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Por que o desejo sexual diminui no pós-parto?

Entenda causas e tratamentos para baixa libido depois da gravidez

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A inibição do desejo sexual no período pós-parto tem levado uma parcela considerável de mulheres e casais a investigar sua origem e a buscar tratamento em consultórios de psicoterapia sexual. De maneira geral, quando pensamos em resposta sexual humana, consideramos que o desejo é o primeiro passo para que a prática sexual aconteça de modo satisfatório. Sem desejo, dificilmente há atividade sexual com possibilidade de prazer. É o desejo que nos impulsiona a buscar a excitação, o orgasmo e a resolução sexual. Sem ele, o homem e a mulher não se sentem disponíveis para o sexo.

Várias são as causas que explicam a falta do desejo sexual e estas são essencialmente individuais, pois é a história de vida de cada um que modela seu comportamento sexual no presente. No entanto, quando focamos no período pós-parto, percebemos que a sexualidade da mulher, em especial, pode ser fortemente influenciada pelo contexto cultural em que ela se insere, sua experiência antes e durante a gravidez, sua fisiologia e suas emoções. Assim, causas específicas para a falta de desejo sexual incluem desde alterações orgânicas e fisiológicas no corpo da mãe, até mudanças psicoemocionais decorrentes da chegada do bebê.

As alterações de desejo sexual no período pós-parto podem não ser tão fáceis de serem encaradas e refletidas pelas mulheres – e pelo parceiro. Porém, problemas sexuais são comuns e a ajuda do profissional da saúde que os assiste é fundamental para analisar cada caso e orientar, segundo suas próprias necessidades.

Mudanças no corpo, atenção ao bebê e sensações de medo podem diminuir libido

Muitas vezes, a mãe sente a busca de sexo pelo parceiro como uma invasão de privacidade, por não se reconhecer no corpo ainda em mudanças. A mulher entende que não está na sua melhor fase corporal, pois sua forma física ainda indefinida entre a gravidez e a pós-gravidez a faz sonhar com sua silhueta anterior, que ainda demorará a chegar e, portanto, lhe causa estranheza, vergonha, rejeição e, consequentemente, coloca abaixo sua autoestima. Somam-se a este cenário as mudanças hormonais que continuam por um tempo após o parto. Certas mulheres chegam a pensar que lhes faltam integridade anatômica e fisiológica, além de equilíbrio psicossocial.

Além disso, a mãe, que quando grávida tinha a atenção de todos e era considerada de uma beleza quase divina, se vê agora como coadjuvante apenas, pois o centro passou a ser o bebê, que preenche a vida do casal, atrai todos os olhares e merece todos os cuidados e dedicação dos familiares.

Outro fator que pode contribuir para a falta de desejo sexual pode ser o medo arquetípico, inconsciente ou não, de engravidar novamente – os animais quase nunca têm relacionamento sexual enquanto os filhotes estão pequenos. Trata-se do movimento inerente da natureza, que permite a recuperação completa do organismo da fêmea antes da próxima gravidez.

Sensações de medo do fracasso de ser mãe e o constrangimento pela própria falta de desejo também rondam a dimensão psicoemocional da mulher, trazendo-lhe crises depressivas que podem agravar ainda mais o quadro de desinteresse sexual no período pós-parto. É importante cultivar a alegria e a dádiva de ser mãe e não se perder em pensamentos negativos e inseguranças. A realização de ser mãe e esposa é altamente estimulante e se traduz em autoestima e autoconfiança renovadas, o que é profundamente sedutor.

De qualquer modo, a inibição do desejo sexual no período pós-parto deve ser entendida como uma questão a ser tratada pelo casal, pois não deve ser atribuída a desinteresse pessoal pelo parceiro, mas a fatores intraorgânicos, isto é, a mudanças internas no organismo da mulher e a outros, externos, como o cansaço decorrente dos cuidados com o recém-nascido em tempo integral e a insatisfação e o desconforto com o corpo.

