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As mulheres e suas madeixas

A íntima relação entre o feminino, os cabelos e as emoções

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Podemos não saber explicar o como nem o porquê, mas é fato: as mulheres têm um tipo de relação especial com os cabelos. Vale refletir sobre essa relação por vezes ambivalente entre o ódio e o amor, com nuances de apego, nostalgia e alguns exageros.

Existem muitos fatos curiosos e fábulas em torno da relação das mulheres com suas madeixas. No Brasil, temos a curiosa história das perucas da corte portuguesa ao chegar ao Brasil, que na verdade estavam ligadas a uma infestação de piolhos que obrigou a todos a ficarem carecas. Para esconder as cabeças peladas, usaram as perucas e estas viraram sinal de nobreza. Outras imagens nos remetem ao papel especial dos cabelos: a crença na Idade Média de que cabelos ruivos eram sinal de atividades diabólicas, Madalena que enxuga os pés de Jesus com seus longos cabelos, Rapunzel e suas longas tranças que permitem que o amado a alcance, e por aí vai. Variam os costumes de acordo com a época, classe social, cultura local e muitos outros fatores.

Tendências, modismos e sentimentos

No verão a cor do momento é o louro, no inverno os tons mais quentes e lá vamos nós alternando as cores. Ora a prancha é a vedete tornando os cabelos ultralisos, ora todas querem os cabelos ondulados. Copia-se a franja da Fulana, as mechas da Beltrana e o penteado da Siclana. Se formos seguir tantas tendências, acabaremos voltando à moda da peruca!

Alguns modismos fazem de nós escravas. Quem tem cachos quer domá-los como se fossem feras perigosas, quem tem cabelo escorrido quer volume, cria-se um ideal que é sempre aquilo que não está em nós. Cabelo bonito é o que deu trabalho para ser construído, esculpido e vamos maltratando o coitado.

Que existe relação entre o que sentimos e como reagimos aos nossos cabelos, ah, existe! Nos Estados Unidos existem duas expressões interessantes: “good hair days” (dias de cabelo bom) e “bad hair days” (dias de cabelo ruim) para expressar de um lado os dias em que estamos de bem com a vida e de outro aqueles dias em que estamos de “cabelo em pé”, ou seja, de mal humor, de mal com a vida. Assim como o modo como nossos cabelos estão influenciam nossas emoções (é um enorme desafio manter o bom humor se os cabelos que amanhecem rebeldes e com vida própria decidindo ficar pra cima!), a recíproca é verdadeira, e nossas emoções influenciam diretamente o estado dos cabelos

– e de tudo mais em nosso corpo.

Mudanças refletidas nos cabelos

Quantas de nós não se pegou querendo mudar o corte ou a cor ou a maneira de ajeitar as madeixas ao viver alguma mudança na vida? Algumas defendem que o término de um relacionamento é campeão entre os motivos para se procurar um salão de beleza com urgência! Em período de baixa emocional tem gente que desleixa dos cuidados. Em alguns casos os cabelos até passam a embaraçar mais e refletem a desordem que está dentro da cabeça. Sintoma comum em momentos de preocupação e estresse: queda de cabelos! “Cabeça quente”? Lá vêm as casquinhas brancas da caspa. Há quem desenvolva sintomas de tricotilomania, que consiste em arrancar os próprios cabelos, onde a pessoa é motivada por um impulso irresistível e os sintomas estão ligados a preocupações, pensamentos repetitivos, estresse. A lista de sintomas é extensa, muitos deles ligados a componentes emocionais causadores, mas que não excluem a busca por ajuda profissional para tratar: dermatologistas e psicólogos podem contribuir bastante, tratando os resultados sem deixar as causas de lado, pois do contrário, os sintomas voltarão.

Mas não só através de adoecimentos nos ligamos aos nossos cabelos. Já reparou também que cabelo e pele ganham mais viço quando estamos de bem com a vida? Se estamos com a autoestima em alta nos cuidamos melhor, nos alimentamos melhor, nossa imunidade fica em dia, nossa mente funciona melhor e se estamos em contato com nossa alma, não é necessário que nosso corpo apresente sintomas para lançarmos atenção ao que é importante dentro de nós. Se já nos cuidamos, não serão necessários novos sinais para ficarmos atentas ao autocuidado.

Além dos rótulos

Como anda a sua relação com essa parte de seu corpo que contorna sua expressão, retrata sua saúde, expressa sua feminilidade para o mundo? Curtos, longos, lisos, crespos, ondulados, grisalhos, pintados, escuros, claros, volumosos, finos: mais que rótulos, mais que atender às expectativas dos outros, importa sentir que essa parte de nós está em congruência com quem somos. Nossos cabelos fazem parte de nosso corpo e da expressão de nossa personalidade. Eles expressam a beleza do feminino, seja nos longos que nos emolduram e nos vestem, seja nos curtos que ressaltam os traços de nossa beleza, seja no nosso movimento de cortar para acompanhar novos tempos, seja no nosso ato de permitir que seu crescimento flua. Importa sentir nosso corpo e o contato dele com nosso mundo íntimo. Dar atenção aos cabelos pode ser um princípio, mas eles são só parte desse quadro tão cheio de ricos e impressionantes detalhes composto pelo corpo e pela alma feminina. Preste atenção em seus cabelos, veja o que eles dizem sobre você. Aproveite e note também suas unhas, suas curvas, seus olhos… Se veja por inteiro e se cuide, mulher!

Juliana Garcia

Juliana Garcia

Escritora, criadora, consultora, psicóloga, psicodramatista. Seu trabalho gira em torno da Autenticidade e da Criatividade. Psicóloga graduada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), pós-graduada em Psicodrama pelo Instituto Mineiro de Psicodrama Jacob Levy Moreno. Cursou formações em Coaching pela Abracoaching e Condor Blanco Internacional. Foi professora do curso de pós-graduação em Psicodrama pelo Instituto Mineiro de Psicodrama Jacob Levy Moreno. Criadora de diversos cursos livres e conteúdos mais livres ainda. Contato: contato@julianaggarcia.com.br

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