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Por que você tem dificuldade de se amar e cuidar de si?

Sensação de não merecimento pode ter sido criada na infância, mas não representa sua verdade

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Você já parou para observar a maneira como cuida de si? Como gerencia seu tempo para esse cuidado e também seu lazer e prazer? O quanto você respeita seu corpo, seus limites e supre suas próprias necessidades? Muitas vezes, na correria do dia a dia, esquecemos das nossas necessidades básicas, deixamos para lá nossos sentimentos, angústias, cansaços, dores no corpo… Esquecemos até que temos um corpo! Muitas vezes esquecemos de nós mesmos. Vamos dando conta das tarefas diárias e nos atropelando pelo caminho.

Por que você só dá atenção aos problemas físicos, mas não aos emocionais?

Em algum momento o corpo cobra essa atenção, faz você parar de qualquer jeito para se olhar e se perceber. Infelizmente, estamos acostumados a dar mais atenção a manifestações físicas do que psicológicas.

Se estamos tristes, angustiados, ansiosos, com muitos medos, nos sentindo pressionados, inseguros, ou qualquer outra sensação emocional difícil, temos a tendência de não dar muita importância, naturalizando a situação.

Mas quando o corpo se manifesta em forma de doenças, a importância dada é outra, bem maior. Aí, sim, é aceito que você se recolha, que busque um profissional da área para te ajudar e que arrume tempo para se cuidar.

Às vezes, porém, nem os pequenos sintomas físicos ganham importância e, então, o corpo precisa lançar mão de uma estratégia maior para chamar sua atenção. Nessas horas vêm as doenças mais graves que lhe obrigam a parar e olhar para si mesmo. Mas por que não nos cuidarmos antes de chegar a este ponto? O que faz com que todo o resto seja mais importante do que você mesmo, seu bem-estar físico e emocional?

Não é egoísmo se colocar em primeiro lugar

É preciso um equilíbrio entre o “dar” e o “receber”. Quando damos demais e recebemos de menos, estamos priorizando o outro e nos colocando nesta posição diante da vida – seja esse outro um amigo, parceiro amoroso, parente ou até mesmo colega de trabalho. Ou seja, passamos por cima de nós mesmos, deixando nossas próprias necessidades de lado.

Pode até começar a parecer que nenhuma pessoa se preocupa com você e que não recebe nada delas porque ninguém se importa. Mas reflita: será que a sua postura de se deixar de lado, priorizando sempre o outro, pode estar passando uma imagem de autossuficiência que faz com que nem percebam que você precisa de algo?

Muitos me perguntam se não é um ato egoísta priorizar e cuidar de si mesmo, sem precisar colocar o outro em primeiro lugar e passar por cima das próprias necessidades.

Veja bem, egoísmo é querer alguém ao seu lado que viva só para você, em detrimento de seu próprio bem-estar. Se cuidar, se respeitar e colocar seus limites quando necessário é extremamente saudável e necessário para uma relação equilibrada e harmônica.

Isso não quer dizer que você não vai se importar com mais ninguém. Apenas significa que não vai ficar passando por cima dos seus limites, necessidades e bem-estar para agradar outra pessoa.

Você pode ajudar e fazer o melhor que pode, mas se deixar de lado e passar por cima de si mesmo para isso é diferente. Para tudo na vida é preciso equilíbrio e só conseguimos cuidar bem do outro se estivermos nos cuidando bem também.

Crenças negativas que você nutre a respeito de si podem ter aparecido na infância

Esse receber também está relacionado ao receber de si mesmo e seu autocuidado. Se perceber merecedor de cuidados e respeito, de um tempo para você, permitir-se ter prazer e lazer, e suprir suas próprias necessidades é essencial para uma vida emocional saudável.

Quando há uma dificuldade em se permitir olhar para si e se cuidar como precisa, é sinal de que nutre alguma crença interna, que diz que você não é merecedor desse cuidado. Essa crença é, geralmente, inconsciente, passando despercebida por baixo dos inúmeros “sim” que oferecemos aos outros e dos “não” que damos a nós mesmos.

Uma das possibilidades para compreendermos essa crença é olharmos para nossa origem e nossos primeiros anos de vida. Nós aprendemos a nos cuidar a partir da maneira com a qual fomos cuidados.

