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Sensações que causam dependência

Entenda como a reação do organismo a certos estímulos pode levar ao vício

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Você já parou para observar a quantidade de emoções que nós vivenciamos ao ver um filme ou um programa de TV? Ao assistirmos a um filme, por exemplo, vivenciamos sensações e emoções transmitidas pela trama. Sentimos arrepio, o coração bate forte, suspiramos em uma cena romântica e levamos um baita susto quando algo repentino acontece em um suspense, não é mesmo? Nós sabemos que o que estamos assistindo não está, de fato, acontecendo, mas por que será que, ainda assim, reagimos física e emocionalmente a esses estímulos? Você já parou para pensar nisso? E já imaginou o que essas emoções podem estar criando em seu corpo? Então eu os convido, nesse momento, a refletir um pouco sobre isso. Vamos lá?

Para o cérebro, tudo o que vemos é real

É importante sabermos que o que nossos olhos veem, o cérebro codifica como real. Todas as imagens que vemos ou imaginamos vão para o lobo occipital, a região do cérebro onde se processa a visão, perto da nuca. Desta forma, o cérebro não diferencia o que você está realmente vivendo. Não importa se é uma imagem, uma real situação ou uma imaginação ou lembrança – todas essas cenas visuais acionam a mesma área cerebral, não havendo diferenciação. Ou seja, para o seu cérebro, aquilo que você está assistindo está de fato acontecendo com você. Você pode ter a consciência de que é uma ficção, mas o cérebro codifica como real e reage quimicamente.

para o seu cérebro, aquilo que você está assistindo está de fato acontecendo com você. Você pode ter a consciência de que é uma ficção, mas o cérebro codifica como real e reage quimicamente.

Por isso que tanto um acontecimento real quanto uma história ficcional induzem o nosso sistema nervoso a produzir uma química que imediatamente vai para a corrente sanguínea, quase sempre sem que percebamos. Estamos o tempo todo produzindo emoções, das mais suaves às mais fortes, por meio de todo o tipo de situação. Por exemplo: quando estamos diante de um possível acidente, sentimos o amortecimento que a adrenalina produzida nos traz, e mesmo quando vemos determinada cena em um filme ou programa, nosso corpo também reage àquele estímulo, provocando sensações físicas. Pode ser o esperado beijo de um casal, que estamos torcendo para ficar juntos e que nos emociona, faz suspirar, chorar e sentir aquele calorzinho no peito. Ou talvez uma cena de suspense, cuja trilha sonora nos alerta de que algo ruim vai acontecer e torna a respiração mais curta e contida, e o corpo mais imóvel e tensionado. Já quando algo repentino acontece, vem o susto – o coração bate forte e a adrenalina dispara. Ao ver essas cenas, o cérebro codifica tudo como real e envia comandos relacionados àquele tipo de situação para o corpo, levando-o a se preparar para a defesa ou gerando sensações de prazer e deleite.

Exposição contínua ao estresse pode viciar o organismo

A questão é que, com a repetição contínua de certo estímulo, nossas células começam a se viciar naquele tipo de sensação – seja ele bom ou ruim. E, assim, passamos a sentir cada vez mais necessidade de sentir aquilo novamente, mesmo que inconscientemente. Quanto mais assistimos a um filme de terror, suspense ou romance, mais alimentamos nossas células com aquele tipo de sensação provocado e mais queremos assistir àquele determinado gênero. Assim, nos viciamos e ainda reforçamos o vício naquele sentimento proporcionado, de tal modo que o nosso corpo vai se acostumando com aquelas instruções. O corpo passa a traduzir a produção daquela química como algo natural, como se precisasse da reação desencadeada para viver. Desta maneira, acabamos sempre buscando situações que atendam às nossas necessidades químicas.

Olhando mais amplamente, entendemos que isso acaba esbarrando em toda a nossa vida. À medida que viciamos nosso corpo a alguma emoção, acabamos por repetir aquele padrão cada vez mais, fazendo com que as células fiquem dependentes daquela química.

Isso acontece no nosso dia a dia, com as nossas vivências e experiências. Vamos imaginar, por exemplo, que você esteja vivendo momentos de estresse contínuos. Em tais períodos, é comum ocorrer um aumento da pressão sanguínea, como uma reação do corpo àquele tipo de situação e sentimento. Com a repetição constante desses momentos de estresse, o corpo entende que a pressão alta é natural e regula-se para permanecer nessa condição. Assim, você acaba se viciando no estresse, pois o corpo pede a química liberada por tal situação, e, consequentemente, acaba reagindo de maneira estressante diante das situações do dia a dia.

Então, pare um pouco e reflita. O que você tem visto? O que você tem vivido? Que tipos de situação e atitude diante da vida você costuma repetir?

Claro que tudo que é radical, não é saudável. Não estou aqui para levantar a bandeira do “assista apenas aquilo que te proporcione sensações agradáveis”, até porque, atualmente, é muito difícil nos depararmos com uma história tão leve a ponto de não causar nenhum tipo de sentimento ruim ou angustiante. De certa forma, já estamos viciados no sofrimento, tanto que a mídia muitas vezes o utiliza como um atrativo para impulsionar vendas.

Autoavaliação ajuda a romper padrões e fazer escolhas conscientes

A escolha consciente, por outro lado, é sempre uma boa opção. Que tal observar melhor como você se sente diante das situações e dos programas que assiste? Que tipo de sentimento você tem reforçado em si mesmo? Quais situações e sensações você tem colocado em suas células? Depois de responder a essas questões, tente exercitar uma percepção mais apurada de si mesmo, tomando decisões mais conscientes. Para quem quiser se aprofundar mais no assunto e entender melhor como isso tudo funciona, recomendo o filme “Quem somos nós”, por ser bem didático, divertido e simples.

Para continuar refletindo sobre o tema

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Luisa Restelli

Luisa Restelli

Psicóloga, Psicoterapeuta Corporal e Consteladora Familiar Sistêmica. Realiza atendimentos individuais e de casal no RJ e online e ministra grupos terapêuticos e palestras.

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