Estudos apontam que desejo sexual não é espontâneo na mulher

Precisamos considerar ainda as pesquisas recentes em Sexologia, que indicam um modelo de funcionamento sexual feminino, como a realizada pela Associação dos Profissionais de Saúde Reprodutiva dos USA (Association of Reproductive Health Professionals). Estes estudos apontam que o desejo não ocorre de modo espontâneo na mulher, como acontece com o homem. Isso porque, em vez de estímulos visuais e fantasia sexual para desencadear excitação, a mulher encontra motivação na busca de intimidade, de acolhimento e de carinho, podendo, assim, responder ao sexo. Com exceção do início de um novo relacionamento, em que o desejo sexual pode ter a mesma intensidade para ambos os sexos, após o período da paixão, a motivação sexual feminina passa a depender de gratificações e promessas que podem não ser sexuais, mas superam a importância do desejo ou da necessidade biológica de ter sexo.

No período pós-parto, as gratificações são motivadas pelo bebê, gerando um compromisso com a maternagem. Comparativamente ao apelo sexual, isso é bastante desleal, pois envolve entrega cuidadosa e amorosa da mãe, com promessa de recompensa de intimidade emocional com seu filho, incomparavelmente maior.

É bom lembrar que mãe e pai são, antes de tudo, mulher e homem. Portanto, os novos papeis são importantes, mas não são únicos. Há casais que passam a se tratar como “mãe” e “pai”, que simbolicamente traduzem o esquecimento da dimensão de amantes, na qual tudo começou. O namoro é muito importante na fase pós-parto, pois pode haver ainda desconforto que impede a prática sexual com penetração. Nesses casos, a demonstração de carinho pode manter acesa a libido do casal. Contribui para isso a experiência de acomodar o recém-nascido em seu próprio quarto, ao invés de mantê-lo na mesma cama que os pais, por exemplo.

Os cuidados da mãe com o bebê aumentam a cada dia, até sua dedicação em tempo integral, o que gera enorme satisfação e igual cansaço físico e emocional. Quando, finalmente, a mamãe consegue algum tempo para si própria, está tão cansada que tem apenas uma intenção: descansar… É preciso tomar cuidado para não deixar o parceiro de lado e aqui vale desde um carinho inesperado até um momento íntimo, como um jantar ou um banho relaxante a dois, para repor as energias gastas na aprendizagem dos parceiros sobre os cuidados com o bebê e com os novos papeis de mãe e pai.

Durante o período pós-parto, gradativamente, a mãe vai se recuperando das modificações que o seu corpo sofreu na gestação. Seu organismo necessita de um tempo específico para se recuperar da gravidez e do próprio parto. Os médicos recomendam a abstinência sexual entre 4 a 6 semanas após o parto, justamente porque este é o tempo mínimo necessário para que o sistema reprodutor feminino restabeleça seu equilíbrio.

No entanto, estudos apontam que este tempo pode se estender até por um ano, já que mudanças hormonais ainda estão em curso nesse período pós-parto, podendo causar diferenças na resposta sexual da mulher, levando, inclusive a um desequilíbrio que se reflete em várias dimensões da sua vida. De qualquer modo, é preciso lembrar que cada mulher tem seu próprio calendário e responde sexualmente de acordo com as influências socioculturais do meio em que se insere.

Período da amamentação pode desviar mulher do papel de amante para o de mãe

Hoje em dia, práticas tradicionais, como a amamentação nos primeiros seis meses de vida do bebê têm sido resgatadas por mulheres que buscam a qualidade de vida de seus filhos a longo prazo. Além disso, a prática da amamentação traz em si um empoderamento à mulher, que se sente fortalecida na missa de co-criação, geração e preservação da vida. Este fortalecimento desvia a mulher de seu lugar de amante para o lugar de mãe.

Durante a amamentação, há liberação da prolactina, necessária para a produção do leite materno, ao mesmo tempo em que os níveis do hormônio estrogênio são diminuídos. E como esta é uma das substâncias responsáveis pelo equilíbrio da libido da mulher, a mesma pode ser afetada.

