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#MeuAmigoSecreto denunciou abusos sofridos por mulheres

Campanha feita nas redes sociais revelou práticas machistas e criminosas

Atualizado em

NÃO!

Não me olhe desse jeito, com esse olhar que me constrange!

Não me ofereça balas num quarto escuro nem me convide para entrar porque eu sou uma menina. Eu não quero tocar você e nem ser tocada, porque algo dentro de mim diz que isso não é gentileza, não é camaradagem, não é simpatia e muito menos bondade. Isso não tem nada a ver com amor. Não abuse da minha inocência, não posso identificar um agressor.

NÃO!

Não me diga palavras grosseiras quando eu passo, isso apenas me provoca asco!

Não fale dos meus peitos, das minhas pernas ou da minha bunda. Estou descobrindo minha sexualidade e não quero confundi-la com vulgaridades agressivas. Eu não quero ouvir porque sei que não se trata de um galanteio, isso não faz com que eu me sinta lisonjeada, faz apenas com que eu me sinta envergonhada.

NÃO!

Não me diga o que vestir ou como me comportar, isso me provoca raiva, me sinto julgada!

Não tenho que cuidar de você e de suas taras, nem da sua falta de civilidade. Não é porque meu corpo aparece mais ou menos que você tem o direito de me abordar, de me seguir, me perseguir, me julgar. Nada lhe dá o direito de se aproximar de mim ou de me dirigir a palavra movido pela crença de que, porque sou mulher, posso ser subjugada por seu comportamento machista e sua mente involuída.

NÃO!

Não erga suas mãos para me agredir! Isso é crime!

Não abuse de sua força física para me submeter à sua covardia! Acaso provocar medo faz com que você se sinta mais “homem”? Não provoque minhas dores, que já são tantas e por tanto tempo! Não aniquile minha autoestima, não se aproveite da minha fragilidade, da minha vulnerabilidade.

NÃO!

Não me obrigue a fazer sexo com você. Não me force, não me submeta, não me machuque, não se aproveite do fato de eu ter bebido um pouco mais e estar sem condições de me defender. Não me ameace para obter o que quer, não me chantageie! Entenda que NÃO é NÃO! Se em algum momento eu disse NÃO, pare! Não insista!

NÃO!

Sou sua namorada, não sua propriedade! Não estou o tempo todo disponível para seus desejos. O fato de termos um relacionamento estável não lhe autoriza a forçar a barra, a desrespeitar a minhas vontades. Forçar a barra para fazer sexo quando eu não quero tem um nome: estupro! Não vou mais me calar, não vou mais me deixar conduzir pelo medo de suas agressões fantasiadas de ciúme.

#MeuAmigoSecreto deu voz às mulheres e encorajou denúncias e desabafos

São inúmeras as formas de subjugar meninas e mulheres pelo medo, pela coerção moral, pela força física, pela chantagem, pela persuasão sem escrúpulos. Nos últimos meses as redes sociais ficaram lotadas da hashtag #MeuAmigoSecreto, que abriu espaço para inúmeras denúncias de abusos sofridos por mulheres tanto na infância como na adolescência e fase adulta. #MeuAmigoSecreto revelou práticas machistas e muitas vezes criminosas das quais as mulheres são alvos há séculos e, por medo, vergonha ou insegurança, deixaram guardadas dentro de si.

Se as redes sociais são muitas vezes um depósito de agressões e violência, outras vezes são um canal aberto para dar voz a atrocidades sofridas, denunciar preconceitos, intolerância religiosa e, desta vez, entre tantos outros desmandos, #MeuAmigoSecreto representou para muitas mulheres a possibilidade de soltar o grito contra práticas machistas que estava contido na garganta. Foi um movimento catártico que despertou especialmente os jovens héteros do sexo masculino para a realidade vivida por tantas moças e mulheres. Foi uma denúncia escancarada de casos de pedofilia que puderam vir à tona graças à coragem das mulheres que não suportavam mais a imposição de um silêncio que maltrata, fere e desumaniza.

