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Por que ficar com o papel de amante?

Aparente segurança e independência afetiva pode esconder medo de sofrer numa relação convencional

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Os seres humanos são, por natureza, um tanto quanto possessivos, sobretudo quando se trata de relacionamentos afetivos. Porém, a posição de amante em um triângulo amoroso contradiz essa tendência, afinal, como alguém consegue dividir seu amor com outra pessoa?

No último artigo, refletimos sobre o amor platônico – a paixão por uma pessoa inalcançável, o amor impossível de ser concretizado, aquele que escolhemos viver de maneira idealizada dentro de nós mesmos, em nossas ilusões. Se pensarmos bem, o papel de amante guarda um quê de amor platônico, afinal, ainda que seja uma relação vivenciada no mundo real, possui esse caráter incompleto, dividido, não exclusivo, representado pelo namoro ou casamento em que o outro está.

Lógica do amante é a mesma do pessimismo

A necessidade de um amor concreto obviamente nos atrai para vivê-lo, porém, inseguranças pessoais como medo de rejeição e abandono nos impulsionam a fugir das relações, criando uma batalha entre forças contrárias dentro de nós: o desejo genuíno do amor e o medo de nos entregarmos a ele. No entanto, mesmo com medo e vontade de fugir da rejeição, vivenciamos justamente uma situação que nos coloca mais perto daquilo que tememos. É o meio do caminho entre um extremo e outro: viver um amor platônico, presente apenas na ilusão de quem ama, e experimentar um amor real, assumindo livremente uma relação. Mas por que escolheríamos ficar no meio do caminho?

Viver uma relação cuja probabilidade seja mais definida, mesmo que baixa, pode ser inconscientemente mais seguro do que apostar em um relacionamento afetivo sem impedimentos. É como se nos sentíssemos mais confiantes ao entrarmos preparados para o pior – afinal, se algo ruim acontecer, pelo menos nós já esperávamos por isso, de alguma forma. Um exemplo no âmbito material seria uma enorme vontade de ter mais dinheiro, mas escolher a opção de ter pouco, pelo medo de perdê-lo ou não conseguir conquistá-lo.

Um exemplo no âmbito material seria uma enorme vontade de ter mais dinheiro, mas escolher a opção de ter pouco, pelo medo de perdê-lo ou não conseguir conquistá-lo.

Não queremos que falte dinheiro, mas isso se torna mais confortável do que enfrentar uma perda financeira ou o fracasso de sequer ganhá-lo.

De forma semelhante, o papel de amante pode significar a escolha por uma posição que não nos oferece tudo que desejamos, mas que em compensação representa menos riscos no âmbito emocional. O fato de que algumas pessoas afirmam ser o suficiente, sentindo-se bem como amantes, provavelmente ocorre porque não é preciso admitir o medo em torno disso.

Baixa autoestima e convenções sociais enfraquecem desejo de viver amor plenamente

A baixa autoestima pode nos fazer duvidar de nós mesmos, da nossa capacidade e do merecimento de viver uma relação afetiva plena. Por causa disso, não conseguimos enfrentar nossos medos e, consequentemente, enfraquecemos o nosso poder pessoal, pois reforçamos a convicção de que jamais poderemos superá-los. Isso diminui ainda mais a autoestima, pois nos condenamos pelo fracasso diante de tais medos, e assim por diante. Acabamos por entrar em uma espiral negativa, pois passamos a duvidar cada vez mais de nossa força, castigando-nos por não conseguir encarar a dor da rejeição ou do abandono.

Outro ponto é a força desse medo; ele pode ser bem mais forte do que o desejo de viver o amor. Claro que, na maioria das vezes, tudo isso acontece sem que percebamos. Inconscientemente, carregamos muitas crenças que surgem quando testemunhamos traições, que por sua vez desencadeiam as convenções sociais “homem não presta”, “casamento é uma prisão”, “relacionamentos são pesados e problemáticos” e “amor é sofrimento”, entre muitas outras que vão se acumulando em nós.

Isso se contrapõe ao nosso desejo genuíno de viver o amor com plenitude, o que se reflete nos relacionamentos afetivos na forma de orgulho, inseguranças e atitudes defensivas e até mais agressivas, além de outras distorções em nossa maneira de nos relacionarmos.

Trabalhar autoestima e poder pessoal ajuda a vencer medo

Todo esse conjunto de sensações pode prender-nos em uma armadilha, deixando-nos impotentes na posição de amante. Achamos que o que nos aprisiona é o triângulo amoroso, mas o que realmente prende é o medo, construído por memórias negativas que geram padrões de comportamento. Assim, o único meio de harmonizar tal questão – ou qualquer outro problema na vida afetiva – é justamente superar esses medos. E enquanto não fizermos isso, nossa vida nos trará justamente situações que nos confrontem com eles, nos desafiando a encará-los e vencê-los. Isso pode parecer assustador, mas, se pensarmos bem, é algo bastante encorajador, pois a vida nos traz continuamente oportunidades de sair deste caminho de enfraquecimento para entrar em uma espiral positiva de fortalecimento.

a vida nos traz continuamente oportunidades de sair deste caminho de enfraquecimento para entrar em uma espiral positiva de fortalecimento.

Tudo depende da nossa consciência e escolha diante das situações. Ou seja, não será por falta de oportunidades que não seremos felizes!

Para harmonizar a vida afetiva é preciso perceber quais são os medos, inseguranças e crenças que podem estar levando a viver o aprisionamento no triângulo amoroso. Um bom exercício para isso é fazer um trabalho de detetive de nós mesmos. Podemos descrever, delinear e mapear o relacionamento atual e os anteriores, como costumamos agir, nos sentir e pensar ao vivenciar as relações afetivas. É importante também descrever nossa relação com a mãe, com o pai e a maneira como enxergamos a relação afetiva dos pais. Isso pode ajudar a elucidar como se formou nossa estrutura e dinâmica afetivas e o quanto ela foi moldada pelo contexto familiar. Este esclarecimento será um primeiro passo no caminho de harmonização. Para aprofundar essas percepções, a orientação terapêutica pode ser de grande ajuda. Que tal começar?

Ceci Akamatsu

Ceci Akamatsu

Terapeuta Energética, faz atendimentos à distância pelo Personare. É a autora do livro Para que o Amor Aconteça, da Coleção Personare.

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