Nós aprendemos a nos cuidar a partir da maneira com a qual fomos cuidados.

É importante, primeiro, compreender e frisar que nossos pais fizeram o melhor que eles puderam e que não existem culpados nessa história. Nós, quando bebês e crianças, compreendemos o mundo de uma maneira ainda distorcida pela percepção limitada que temos.

Neste período, não temos ainda autonomia para suprir nossas necessidades básicas e, portanto, dependemos dos nossos pais para supri-las. Ao termos nossas necessidades atendidas, vamos internalizando a sensação de sermos amados.

Compreendemos que, se eu sinto fome e a comida vem, ou se eu sinto frio e sou aquecido, ou se me sinto desprotegido e então recebo um toque de cuidado e me sinto seguro, então eu sou amado e merecedor desse amor e cuidado.

Essa é a base do amor-próprio, da autoestima e da sensação de merecimento na vida. É claro que, ao longo da vida, isso pode ser ou não reforçado e outros episódios podem ocorrer, aumentando ou criando essa crença.

Muitas vezes, ainda estamos fixados em um estado infantil, acreditando que o outro precisa adivinhar as nossas necessidades e atendê-las, assim como a mãe precisa fazer com o bebê. No processo de amadurecimento, precisamos nos responsabilizar pelas nossas próprias necessidades e por supri-las, seja comunicando aquilo que necessitamos ou fazendo algo para nos prover.

Crianças que precisam cuidar dos outros não aprendem a se respeitar

Há também os casos de crianças que, desde cedo, são colocadas no papel de cuidadoras – dos irmãos, da mãe, dos avós… Crianças que invertem o papel com um adulto e não vivenciam o lugar de serem cuidadas, de receberem, o lugar que, de fato, pertence a elas. Nesses casos, também pode ser internalizada uma crença de não permissão do cuidado, tanto de si como dos outros para si. É aprendido apenas a estar no lugar de prover ao outro, passando por cima das suas próprias necessidades.

É aprendido apenas a estar no lugar de prover ao outro, passando por cima das suas próprias necessidades.

Estes também podem ser casos de não recebimento de cuidado, acolhimento e suporte, pois esse lugar de recebimento é invertido. Desta forma, geralmente crescem adultos que não sabem como se cuidar, se respeitar e se posicionar. Essas pessoas vivem para o outro e não para elas mesmas. Inconscientemente, isso também pode instaurar uma crença de não merecimento de cuidado e amor.

Autoestima tem relação com a maneira que você se sentiu cuidado na infância

Também quando bebês e crianças, aprendemos a nos reconhecer e saber quem somos a partir do que o outro diz de nós. Aquilo que dizem que somos vai sendo internalizado como verdade em nós e acabamos por acreditar que somos mesmo aquilo.

Se a ideia é negativa, podemos passar a vida com essa crença limitante dentro de nós. No processo de amadurecimento, precisamos nos emancipar disso e nos reconhecer diante daquilo que sentimos ser, daquilo que vem de dentro – e não de fora. Portanto, a autoestima tem muita relação com a maneira que sentimos o cuidado em nossa infância e as impressões que recebemos a respeito de nós mesmos.

Sensação interna de não merecimento é apenas uma crença criada, não simboliza sua essência

Muitas são as possibilidades que podem gerar padrões de comportamento e crenças negativas de baixa autoestima e dificuldade de autocuidado. Geralmente, esses padrões e crenças estão encobertos em nosso inconsciente e nós não nos damos conta de que eles existem.

Às vezes, percebemos suas consequências, mas não temos a percepção do que está gerando isso. Ao compreendermos o que traz esse comportamento de baixa autoestima e pouco autocuidado, percebendo as crenças que estão por trás deles, somos capazes então de transformá-las, ressignificá-las e mudar a maneira de nos posicionar. Passamos a ter consciência de que nos deixamos de lado e compreendemos que a sensação interna de não merecimento é apenas uma crença criada que não somos nós em essência.

Em um processo de autoconhecimento e consciência do que se passa dentro de nós, se torna mais fácil e viável transformar questões que não estão bem resolvidas em nossas vidas.