Assim, a retomada da prática sexual após as semanas de abstinência, deve ser delicada e gradual, com ênfase nas preliminares, pois a queda de estrogênio pode provocar diminuição da lubrificação vaginal, sendo relativamente comum a mulher sentir dores na penetração. Explorar jogos sexuais com carícias nas zonas erógenas do parceiro, práticas sexuais orais e o estímulo de fantasias sexuais a dois são ótimas opções para esta fase de readaptações, com a presença do bebê no lar. Além disso, recomenda-se o uso de lubrificantes vaginais tópicos ou à base de água para atenuar o ressecamento vaginal e reduzir o desconforto durante a penetração.

Uma vez que a mulher volta a menstruar, em geral após o período da amamentação, os níveis hormonais tendem a normalizar, melhorando a secura vaginal e a libido em geral, e a mulher volta a sentir desejo e prazer.

O importante é que, consciente disso, a mulher passe a cuidar não somente do bebê que chegou, mas de sua autoestima, de suas emoções, do seu corpo e do seu amado, para despertar novamente o encanto e a erotização no relacionamento do casal.

Manter um diálogo aberto com o parceiro sobre a prontidão da mulher para o sexo é certeza de sucesso para o restabelecimento da prática sexual. Autoconhecimento também é fundamental. A mulher precisa dizer como se sente, explicar quais as mudanças pelas quais está passando e por que elas são características desse momento específico. Para isso, ela própria precisa entender o que está acontecendo consigo.

Qual é o papel do parceiro na nova rotina familiar?

Por sua vez, o homem também precisa expressar seus sentimentos. Muitas vezes se sente esquecido pela parceira, que dedica-se integralmente ao bebê, o que faz com que sinta ciúme do próprio filho. Pode ainda enxergar sua mulher apenas como a mãe de seu filho, dando-lhe o devido respeito, mas que o distancia daquela que era também sua amante.

A nova rotina da casa, com ocupações até então desconhecidas, as inseguranças geradas pelo novo papel de pai e o próprio entendimento sobre o momento da mulher também podem ser o suficientes para afetar o desejo sexual do homem. Esta é uma grande oportunidade para que o parceiro amadureça junto com sua companheira. Não é raro que o homem compare o corpo da amada antes e após o parto. Esta é uma manifestação que inibe a mulher, interfere em sua autoestima e prejudica a convivência do casal, não somente sexualmente. A mulher pode, até inconscientemente, deixar de dar-lhe atenção por não perceber qualquer gratificação em sua direção.

O homem que souber manter o fluxo afetuoso da relação e entender pacientemente que o período pós-parto pode ser a possibilidade de estreitar o companheirismo com sua parceira, atingirá a potencialidade do recomeço de um novo tempo. Assim, ele será tratado com respeito e devoção, pela promessa de intimidade emocional que nela despertou.

O afeto e cuidado do parceiro, compreendendo essa fase como natural e assumindo as tarefas com a mãe, têm efeito sedutor para ela, o que pode despertar novamente o seu desejo sexual, pois são atitudes entendidas como gratificações. É uma nova fase da conquista da mulher, pelo homem atencioso e dedicado que investe no relacionamento. Esta cumplicidade é igualmente importante para o desenvolvimento saudável do filho que chegou.

Por isso, o hábito de trocar ideias de como o casal pode resguardar o espaço sagrado da relação amorosa e sexual deve ser cultivado antes, durante e após a chegada dos filhos. Sintonia, união e companheirismo são os valores desse tempo de abraçar, beijar e acolher o momento do outro. Interação íntima e, ao mesmo tempo, respeitosa… Um vir a ser que descortina a promessa de satisfação emocional e sexual e de intensidade amorosa.

Antonieta Mazon

Antonieta Mazon

Química, pedagoga, mestre em Educação, pós-graduada em Sexualidade e Psicologia, e orientadora sexual. Faz palestras e escreve artigos sobre educação, família e sexualidade.

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