#MeuAmigoSecreto vem dizer que a vulgaridade contida em certos atos e expressões não serão mais aceitos. Vem pontuar que a luta feminista está mais viva que nunca! Encoraja denúncias, desabafos e não se importa em expor agressores.

Campanha representou fim do silêncio das vítimas

Vieram à tona inúmeros casos de abusos de pais contra filhas, com ou sem a conivência das mães; de estupros de namorados; de humilhações públicas; de atitudes irresponsáveis para com os filhos; de pais que seduzem amigas das filhas; de homens que seduzem garotas de 11, 12 anos, fazendo com que se sintam culpadas por não saberem o que fazer diante de sua sexualidade latente, porém emocionalmente imaturas; de garotos que despejam tranquilizantes em bebidas para depois violentar as moças, fotografar e exibir em redes sociais como se fossem troféus; de homens que pensam que porque pagam uma entrada de cinema ou um jantar a uma mulher estão comprando uma noite de sexo; de homens que se recusam a usar preservativos e dos que agridem a mulher que abre a bolsa e lhe oferece um; dos que se julgam no direito de oprimir, ofender, dilapidar a autoestima de uma mulher porque ela não apresenta a forma física de uma modelo.

Também vieram à tona os exibicionistas que deixam sua genitália à mostra para crianças em parques e praias; os comprometidos que dão em cima da amiga da mulher ou da madrinha do filho; os que dizem que mulher que toma a iniciativa não presta ou que mulher que entra na casa dele está querendo “dar”; que são gentis com todos os amigos, mas espancam a mulher e os filhos em casa; homens que querem filhos, mas não contratam mulheres porque elas engravidam; que se referem às mulheres como se fossem um utilitário.

Claro que #MeuAmigoSecreto não se resume apenas aos homens com relação às mulheres. São também os que discriminam gays, lésbicas e todos os que não são e não pensam como eles. O fato é que a cada dia aumenta o número de pessoas que decidiram não mais silenciar. O fato é que machistas, pedófilos, estupradores, abusadores e afins não estão mais tão protegidos como já estiveram no passado. Suas vítimas estão denunciando, se encorajando, desmascarando essas práticas hediondas e perversas, perdendo o medo e o constrangimento porque entenderam que são, sim, vítimas, e não culpadas pelas agressões sofridas.

Muitas dessas agressões deixam marcas, cicatrizes por toda uma vida. Incapacitam emocionalmente e socialmente e, por isso, tantas pessoas precisam de cuidados profissionais para superar os eventos nefastos a que foram submetidas.

Tomara que esta e as próximas gerações de homens entendam definitivamente que o comportamento machista está em decadência, que eles não fazem sucesso quando ignoram um “não” e que são criminosos, muitas vezes aos olhos da lei e de emoções feridas que deixam pelo caminho. Tomara que esses homens reflitam a respeito de todo o mal que causam e que também busquem ajuda profissional, caso se interessem por ajudar a construir uma nova cultura.

Mulheres, façam valer seu NÃO. Ninguém pode se sentir obrigada a fazer o que não quer só para obter uma migalha de atenção. Sintam-se especiais para vocês mesmas, tratando-se com generosidade, carinho, respeito e consideração. Não esperem amor e bons tratos de quem as humilha, agride e abusa de seus sentimentos. Não se esforcem para mudar o outro porque ninguém muda para satisfazer suas necessidades. Saiam de relações abusivas sem culpa, denunciem se for necessário, peçam ajuda caso ainda não se sintam fortes o suficiente para tomar uma atitude em seu favor.

E vocês, homens e garotos que não compactuam com essas práticas machistas, apoiem suas amigas e conhecidas. As mulheres agradecem.

Celia Lima

Celia Lima

Psicoterapeuta Holística, utiliza florais e técnicas da psicossíntese como apoio ao processo terapêutico. Presta atendimento também por meio de terapia breve com encontros semanais, propondo uma análise lúcida e realista de questões pontuais propostas pelo cliente objetivando resultados de curto/médio prazo.

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