Dicas de autocuidado para aumentar seu amor-próprio

O autocuidado, em si, já é algo que pode ajudar a aumentar a autoestima. Quando estamos nos cuidando e nos permitindo receber carinho e atenção de nós mesmos, a autoestima é consequentemente estimulada e você passa a se sentir bem melhor. Alguns recursos podem ajudar:

Um recurso importante é o trabalho de autoconhecimento, o qual pode ser desenvolvido em uma psicoterapia, na qual será possível identificar essas crenças e padrões e ressignificá-las. O ato de pegar um tempo da sua semana para uma psicoterapia também, em si, já é uma ação de autocuidado, na qual você se propõe a ter um tempo só para si, para se cuidar e receber cuidado.

Outro recurso é cuidar da saúde física. Estar em dia com seu corpo, seus exames e consultas médicas que possa estar empurrando com a barriga.

Se alimentar melhor, com mais amor e afeto, também é um ótimo ato de autocuidado. Como muitos falam: “nós somos o que comemos”. De fato, a alimentação tem um efeito enorme em nosso bem-estar físico e emocional. Se nutrir de bons alimentos também é se nutrir bem emocionalmente. A ingestão do alimento tem uma grande ligação com a nutrição emocional.

Exercícios físicos que gerem prazer também são fontes de autocuidado e autoestima. É importante frisar que o melhor é fazer um exercício prazeroso, e não penoso. O corpo fica feliz ao se movimentar e isso gera uma enorme sensação de bem-estar com nós mesmos, além de ser também um momento de cuidar da saúde.

Outro recurso muito pouco falado e explorado, e que geralmente é recebido com estranheza pela falta de costume, é o autocarinho. Fazer carinho em si mesmo, tocar seu corpo, descobrir em qual região você sente mais aconchego ao ser tocado, se dar esse toque e afeto é um excelente estímulo.

Não temos o hábito de nos tocar, de conhecer onde gostamos de ser tocados, que tipo de carinho apreciamos receber e também como é o nosso próprio toque. Além de um recurso de autoconhecimento, é um exercício de acolhimento de si mesmo. Se abraçar, se beijar, se acariciar, se fazer um cafuné. Por que não? Experimente e verá. Isso gera bem-estar físico e emocional.

De início, pode haver estranheza, pode ser desconfortável por você não estar habituado com seu próprio corpo e toque e também com essa possibilidade de se permitir receber de si mesmo. Mas, experimente algumas vezes, sem pré-conceitos, se descobrindo, até ficar confortável, e observe os efeitos. Faça isso diariamente por 21 dias e veja como vai se sentindo. Se depois continuar sem fazer sentido para você, relaxe e pode deixar para lá, se quiser. Mas se perceber que faz sentido, inclua este hábito em sua rotina diária. Da mesma forma que toma banho e escova os dentes, por que não tirar um tempo também para se cuidar, se dar um carinho, fazer um toque em algum lugar cansado ou dolorido?

Você pode também comprar um sabonete gostoso e tomar um banho mais consciente, sentindo seu toque e o cheiro do sabonete, apreciando o momento. Ou usar um hidratante para ajudar a acariciar sua pele com suavidade e leveza ao passá-lo, fazendo aquele momento ser só seu.

São muitos os possíveis recursos para nos ajudarmos a estimular nosso autocuidado e autoestima. Cuidar da saúde emocional e física é essencial. Buscar lidar consigo mesmo com mais afeto, acolhimento e paciência, se respeitando e buscando compreender o que, no mais profundo, está por trás da autoestima baixa, para então trabalhar estas questões internamente, ressignificar as crenças e transformar os padrões de comportamento. Como digo às minhas clientes: É um processo, é um mergulho, mas é um reencontro com si mesmo, pelo qual você e sua vida tanto esperam.

Atendimento com a autora

Luisa Restelli, psicóloga e autora do artigo, realiza atendimentos presenciais e online e ministra grupos terapêuticos voltados ao autoconhecimento, autoestima e empoderamento da mulher. Contato: luisara.psi@hotmail.com

Luisa Restelli

Luisa Restelli

Psicóloga, Psicoterapeuta Corporal e Consteladora Familiar Sistêmica. Realiza atendimentos individuais e de casal no RJ e online e ministra grupos terapêuticos e palestras.

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