesmo com a quantidade admirável de realizações acontecendo em sua vida, resta ao expectador se render ao mistério do universo.

    Vendo Stephen naquela cadeira, cada vez com menos possibilidades físicas, e ao mesmo com a quantidade admirável de realizações acontecendo em sua vida, resta ao expectador se render ao mistério do universo.

    Não há resposta racional que nos leve a enquadrar a vida deste fenômeno dentro de limites que compreendemos. Hawking parece ter vindo justamente para romper e questionar os limites existentes.

    Uma curiosidade de sua biografia não abordada no filme é que ele, ainda jovem e antes do diagnóstico da doença degenerativa (Esclerose Lateral Aiotrófica), fez uma viagem de férias e passou por terremoto gravíssimo, no qual houve 12 mil mortes. O milagre: Hawking saiu quase ileso do episódio.

    A arte do cinema e a magia da vida real

    Ressaltando os trejeitos, o humor inteligente e as ideias intuitivas de Stephen Hawking, o ator Eddie Redmayne nos deixa perplexos com uma atuação irretocável ao longo de toda a filmagem da história, que vai tornando a vida do físico cada vez mais limitante, e, portanto, exigindo do ator maior trabalho de corpo. Um espetáculo que consagrou Eddie Redmayne como vencedor do Oscar na categoria Melhor Ator.

    O diretor teve muita sensibilidade ao romancear aspectos da biografia de Hawking, apresentando uma elegância e sutileza na relação entre o físico e a mulher, que chegam a se apaixonar por outras pessoas durante o casamento, preservando, ainda sim, o respeito e a amizade. Neste ponto, a arte do cinema pode tornar a magia da vida real ainda mais pungente. A personagem abnegada, a esposa Jane, se humaniza quando se apaixona pelo músico Jonathan, já que aos olhos comuns seria quase impossível alguém dedicar tanto de si, sem requerer nada da vida.

    E em meio a isso tudo, as teorias sobre a origem do universo vão desenhando uma celebridade. Stephen Hawking, o rapaz desajeitado pelo qual nos encantamos no início do filme, desabrocha atingindo multidões ávidas por conhecimento. Buracos negros, a história do tempo… A “Teoria de Tudo” é, na verdade, uma película sobre a grandiosidade da vida, com desafios gigantes em busca de soluções geniais.

    O longa convida todos a refletir sobre os próprios limites e capacidades, lembrando que é sempre possível ir além do inicialmente imaginado. O céu, afinal, não deve ser o limite, pois o ser humano já cruzou suas fronteiras. Não há nada que nos impeça mais de avançar que os limites construídos e mantidos por nossos pensamentos. Quando justificamos nossas desistências, desânimos e desilusões com pensamentos vitimistas, esquecemos do essencial em nossa condição humana: não há limites.

    Quando justificamos nossas desistências, desânimos e desilusões com pensamentos vitimistas, esquecemos do essencial em nossa condição humana: não há limites.

    Sejamos Hawking e Jane, nenhum desafio é maior que nossas capacidades.

    O adjetivo para finalizar a análise do filme poderia ser “divino”, mas nesse caso poderíamos ofender uma história que trata de um físico ateu. “Espetacular”, porque a história nos traz a experiência real de um espetáculo. Ou, quem sabe, “magistral”, simplesmente. “Grandioso”, “sublime”, “absurdo”, “genial”… Todas estas qualidades se encaixam ao filme de James Marsh . Então, voltemos ao início desta resenha: “extraordinário”, porque está além das experiências ordinárias que cada um de nós ousa imaginar.

    Clarissa De Franco

    Clarissa De Franco

    Clarissa De Franco é psicóloga, com Doutorado em Ciência das religiões e Pós-Doutorado em Estudos de Gênero. Atua com Direitos Humanos, Gênero e Religião, além de ser terapeuta, taróloga, astróloga e analista de sonhos.

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